Da carpintaria às ondas do rádio
Entrevista - Geraldo Lapinha
Ele nasceu carpinteiro e se tornou um grande empreendedor pelo negócio que criou e fez crescer, a Rádio Liberdade, líder de audiência no Estado há 12 anos. Símbolo de Betim, merece ter sua história contada por muitas gerações. Geraldo Silva Santos, o Lapinha, autor dessa história, abriu as portas de sua aconchegante casa para contar à Mais passagens que marcaram sua vida e que são verdadeiras lições de como viver com alegria.
REVISTA MAIS - Como foi sua infância? Fale um pouco sobre esse período de sua vida.
Geraldo La pinha - Sou nascido e fui criado em Betim. Sempre morei nesta região do Teixeirinha. Tive oito irmãos e uma infância boa demais. Meu pai fazia tudo para agradar os filhos. Se a gente queria brincar com peão, ele fazia um. Depois, se queria brincar com um bodoque, ele fazia um. Hoje, se faço tudo pelos meus filhos, é porque aprendi com meu pai.
Como o senhor conheceu sua esposa, a dona Tereza?
Eu conheço a Tereza aqui do bairro mesmo, desde o tempo da escola. A gente estudava no colégio Afonso Pena. Íamos para a escola juntos, para as festas juntos. Até que começamos a namorar. Quer dizer, eu comecei a namorar com ela primeiro. Ela não sabia. Depois, ficou sabendo, e ficamos juntos até hoje. São 63 anos de casados, oito filhos, 17 netos e seis bisnetos.
O senhor sempre trabalhou como carpinteiro?
Meu pai era carpinteiro e me ensinou a ser também. Minha vida foi toda ganhada com a carpintaria. Depois de eu trabalhar muito para os outros, veio o Móveis São Geraldo. Comecei trabalhando para o Nelson Amaral (antigo dono) e meu irmão. Depois, virei sócio e, mais tarde, passei a ser dono.
Por que este nome, Móveis São Geraldo?
Minha mãe sempre foi devota de São Geraldo, padroeiro das mamães. E um filho que veio antes de mim, infelizmente, faleceu. Então, ela fez uma promessa jurando que, se seu próximo filho nascesse com saúde, se chamaria Geraldo. Passei também a ser devoto de São Geraldo e fiz uma homenagem ao santo e à minha mãe, batizando a loja com esse nome.
Como surgiu a Rádio Liberdade?
A rádio surgiu em minha vida porque eu pagava muito pelos anúncios que fazia para a loja. Em Betim, não havia nenhum meio de comunicação. Aí, tive a ideia de montar uma rádio para anunciar meus produtos. No fim da década de 70, Comprei o canal e criei a rádio. O primeiro nome da rádio era Capela Nova, uma estratégia política da época, porque meu sócio, o prefeito Oswaldo Franco, queria pôr o primeiro nome de Betim. Depois, comprei a parte dele e coloquei o nome de Liberdade, porque, para mim, liberdade é tudo na vida. Hoje em dia, graças a Deus, ela serve para toda a minha família e também para os betinenses. É a primeira rádio em Minas há 12 anos, e isso é um orgulho para mim. Chegar ao primeiro lugar é fácil, difícil é se manter lá. Sabe, na época, os donos não queriam que colocassem sertanejo em FM. Aí, eu pensei: “Vou criar uma rádio e coloco” (risos). Comprei, coloquei o sertanejo, e olha aí no que deu! Larguei a carpintaria, né? Quando a gente tem um sonho, nunca deve desanimar.
E o Caipirão? Foi uma ideia do senhor?
Em toda minha vida, gostei de sertanejo. Sou fã de várias duplas: Tonico e Tinoco, Gino e Geno e Chico Rei e Paraná. Alguns deles vêm à minha casa de vez em quando, em alguns aniversários. É muito bom! “Moreninha linda...” (ele começa a cantar). O Caipirão foi sonho meu. Eu tinha um rancho, e eles faziam um forró lá. Daí, resolvi fazer o mesmo aqui, em Betim, e a coisa ferveu lá. Daí, meus filhos transformaram isso no Caipirão.
