A PEDAGOGIA DO PRAZER
POR DOMINGOS DE SOUZA NOGUEIRA NETO*
Quando você estudava e chegava o momento das férias, do fim de semana, dos feriados, ficava triste ou feliz? Quanto das disciplinas que você aprendeu na escola se tornou um guia indispensável para a vida e o resultado profissional que você conseguiu depois?
Se você sofreu por todo o período escolar, pressionado pelo tempo, pelo medo do fracasso, pela necessidade de notas e se lembra até hoje de situações de bullying, de professores que te constrangiam, de reprovações que aconteceram ou quase aconteceram, de noites de sono perdidas, tudo, para que quase nada do que aprendeu te servisse de norte nos passos da vida adulta, sabe do que estou falando.
Passamos metade da vida na escola e somos alimentados pela crença de que os sacrifícios que fazemos na vida escolar são a introdução, a preparação para os maiores que virão em nossa vida adulta. Então, só posso imaginar que temos que sofrer para sempre ou que só através do sofrimento podemos atingir a felicidade.
O ensino, na forma em que está estruturado não no Brasil, mas em todo o mundo, prepara para a disciplina, o esforço pessoal, a conquista através da luta e se mira na disciplina dos quartéis. Aliás, acho que o esporte também copia esse discurso.
Mas será verdadeira essa crença? Os grandes homens, cientistas, atletas, profissionais foram aqueles que superaram toda dor e todo sofrimento para conquistar objetivos ou foram aqueles que se apaixonaram por suas modalidades e delas extraíram tal prazer, que transcenderam todas as fronteiras para explorarem-nas além dos limites?
Puxem pela memória! Os melhores professores de que se lembram não são, afinal, aqueles apaixonados verdadeiramente pelo que ensinavam e por seus alunos?
Vou expressar minha opinião, minha crença em um método pedagógico fundado em um valor inicial – o “princípio do prazer”. Acredito em alunos entusiasmados por suas aulas e ansiosos para irem à escola; em professores especializados, bem-pagos, felizes com seus alunos e fascinados por suas disciplinas; na escola como um lugar de pluralidade e felicidade, onde valha a pena gastar o tempo de toda a meia-vida.
O ensino em que acredito é aquele que deixa memórias, saudades e lembranças, e não a vontade do esquecimento. Acho mais do que verdadeiros campeões esportivos que se dedicam ao esporte porque o amam e extrapolam limites por essa razão. Não são soldados ou mercenários.
Vejo em toda parte debates sobre métodos pedagógicos voltados para que alunos tenham que atingir metas de conhecimento neste ou naquele estágio ou que tenham que ser capazes de fazer uma análise crítica do mundo em que vivem, se têm de ser religiosos ou ateus, como devem tratar a própria sexualidade, como deve ser a inserção da família no espaço pedagógico... Mas falta, para mim, o principal: no fim, o que todos querem é se livrar da escola para participar de um mundo que alimenta a crença de que só há dignidade no sacrifício. Falta prazer na aprendizagem porque somos apóstolos do sofrer!