Eles escolheram esperar...
Sexo
Marcela Pena/Divulgação
Contrariando as estatísticas, esses jovens e adultos optaram por terem relações sexuais somente depois do casamento
Renata Nunes
ADOLESCÊNCIA. Fase em que muitos querem descobrir o sexo, pois os hormônios estão aflorando. Um exemplo disso pode ser evidenciado em um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo 2010, que apontou que quase 30% dos estudantes no Brasil com idade média entre 13 e 15 anos já iniciaram a vida sexual. Estatísticas à parte, existem ainda no país jovens e adultos que, ao contrário, decidiram abrir mão da relação sexual antes do casamento, influenciados, principalmente, pela fé cristã. É o caso, por exemplo, do estudante André Rodrigues Lial, 17. “Não tenho problemas em falar que sou virgem. Não acho que isso é motivo de vergonha. Na minha concepção, é melhor esperar o cônjuge do que banalizar o sexo com várias outras pessoas”, defende.
Segundo André, as pessoas, além de terem deixado de dar valor à virgindade, consideram careta quem opta por ela. “Os homens buscam perder a virgindade logo, para não se sentirem carta fora do baralho. Como se fosse uma conquista transar com tantas mulheres.” O estudante e a namorada, juntos há seis meses, compartilham os mesmos princípios cristãos, porém, conforme ele, no relacionamento é preciso ter firmeza dessa decisão e não passar dos limites, já que as tentações são muitas. “Não penso em me casar logo, mas estou convicto de que vou esperar até o matrimônio para começar a minha vida sexual. Sei que não será fácil aguardar a troca de alianças, mas pretendo ser firme. Por isso, vou fazer o máximo para não ir contra o que eu acredito”, garante.
A sexóloga Cida Lopes afirma que a postura de André é rara nos dias atuais. “É comum jovens iniciarem a vida sexual mais cedo atualmente. O principal motivo é a liberdade sexual e as referências. Antigamente, a repressão sexual era grande, mas, hoje, o sexo é mais estimulado pelos meios de comunicação, principalmente, pela internet, ou até mesmo pelos pais”, explica.
Assim como André e a namorada, a enfermeira Deborah Silva, 24, também optou por não ter relações sexuais antes de se casar. Em um relacionamento de um ano e oito meses com o técnico mecânico Wiliam Magalhães, 23, eles contam que estão se guardando para o casamento, marcado para setembro do ano que vem. “O casamento é a concretização do amor, por isso, vamos esperar acontecer nossa união para iniciarmos uma vida sexual. O aspecto social ou religioso, no sentido da moralidade, é muito importante também, mas não representa na totalidade o que Deus nos orientou a fazer: a prática do amor”, afirma o técnico mecânico.
Deborah diz que foram seus pais que ensinaram a ela sobre a vontade de Deus. “Ele é o criador de todas as coisas, inclusive, do sexo. Decidi aplicar na prática tudo o que aprendi sobre isso”, afirma a enfermeira. “Na faculdade, falavam que eu era boba por não experimentar, mas essa escolha é um entendimento e uma convicção pessoal que tenho sobre o tema”, completa.
Deborah Silva, 24, e Wiliam Magalhães, 23, procuram não ficar e viajar sozinhos para evitar contato físico íntimo que possa levar ao sexo/ Foto: Hilário José
Quando questionado se tem medo de alguma coisa dar errado quando chegar o momento da relação sexual, Wiliam julga ser muito imaturo pensar dessa forma. “Entendo que o sexo é o ápice do relacionamento amoroso, ato em que é demonstrado todo o carinho, cuidado e paixão. Dessa forma, ele é apenas um resultado de todo o processo mental, físico, psíquico e espiritual de um casal”, salienta.
A jornalista Sara Lira, 24, e o fresador CNC Wanderlei Carvalho, 31, casados há quatro meses, também decidiram aguardar três anos e oito meses até chegar à lua de mel. Ele não era mais virgem, mas decidiu esperar pela amada. “Antes de me converter à religião evangélica, tinha uma vida leviana. Após minha conversão, conheci a Sara e, com a ajuda dela, que foi muito importante, pude manter a conduta de me preservar até o dia do casamento”, revela.
Wanderlei afirma que não foi fácil persistir na decisão. “A liberdade gera intimidade. Quanto mais tempo juntos, mais o corpo cobrava.” A sexóloga Cida Lopes explica essa afirmação. “Quando namoramos, somos estimulados eroticamente. Isso aflora nossos desejos sexuais através de reações fisiológicas, que vão aumentando a partir desses estímulos. Ter controle sexual diante de um beijo ou de carícias eróticas é muito mais difícil do que nos controlarmos sexualmente quando estamos, por exemplo, somente estudando ou trabalhando”, diz.
“Acredito que o sexo foi criado por Deus para ser feito entre um casal com uma intimidade tão grande que só existe após o casamento. Na Bíblia, Ele diz que quando um homem se junta a uma mulher, ou seja, se casam, eles se tornam uma só carne. E o casamento, de fato, proporciona certas liberdades e intimidades que anos e anos de namoro não trazem”, salienta a jornalista.
O casal garante que valeu a pena esperar. “Cresci com esse ensinamento dos meus pais. Decidi que era o melhor caminho para mim. Não me arrependo por ter feito essa escolha”, diz Sara. “Muita gente acha que os jovens que escolheram aguardar até o casamento tomaram essa decisão por influência de líderes religiosos ou porque foram manipulados e são reprimidos. Não é nada disso. Converso com jovens que decidiram esperar ou que já se casaram e também esperaram. Todos tomaram essa decisão porque acreditam ser o melhor para suas vidas. Nós, que decidimos esperar, não somos manipulados ou influenciados, apenas tomamos uma decisão que cremos ser a mais saudável e também a vontade de Deus”, finaliza a jornalista.
Virgem aos 17 anos, André Lial acredita que é melhor esperar o cônjuge do que banalizar o sexo com várias outras pessoas/ Foto: Hilário José
MOVIMENTO "EU ESCOLHI ESPERAR"
A campanha cristã ‘Eu Escolhi Esperar’, que vem ganhando força e milhares de adeptos nas redes sociais, foi criada pelo pastor evangélico Nelson Junior, 37. O movimento, que abrange cidades em todo o país, atua em duas áreas: sexualidade e vida sentimental, por meio de seminários, livros e pregações. “As pessoas se enganam quando acham que nosso movimento é focado na virgindade. O ‘Eu Escolhi Esperar’ é muito mais que um movimento pró-castidade. Tratamos a importância de se viver uma vida sexual e emocional de forma pura e santa”, afirma Nelson.
De acordo com o pastor, a escolha por ter relações sexuais depois do casamento não é exclusiva de evangélicos. “Existem milhões de católicos que também fazem o mesmo. Outra coisa curiosa é que há muitos seguidores que não são evangélicos, mas esperaram por convicções pessoais ou princípios familiares. Os pais viveram isso e passaram para os filhos, que seguiram o exemplo. A campanha ultrapassou a discussão religiosa. Bom informar também que nem todo mundo que segue o ‘Eu Escolhi Esperar’, realmente, escolheu esperar para ter relações sexuais depois do casamento, mas nos acompanham por se identificar com outras questões que tratamos e orientamos, tal como ter um amor para a vida inteira, casamento, família, filhos e o compromisso”, explica.