O senhor passou por muitas dificuldades?
A gente nunca deve ter vergonha de falar o que a gente é. Temos que assumir nossa personalidade. Já passei muita dificuldade, mas nunca passei fome, graças a Deus. Não tinha muita diversidade, mas tinha fartura na mesa da minha casa. Tem dia em que, vendo aquela variedade na hora de almoçar, penso que tem gente que não tem nada, tem gente que quer comer, mas não tem condições. É muito triste isso.
O senhor gosta de tocar uma viola. Já pensou, algum dia, em ser cantor ou formar uma dupla?
Eu gostava de tocar uma viola, sim, mas sempre aparecia alguém melhor que eu (risos). Eu e meu irmão tocávamos no cinema de Betim, o Cine Marcelino. Mas sempre aparecia um melhor do que eu dez vezes (risos). Meu irmão tocava e eu cantava, mas deixei pra lá, porque a gente não era bom nada. Hoje, realizo meu sonho de ser famoso no Fred e Geraldinho (este último é neto dele). Agradeço a eles sem eles mesmos saberem.
Adoro fazer aniversário, porque tem festa e a família fica reunida; tudo de melhor que tenho são meus filhos, netos e bisnetos
Qual sua religião?
Sou católico; meus pais eram católicos. Confesso que estou faltando um pouco com meu dever de ir à igreja. Acho importante, para incentivar a família. Mas tenho uma capela aqui, em casa (andamos até a capela para ele nos mostrar), e lá eu faço reflexões sobre a vida.
O senhor participou da emancipação de Betim. Orgulha-se de sua história?
Ah, tem alguns episódios. Eu que fiz a primeira festa de São Cristóvão; quando Betim deixou de ser Capela Nova, eu que fui buscar os documentos; já fui até homenageado algumas vezes, nas Câmaras de Vereadores de Igarapé, Belo Horizonte, Esmeraldas, Betim, mas não tenho orgulho do meu passado, porém, agradeço a vida que Deus me deu. Amo minha vida. Não tenho estudo, mas sempre trabalhei com honestidade. E disso eu me orgulho.
O senhor já foi vereador. Por que não quis continuar na política?
Teve uma vez em que, sem querer, virei vereador. Tive muitos votos. Foi na época em que o parlamentar não recebia para trabalhar na Câmara. Mas não gostei, não, e não quis continuar.
E a festa da Rádio Liberdade? O senhor acha que é uma forma de ajudar as pessoas, já que a entrada é 1 kg de alimento não perecível?
Sim. Teve ano em que arrecadamos duas carretas de alimento para doação. Na última, no ano passado, foram 150 toneladas. Foi muito bom. A ideia da festa foi em conjunto. Mas, infelizmente, neste ano, não vai ter, por causa da determinação da Justiça que proibiu a realização de festas no parque, por conta do som alto.
Eu posso estar com dor de dente e em qualquer lugar que não perco o bom humor
Tem algum sonho que o senhor ainda não realizou em sua vida?
O único sonho que ainda quero realizar, e tenho fé em Deus e em São Geraldo de que vou conseguir, é o de morrer sem ver um filho meu morrer.
O que mais gosta de fazer nas horas vagas?
Ah, ligo a televisão só para dormir. Eu gostar de ir para Urucuia pescar, mas adoro mesmo é escutar música sertaneja.
Que lição o senhor pode passar de sua história para as pessoas que lerão esta entrevista?
Minha alegria de viver. Eu posso estar com dor de dente e em qualquer lugar que não perco o bom humor. Meu olho já viu muita coisa boa. E eu agradeço e sou feliz por isso.
E seu chapéu? É sua marca registrada, não é?
O chapéu faz parte de mim. Tenho mais vergonha de tirar o chapéu que a calça (risos). Tenho oito filhos e, para cada filho, tenho um chapéu (risos).