Betim: Um oásis para o empreendedorismo
ESTANDO NO RANKING dos cem maiores municípios do país, Betim se destaca como um polo industrial e de desenvolvi- mento nacional. Primeira arrecadação em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do Estado e segunda cidade mais rica de Minas Gerais, perdendo apenas para Belo Horizonte, o município possui hoje 378.089 mil habitantes.
Além de possibilitar um acesso fácil a várias regiões do Estado e do país, já que é cortada pelas principais rodovias do Brasil, como a Fernão Dias (BR-381), a BR-262, além da MG-050, da MG-060 e da
Via Expressa, a cidade conta com uma infraestrutura industrial portentosa, o que lhe confere credibilidade para atrair cada vez mais novos empreendedores.
Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Cleanto Pedrosa, um levantamento feito pelo Banco de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (BDMG) apontou Betim como uma das cidades com mais elevados níveis de acessibilidade do Estado, destacando-se como ponto estratégico para o escoamento e a circulação de produtos. "Em função disso, a cidade abriga vários centros de distribuição varejista, como Ponto Frio, Casas Bahia, Waltmart e supermercado Super Luna. É também sede de importantes transportadoras, como Patrus Transportes, Confis Transportes e Transpes", afirma. O parque industrial é ocupado por grandes indústrias, como a Fiat Automóveis, a Teksid do Brasil, a Magneti Marelli, a Denso do Brasil e a Refina- ria Gabriel Passos (Regap), da Petrobras.
Com média de produção diária de 3.200 veículos por dia, a Fiat ocupa a mão de obra direta de 18,5 mil profissionais. Desde que se instalou aqui, em 1976, a montadora já produziu mais de 12 milhões de automóveis. Depois de 36 anos de criação, segundo informou a assessoria de comunicação da montadora, os últimos investimentos da fábrica de Betim aconteceram entre 2007 e 2010, quando foram aplicados R$ 6 bilhões na infraestrutura do local. De acordo com a Fiat, até 2014, serão dispensados mais R$ 10 bilhões à montadora.
A receita do município estimada para 2012 é de cerca de R$ 1,5 bilhão. A cida- de possui em torno de 10 mil empresas, que geram, anualmente, quase R$ 526 milhões em ICMS. "Betim conquistou grandes empresas produtoras de bens de consumo e serviços, uma história incentivada pela presença pioneira, há mais de 70 anos, de siderúrgicas. A cida- de conta ainda com várias universidades e, recentemente, a PUC Betim foi cre- denciada pelos ministérios da Educação e da Saúde para sediar um curso de me- dicina", informa Cleanto Pedrosa.
A PLENO VAPOR
E mais empresas ainda estão por vir. Além de investimentos no setor de comércio e serviços, como a construção de dois grandes shoppings na cidade - o Metropolitan Garden, às margens da BR-381, e o Monte Carmo, na avenida Juiz Marco Túlio Isaac -, Betim vai abrigar, nos próximos anos, mais duas grandes empresas, que irão se instalar no maior distrito industrial privado do município.
O parque industrial da Log Commercial Properties, empresa de comercialização de imóveis da MRV Engenharia, foi lançado recentemente. O espaço, que conta 6 milhões de metros quadrados de área, receberá da MRV um investimento de R$ 500 mil. A instalação de duas importantes âncoras, a Toshiba e a Coteminas, já está confirmada. Segundo a Log Commercial, o condomínio industrial deve estar 100% em operação em 14 anos e, quando estiver totalmente implementado, deverá criar 68 mil empregos.
As obras do novo empreendimento da Toshiba, com aporte de R$ 100 milhões, iniciaram em janeiro do ano passado. A previsão, segundo o diretor-presidente, Robson Tadeu Lages Alves, é que, até fevereiro de 2013, a planta seja inaugurada. "O município tem demonstrado intenção de se manter entre os principais polos industriais do Estado. Cada vez mais, Betim procura diversificar seu parque industrial. Dessa forma, temos a expectativa de um bom desempenho no setor econômico, fabricando transformadores de potência em atendimento aos investimentos necessários para o fortalecimento da infraestrutura do país e da América Latina. Mais do que isso, esperamos influenciar positivamente o desenvolvimento social de todo o município", declara.
Outro segmento que vem atraindo cada vez mais investidores para a cidade é do setor imobiliário. Somente em três anos, segundo o secretário Cleanto Pedrosa, cerca de 10 mil novos empreendimentos do ramo vieram para a cidade.
