A alma é a força de uma artista
Mulher simples e batalhadora, a artesã Bernadete Alves de Almeida transforma o dom de produzir tapetes e cortinas em sustento da família. Para ela, a maior alegria como artista é saber que suas peças são apreciadas por pessoas de todas as regiões do país.
Personalidade forte e, acima de tudo, talentosa. É assim, com poucas, mas expressivas palavras, que se pode descrever o jeito da artesã Bernadete Alves de Almeida, de 50 anos. Suas peças em tear chileno e brasileiro, com um toque rústico e de bom gosto, demonstram a alma de uma artista que, apesar das dificuldades, vem conseguindo ganhar espaço no mercado e conquistar admiradores de todas as regiões do Brasil.
Ainda jovem, aos 19 anos, Bernadete despertou para o artesanato. "Nasci em Esmeraldas, onde vivi até minha adolescência. Na época, minha irmã e eu trabalhávamos com bordado e ponto-cruz. Com a morte de minha mãe, tivemos que vender a casa e mudar para Betim. Diante das dificuldades, arranjei um emprego como vendedora e parei de produzir minhas peças artesanais", recorda.
Anos depois, já morando na cidade de São Joaquim de Bicas, a artesã teve a oportunidade de retomar o que mais gosta de fazer: tecer com as mãos. "Em 2006, fui convidada a fazer um curso de artesanato no Salão do Encontro, em Betim. Não perdi a chance que a vida me proporcionou e agarrei com unhas e dentes.
Lá, aprendi a trabalhar com tear mineiro, chileno, de sisal e de kilim. Depois, entrei para a Associação dos Artesãos de Igarapé, onde, a cada dia que passa, busco me aprimorar como profissional", conta.
Morando em uma casa simples, com seus dois filhos, Bernadete revela que o artesanato, para ela, é mais do que um dom ou uma terapia. "É uma forma de sustento. No começo, tudo foi muito difícil. Eu não tinha dinheiro nem para comprar os materiais. Comecei a produzir meus tapetes e minhas cortinas e passei a vender de porta em porta. Tinha gente que nem acreditava que era eu quem produzia. Mas, graças a Deus, sempre consegui vender muito. Hoje, pago as contas com minhas vendas", relata a artista, com um sorriso largo no rosto.
Apaixonada pelo que faz, Bernadete acredita que possui um dom de verdade. "Trabalhar com tear não é fácil. Requer habilidade e muita paciência. É um exercício de persistência. Qualquer erro pode transformar totalmente uma peça. Aí, é preciso desfazer tudo e recomeçar. Sempre busco inovar, fazer meu trabalho benfeito, com carinho e amor. Eu me dedico de corpo e alma à produção de minhas peças. E, como o público é muito exigente, temos que inovar sempre, criar produtos diferenciados. Não é como fazer arroz e feijão todos os dias.
Acredito que minha inspiração vem de Deus. É ele quem conduz minhas mãos", salienta. Apesar de muitas pessoas acreditarem que a arte está mais ligada a áreas como a da escultura e da pintura, o trabalho feito pela artesã Bernadete com o tear é a prova de como a alma de uma artista pode se manifestar de outras maneiras, em outros setores.
Trabalhando cerca de seis horas por dia, a artista produz, em média, três peças diariamente. São tapetes peludos, gravatas de tear chileno, caminhos de mesa, cortinas e jogos de bandeja de mesas, tudo de encher os olhos de qualquer um.
Durante a entrevista, Bernadete deixa passar que sua maior satisfação é saber que os produtos que faz são apreciados por aí afora. "É gratificante saber que aquilo que produzo foi adquirido por uma pessoa que mora em outro Estado ou que meu trabalho está exposto na sala ou no quarto de alguém. Isso me faz sentir valorizada".
Colega e admiradora do trabalho de Bernadete, Zaira Rodrigues conta que a artesã está sempre disposta a melhorar seu desempenho. "Bernadete constantemente participa de cursos para aprimorar seu trabalho. Ela tem potencial e, com mais recursos, pode chegar longe", diz Zaira.