A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM.
Gosto das artes marciais pela paz e pela harmonia que trazem a quem busca equilíbrio, segurança e conforto. Lógico que não foram sempre assim e que surgiram como ferramentas de defesa e ataque. Assisti, como muitos, ao filme “O Último Samurai”, cuja trama foi inspirada na rebelião Satsuma, liderada por Saigō Takamori, em 1877, e na ocidentalização do Japão por potências coloniais.
Naquela época, o advento da arma de fogo tornava não só artes como o kenjutsu, o jojutsu, o jujutsu, o kiujutsu e o iaijutsu de eficácia duvidosa, como abalavam os valores do código de honra dos samurais contidos no Bushido. Isso porque, para essa classe guerreira, seguir o Bushido era dar ênfase à lealdade, à fidelidade, ao autossacrifício, à justiça, aos modos refinados, à humildade, ao espírito marcial e à honra, para, acima de tudo, morrer com dignidade.
Se me perguntarem sobre ser um samurai no século 21, vou dizer que, certamente, já não tem sentido andar pelas ruas com armas brancas, cometendo suicídios rituais em caso de grave desonra, buscando a justiça em duelos em que prevalecemos por nossas próprias razões.
No entanto, naquele filme, como agora, um grupo expressivo de pessoas, que buscam nas artes marciais valores que se esvaneceram em nossa cultura, é, de certa forma, guardião desses valores. Imagino que, com a sofisticação das armas, muitos afirmaram que seria o fim da era dos samurais. Pelas mesmas razões, no Ocidente, pode ter sido suposto que os ideais de cavalaria da Idade Média desapareceriam.
A revolução industrial e o Renascimento trabalharam com a suposição do desaparecimento do misticismo, da magia e do próprio sentimento religioso. A indústria farmacêutica trouxe a possibilidade do fim da alquimia, da homeopatia e dos remédios naturais. A queda do muro de Berlim e a desagregação da União Soviética fizeram com que muitos acreditassem na extinção do comunismo.
O que quero dizer é que nada que tem um conteúdo importante realmente se vai. Garimpamos o passado em busca de valores que queremos preservar, ainda que em parte, porque somos sujeitos da história, sujeitos românticos da história.