Um dos empresários que vêm apostando no potencial da cidade no ramo imobiliário é o empreendedor Antônio Oscar Gonçalves Falcão, o Kaká. "Sou betinense e atuo no ramo de imóveis há 22 anos. Betim é uma excelente cidade para se investir. A valorzação dos terrenos que comercializo é altíssima e, o mais importante, em curto prazo. Quem aposta no município, com certeza, sai ganhando", salienta.
No início deste ano, Kaká lançou, na região do Bandeirinhas, um condomínio industrial voltado para cegonheiros e empresários que querem montar em Betim sua própria empresa. "Comercializamos 36 áreas, a partir de 5.000 metros quadrados, no local. No fim do ano, vamos também lançar um condomínio residencial de luxo na região do Açude. Estarão disponíveis para venda, no Estância Saraiva, 110 lotes com terrenos de mil metros quadrados cada um", conta.
Ex-prefeito da cidade, o deputado estadual Ivair Nogueira ressalta que a evolução econômica de Betim vai depender das novas administrações. “É preciso firmar parcerias para dar continuidade ao crescimento da cidade. Mesmo com a vinda de grandes empresas, com a construção de shoppings e empreendimentos imobiliários, e a criação de distritos industriais, como o da BR-262, estamos em um momento de pensar em parceiras, qualificação de mão de obra e geração de emprego. Só assim poderemos continuar na vanguarda da economia. Betim tem uma localização privilegiada, mas precisa atrelar investimento à qualidade de vida”, destaca.
Essa opinião é partilhada também pelo deputado federal e ex-prefeito do município Carlaile Pedrosa. Para ele, Be- tim é uma cidade de oportunidades. "A vinda da Fiat e da Petrobras alavancou o desenvolvimento da cidade. Betim tem uma localização privilegiada e, por isso, a perspectiva é de continuidade do cresci- mento, junto com as empresas. Mas, agora, é preciso ter o cuidado de provocar um crescimento com qualidade de vida para a população, através do desenvolvi- mento sustentável e da preocupação com a educação, a saúde e a segurança".
REDE HOTELEIRA
O município vai receber também, nos próximos anos, três grandes investimentos na rede hoteleira. Serão construídos um hotel ao lado do novo shopping Metropolitan Garden e outro próximo à Fiat Automóveis.
O terceiro empreendimento, a mais nova aposta do empresário Luiz Otávio Pôssas Gonçalves, proprietário da fazenda Vale Verde, será o condomínio de luxo EcoVillas Vale Verde. O complexo, com previsão de entrega antes da Copa de 014, contará com um sofisticado bulevar, além de um resort spa de 240 quartos.
Apesar de não morar em Betim, Pôssas diz que acompanha a evolução da cidade há mais de 40 anos. “Vi o município ainda agrícola e, aos poucos, se transformar no que é hoje, um dos maiores polos indus- triais do país. Comecei atuando aqui na produção de gado leiteiro. Com o progresso da cidade, ficou inviável continuar. Daí, passei a investir no agronegócio, através da produção de cachaça. Aos poucos, o negócio foi evoluindo, até se transformar no que é hoje: uma ilha de ecologia dentro de uma cidade industrial”, pondera. Para o empresário, cada vez mais, o município tem procurado a qualidade de vida de seus habitantes. “Prova disso é o decreto que transformou a região onde o Vale Verde está instalado em uma zona de expansão rbana residencial. Isso preserva a tranquilidade dos moradores. Tanto que transformamos o parque no Instituto Cultural Vale Verde, um espaço voltado para a cultura e o meio ambiente”, destaca Pôssas.
RICA, MAS CHEIA DE CONTRASTES
Mesmo com tanto potencial econômico, Betim ainda esbarra em problemas que não condizem com sua situação socieconômica de riqueza e grandeza populacional. O boom do crescimento no número de habitantes, ocorrido a partir dos anos 70, gerou avanços, mas também retrocessos. A falta de um planejamento efetivo durante esse período pode ser considerada um dos fatores para a pacata cidade dos anos 60, hoje, refletir tantos contrastes sociais.
Para se ter uma ideia, o município tem 1,6% da população vivendo nos chamados aglomerados subnormais, popularmente conhecidos como favelas. São 43.713 betinenses morando em condições consideradas precárias e divididos em um total de 21 comunidades. A maior favela do Estado de Minas Gerais - que é forma- da por 33 aglomerados -, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a do Santo Antônio, no bairro Jardim Teresópolis.
