Em busca do corpo perfeito

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Criado em 18 de Abril de 2013 Capa
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A vontade de ter medidas físicas perfeitas é um sonho da maioria das pessoas. É certo que estar bem fisicamente aumenta a autoestima e o amor-próprio, mas é preciso ficar atento aos limites dessa busca para não nos frustrarmos ou acabarmos desenvolvendo alguma doença

 

 

 

Lisley Alvarenga

“Mulheres e homens precisavam ter a convicção de que não existe beleza perfeita. Toda beleza é imperfeitamente bela. Jamais deveria haver um padrão, pois toda beleza é exclusiva como um quadro de pintura, uma obra de arte.” O trecho do livro “Ditadura da Beleza”, de Augusto Cury, nos faz refletir sobre o conceito do belo nos dias atuais.

Que mulher não quer ter a boca carnuda da estrela Angelina Jolie ou o bumbum da atriz Juliana Paes? Ou que homem não sonha em alcançar o belo físico do jogador Cristiano Ronaldo? As ofertas para alcançar esses padrões são inúmeras e se apresentam de todas as formas. Em cada esquina que se vá, não é difícil encontrar um profissional disposto a oferecer uma dieta ou uma cirurgia plástica milagrosa. É preciso, porém, ficar atento aos excessos e ter em mente, sempre, os limites na busca pelo tão desejável corpo perfeito.

Segundo a psicóloga Marisa Sanabria, a perfeição estética transformou-se em uma premissa, um “dever social”. “No caso das mulheres, por exemplo, se ela não consegue modelar seu corpo, ser bela, muito menos saberá conduzir sua vida”.

A pressão pela busca de um corpo esculpido também é pregada, constantemente, pela mídia, através de anúncios publicitários, novelas. “As pessoas magras nos oferecem a ilusão de controle, de felicidade. Não estar nos padrões de beleza, ao contrário, remete à exclusão social, ao fracasso e à infelicidade”, diz a psicóloga.

Frequentador assíduo de academias desde os 16 anos, o empresário Felipe Marrêta, 26, conta que, na adolescência, sofreu bullying por ser muito magro. “Eu era o patinho feio da turma. Tinha vergonha até de tirar a camisa. Decidi que não passaria mais por esse tipo de constrangimento. 

Entrei para a academia e nunca mais parei. Hoje, além de seguir uma dieta balanceada, à base de carboidratos, alio minha alimentação a suplementos alimentares. Não consumo açúcar, gordura e muito menos fritura. Raramente abro uma exceção”, revela.

O empresário não se considera uma pessoa obcecada pela beleza, mas revela que cultua, sim, o corpo perfeito. “Se vejo uma gordurinha a mais, fico louco. Corro para a academia para tentar recuperar minhas medidas”, confessa Marrêta.

Marisa explica que as pessoas, em geral, não estão felizes com sua aparência. “Criamos corpos artificiais e fictícios, sem sensibilidade nem marcas da história. Isso faz com que mudemos a forma de compreender nosso corpo e estabeleçamos uma estrutura na qual ele precisa ter medidas perfeitas. Não somos livres e tratamos o nosso corpo como algo que deve ser disciplinado e ‘dominado’”.

Apesar de dizer estar satisfeita com sua forma física, a estudante em educadora física e personal trainner Rafaela de Andrade, 25, quer ganhar mais quatro quilos de massa magra. “Meu metabolismo é muito acelerado e, por isso, perco peso facilmente. Quero ganhar um pouco mais de corpo e já estou trabalhando para isso. Sou feliz com minha aparência, mas tenho de ficar atenta, já que, como mulher e atleta, as pessoas reparam muito isso. Esses dias, um aluno me disse que saiu de uma academia porque o professor é gordinho e careca. Ele justificou que imagem, para ele, é tudo”, conta.

