A guru das bananas

 

Idalice Silva Santos, 46, é um tipo raro de mulher. Vinda de Montes Claros, Norte de Minas, há 30 anos, para trabalhar, já fez de tudo um pouco na vida, sabão, plantação de verdura, comida congelada, representação comercial, vendas e enfrentou muitas dificuldades, segundo conta, inclusive cuidar dos dois filhos – (Tiago, 25, e Brena, 23), sozinha e passar fome. Mas foi justamente na cozinha que ela descobriu um meio não só de ganhar dinheiro, mas de crescer profissionalmente e ser referência no que faz: bananas desidratadas.

 

“Sempre tive muita criatividade na cozinha. Sempre inventava alguma coisa para fazer e ganhar dinheiro, até que, um dia, vi um anúncio vendendo um desidratador e então pensei: ‘Preciso fazer um curso de desidratação de alimentos. Comprei a máquina com a ajuda de um namorado da época e fiz o curso. Logo depois, já estava fazendo alguns produtos e vendendo. Meu carro-chefe era o tomate seco”, conta.

 

Segundo Idalice, há cerca dez anos, o preço do tomate subiu muito e, como o produto dela tinha um diferencial era sem pele e sem semente, seria oneroso continuar com a produção. Decidiu parar. Após uma pesquisa de mercado, Idalice percebeu que as bananas era o melhor produto com que trabalhar: tinha o ano inteiro, é tipicamente brasileiro e a entressafra é pequena. “Comecei a comprar bananas e não parei mais. Na época, encomendava cinco caixas da fruta; hoje, compro 160, o que dá uma produção de 10 kg por mês”, diz. As bananas-passa, como são chamadas, passam pelo processo de desidratação em máquinas próprias, são ensacadas e fornecidas a redes de supermercado e padarias da capital mineira. O produto de Idalice, segundo ela diz, é único, pois o processo de desidratação que ela adota, que não é o natural – no sol –, permite que os nutrientes da fruta se conservem. E, como a melhor propaganda é o boca a boca, alguém lá dos Estados Unidos já descobriu as bananas de Idalice e vai exportar o produto para revendê-lo. Segundo Idalice, depois de desidratadas, as bananas podem durar anos.

 

    Peculiar

 

Idalice tem uma rotina diferente. Ela acorda de madrugada, às 3h da manhã, não para trabalhar. Ela se levanta para ler, pois, além de gostar, acredita ser importante para seu crescimento pessoal. Faz isso até as 6h, religiosamente, todos os dias, exceto aos domingos. Depois, ela sai para caminhar, volta, faz um lanche, toma um banho e se debruça sobre as bananas. “Trabalho até umas 19h, tomo um banho e vou dormir. Adoro trabalhar. Mesmo que eu ganhe muito dinheiro, não vou largar as bananas. Tenho muita gratidão a elas”, reforça. Tanto que Idalice não desperdiça nada. Da terra, ela tira as bananas e a ela devolve utilizando as cascas como adubo. Além disso, sua última invenção, mais do que lhe dar lucro, também evita o desperdício. São os bombons e alfajors, nossa receita desta edição, feitos com as pontinhas das bananas desidratadas.

 

Foi com o dinheiro das bananas que Idalice ajudou a formar os filhos, que, ressalta, sempre a ajudaram. Tiago hoje é engenheiro de produção e Brena irá se formar em enfermagem. Além dos filhos, Idalice faz questão de citar a ajuda de amigos e da Sociedade São Vicente de Paula,entidade que realizada um trabalho muito sério na opinião dela. 

   

 Famosa

 

Idalice conta que já foi entrevista por vários programas de televisão. “Na página do Sebrae, em ‘Pequenas Empresas,  Grandes Negócios’, tem toda a minha história”, conta, orgulhosa. E ela quer continuar a crescer. “Meu objetivo é continuar trabalhando para juntar R$ 300 mil até meus 60 anos e comprar uma Hillux, meu carro dos sonhos”, revela. “A gente dá e faz o melhor que tem”, finaliza.

Alfajor: Atacado: R$ 2,50 / Varejo: R$ 3,50