Eles superaram a Depressão
Conheça a história de pessoas que sofreram dessa doença que atinge 5% da população mundial, como elas vencerem esse mal e como redescobriram a alegria de viver
José Augusto
Tristeza, angústia e baixa-estima. Esses são alguns dos quadros característicos da depressão, uma doença que atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). São vários os motivos que podem fazer com que o indivíduo adquira esse mal. E viver com ele não é nada fácil.
Hoje, a dona de casa Maria do Socorro Alencar tem uma vitalidade invejável para uma senhora de 59 anos. Ela faz aulas de dança de salão e de pilates, atividades que a ajudaram a superar a depressão. A primeira vez que essa doença a atacou foi há 18 anos, quando ela descobriu que tinha um problema de visão. “Eu tive uma doença na retina e perdi parte da minha visão. Foi um choque muito grande, porque, de repente, eu estava meio sem ação. Nem dirigir eu dirigia mais”, lembra.
Os sintomas da depressão vieram depois que ela recebeu o diagnóstico da perda de parte da visão. “O médico me disse que não havia tratamento para recuperá-la. Entrei em desespero e fiquei muito ansiosa. Passei a ter problemas de saúde até chegar à depressão. Aí comecei a tomar vários medicamentos e a fazer tratamento” conta.
Maria explica que também passou a fazer aulas de dança com o marido, para se distrair e tentar superar o problema. A prática estava dando resultados, mas, com morte do marido, há quase quatro anos, ela entrou novamente em um processo depressivo. “Para me recuperar, voltei a dançar e a fazer pilates. Hoje, posso afirmar que sou uma nova pessoa. Sinto-me muito melhor e adquiri, de novo, a vontade de viver. Se eu tivesse ficado só dentro de casa, tomando remédios, estaria muito pior. Não queria ser mais dependente deles e a dança me ajudou muito nessa batalha. Fiz novas amizades, reencontrei antigos amigos e sou uma pessoa feliz”, disse.
Diagnóstico
Diagnosticar um quadro de depressão não é tão fácil. De acordo com a psicóloga e psicanalista Danielli Gervásio, as pessoas confundem depressão com tristeza. “Hoje em dia é muito comum que qualquer tristeza seja nomeada como depressão, o que é muito equivocado. Ficamos tristes quando perdemos algo ou alguém de valor em nossas vidas, quando passamos por situações indesejáveis ou quando somos frustrados. Já a depressão é um quadro psíquico de maior intensidade que pode apresentar a tristeza como uma de suas características”, explica.
A especialista afirma que a doença vai muito além de uma baixa-estima. “A depressão é o rompimento de uma rede de sentido e amparo, momento em que o psiquismo falha em sua atividade de dar sentido à vida e deixa entrar o vazio que o próprio trabalho psíquico tenta cercar. É o momento de um enfrentamento insuportável com a verdade, que pode se dar em circunstâncias traumáticas ou recorrentes”, completa.
E, para vencer esse mal, o tratamento deve atingir o indivíduo como um todo. “Ele deve abranger o paciente em sua dimensão biológica, psicológica e social. A psicoterapia precisa viabilizar as mudanças no estilo de vida do paciente, assim como todo o suporte deve ser dado por criteriosa e rigorosa medicação psiquiátrica. É imprescindível que haja um enfoque cultural no tratamento, lembrando que o que tratamos clinicamente é o paciente subjetivamente deprimido, não a doença ‘depressão’ em si”, esclarece o especialista em psicologia clínica e psicanalista Allan Moura Gonçalves.
Jovens
Para quem pensa que a depressão só atinge as pessoas mais velhas, está redondamente enganado. A OMS alerta que a doença acomete os jovens na mesma proporção que os adultos, principalmente, as mulheres.
Além do apoio da família, o estudante Júlio César contou com a capoeira para sair da depressão
O analista de infraestrutura e telecomunicações Júlio César Silva Santos, 25, foi uma vítima da depressão. “Ela apareceu após uma série de acontecimentos na minha vida. Primeiro, foi o fim de um relacionamento, o roubo do meu carro e a morte da minha avó. Isso me prejudicou tanto no trabalho quanto na faculdade. Cheguei até a trancar matrícula. Não tinha mais ânimo para estudar. Tive os sintomas por cerca de um ano e meio. Nas crises, não queria ver ninguém. Só ficava no quarto, chorando sem motivos”, recorda. Ele conta que a família foi fundamental para ajudá-lo. “Meu pai ficou muito preocupado, porque eu era uma pessoa com alto-astral, e, de repente, não queria saber de nada. Foi ele quem me levou para o tratamento. Minha mãe também deu muito apoio, até porque ela também já teve depressão e sabia como eu me sentia”, pondera.
Júlio César tomou remédios durante oito meses e também fez terapia. Mas a atividade física foi primordial para que ele vencesse a depressão. “O psicólogo me indicou fazer algum esporte. Como antigamente eu jogava capoeira, voltei a praticar. Foi a partir daí que consegui superar a doença. Treinava em casa, passei a me relacionar com alunos, pais e os outros capoeiristas. Isso tudo foi me dando ânimo de novo. Consegui um estágio, voltei a estudar e, a cada dia que passa, sinto que estou mais longe daquilo tudo que vivi”, salienta.
Os exemplos de Júlio César e de Maria, que buscaram a cura da depressão por meio de atividades, aliadas ao acompanhamento especializado, são uma boa saída para se livrar desse mal, segundo os especialistas. “À medida que o sujeito resgata o sentido da vida, ele começa a investir libido no mundo exterior: nas pessoas, no trabalho e no lazer. Dessa forma, outras atividades, como a musculação, a dança, a religião e até mesmo a leitura, ajudam a contribuir para a construção subjetiva de saídas possíveis e para a reconstrução de objetivos de vida. As atividades também contribuem fisiologicamente no combate à depressão, pois sua ação resulta na liberação de serotonina e endorfina, os chamados hormônios da felicidade, que estão em baixa no período depressivo”, analisa a psicóloga Danielli.
Mesmo assim, o apoio dos familiares e dos amigos é superimportante para que o paciente se livre da doença. “A família deve, sim, dar a atenção necessária ao doente, mas, sobretudo, encaminhá-lo e, em alguns casos, dar uma ‘forçadinha’ para que ele vá regularmente às sessões de psicoterapia ou às consultas psiquiátricas”, conclui o psicanalista Gonçalves.