A região possui uma população de 23.107 pessoas - o equivalente à cidade de Abaeté, na região Central do Estado, que tem 22 mil habitantes. Dessa forma, o Teresópolis assume o 24o lugar no ranking dos maiores aglomerados do país. O campeão do Brasil é o da Rocinha, no Rio de Janeiro.
De acordo com uma pesquisa coordenada e recém-concluída pelo sociólogo úlio Jacobo, do Instituto Sangari, o município é o mais violento do Estado quando o assunto é o número de homicídios por 100 mil habitantes. Além disso, Betim ocupa a 80a posição entre as 200 cidades com maiores índices do país. Conforme a pesquisa, que considerou uma população de 403.798 habitantes, somente nos últimos três anos, foram registrados 747 assassinatos na cidade, o que significa uma média de 61,7 vítimas a cada 100 mil.
Além disso, segundo o Mapa da Violência 2012, Betim continua vivendo uma epidemia de assassinatos, pois, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o índice aceitável é de até dez para cada 100 mil habitantes. Para Jacobo, o perfil da violência em Betim pode ser explicado por diversos fatores, entre eles o fato de sua capacidade atrativa (alta circulação de recursos) ser contrária à repressiva (in- vestimento em segurança). "O que a gente percebe é que a violência tem migrado para locais menos protegidos, sem inves- timentos, e, consequentemente, para polos de crescimento econômico”, explica.
É do que reclama é o economista Lucrécio Silva Filho, que veio para Betim há mais de 30 anos para viver e trabalhar. “Pouco tempo depois que cheguei à cidade, consegui uma vaga como estagiário da Fiat, em 1976”, conta Lucrécio, que atualmente é tesoureiro na empresa. Apesar de o economista ter encontrado aqui melhores condições de vida, para ele o município cresceu mais do que o esperado e desordenadamente. “Esse crescimento trouxe também problemas, como o da violência, que se instalou no município. A questão da saúde é outro gargalo que pre- cisa ser minimizado. Betim é uma cidade rica e, se houver mais seriedade na gestão pública, esses problemas podem ser solucionados”, ressalta.
ALÉM DA INDÚSTRIA
Apesar da abertura para a exploração industrial, Betim também vem se mostrando com grande potencial turístico. O Parque Ecológico Vale Verde, instalado na região do bairro Vianópolis, é prova disso. Desde sua vocação para a produção de gado leiteiro, em 1955, ao sucesso obtido com a fabricação das mais premiadas cachaças do país, a fazenda se transformou em um dos melhores empreendimentos turísticos da região metropolitana.
Hoje, além de produzir, anualmente, 250 mil litros das marcas de cachaça Vale Verde e Minha Deusa, a fazenda convida os visitantes a um exótico passeio turístico. São 300 mil metros quadrados de área verde, 20 mil espécies de orquídeas, além das exuberantes lagoas.
O Vale Verde conta ainda com uma diversidade de 1.300 aves, como papagaios, araras, maritacas e canarinhos, que são criadas e comercializadas pela fazenda por meio de um convênio firmado com o Ibama. Outra recente aposta do par- que ecológico, que recebe, mensalmente, mais de 15 mil visitantes, é a Nutrinsecta. A fábrica, instalada na fazenda, atua na produção de insetos comestíveis para uso de alimentação animal.
O parque de pesca é outro projeto pioneiro desenvolvido no local. Na área, destinada tanto à pesca esportiva quanto ao pesque e pague, são encontradas diversas espécies de surubins, pacus, tucunarés, entre outras.
DIVERSÃO E CULTURA
Ponto turístico de destaque na região metropolitana, a barragem Várzea das Flores pertence a Betim e a Contagem. Na década de 60, o local serviu para aliviar as dificuldades de abastecimento público da região e, poucos anos depois, acabou se tornando um dos principais atrativos de lazer. Somente em Betim, a Várzea das Flores ocupa uma área de 15,8 quilômetros quadrados, o que representa 4,56% da área do município. Hoje, a lagoa recebe mais de 10 mil turistas por mês. No local, além de praticarem atividades náuticas, como passeio de lancha, barcos e jetski, os visitantes também podem pescar.
Outra atração que vem ganhando a adesão de betinenses e turistas é o Kartódromo Internacional de Betim, maior es- paço para competições amadoras de kart do Estado, localizado no bairro Itacolomi, próximo à represa Várzea das Flores.
Já quem prefere optar por uma agenda de eventos culturais pode visitar a Casa da Cultura Josephina Bento, na região Central da cidade. Com 25 anos de existência, o local se transformou em um espaço de referência artística para o município.