Psicólogo e psicanalista, o professor da PUC Minas Celso Renato Silva, 29, explica que a sociedade de hoje vive em uma época de hiper valorização da aparência, situação que afeta, de forma direta, a relação das pessoas com seus corpos. “Podemos considerá-lo um meio de nos relacionarmos com o mundo. Essa relação é fundamental para que possamos realizar os nossos desejos, conquistar nosso espaço e nos constituir como seres humanos. A hiper valorização da estética afeta a forma de nos relacionarmos com o mundo. Isso faz com que nossa existência se resuma, em determinados casos, à manutenção da aparência, seja em academias, seja por meio de dietas, cirurgias, seja por meio de outras ações que visam ao corpo ideal”, salienta.

Um dos três únicos representantes de Betim no fisiculturismo – esporte cujo objetivo é buscar, por meio da musculação, a melhor forma muscular –, Emerson Alisson de Menezes, 30, afirma que malhar, para ele, é como uma profissão, uma rotina de vida. “Vou à academia de segunda a sábado. Só não frequento aos domingos, porque onde faço não abre. Como dizem: sou um ‘rato de academia’”, brinca Emerson.

Ele diz que, apesar de acreditar que toda pessoa tem uma preocupação com o corpo, em seu caso, essa busca pela imagem corporal perfeita é mais cobrada. “Sou um atleta e, por isso, não posso deixar a desejar. As pessoas cobram que eu mantenha a forma física ideal”, explica.

Nesse sentido, o psicólogo Celso Silva salienta que o equilíbrio entre o excesso e a escassez deve ser estabelecido por cada um. “As pessoas precisam buscar, constantemente, o conhecimento do próprio corpo, tanto de suas potencialidades quanto de seus limites. Respeitar isso é um bom começo para criar formas sadias de se preocupar consigo.”

O perigo dos excessos 

O excesso de atividades físicas é um exemplo de como podemos ultrapassar os limites do nosso corpo e, assim, sofrermos consequências, como abalar a nossa estrutura óssea ou a nossa musculatura. Por isso, o descanso faz parte da rotina de treinamentos. Quem não deixa o organismo parado por um período, após fazer exercícios intensos, explica a educadora física Thiara Batemarque, 26, corre risco de ter lesões no sistema muscular, estresse, alterações nos tendões e até insônia. “Embora acreditem que vão melhorar o desempenho, essas pessoas acabam perdendo o rendimento”, frisa a especialista.

Dono de uma loja de suplementos alimentares, o comerciante Jonas Fonte Balod, 27, já lesionou as costas e os ombros por causa do excesso de atividades físicas. “Nós começamos a treinar e nos empolgamos. E acabamos fazendo exercício errado. O corpo tem um limite e o problema é que, quando o atingimos, ficamos frustrados, pois de ganhar medidas. Por isso, cheguei a usar anabolizante quando era jovem. Hoje, faço uso apenas de suplementos alimentares. Eles me ajudam a ganhar massa”, afirma.
 
 
Thiara complementa que o ideal é praticar esportes dias sim, dias não. “Além de jamais se esquecer de fazer alongamentos e aquecimentos antes de começar o treino mais pesado. E, se a lesão existe, a recomendação médica é afastar-se do treinamento e retornar de maneira gradual e progressiva”, explica a educadora física.
 
Dietas milagrosas
A luta diária contra a balança é outra preocupação de muitos brasileiros. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) dão conta de que, em todo o mundo, quase 300 milhões de adultos sofrem para manter-se dentro do peso ideal.
Muitos se arriscam em fazer dietas mirabolantes, e o que deveria ocasionar a perda rápida de peso acaba se transformando em um pesadelo. “Perder peso de forma rápida pode ser muito perigoso para o corpo, pois não se sabe ao certo o cálculo dos nutrientes presentes que, individualmente, cada pessoa precisa consumir, sem que ela perca massa magra e vitaminas necessárias para um bom funcionamento do organismo”, explica a educadora física Thiara Batemarque.
 
Geralmente, também acontece o efeito sanfona. A pessoa engorda novamente e busca outro tipo de dieta. Isso, além de virar um círculo vicioso, traz para pessoa uma sensação de fracasso.
 
É o caso da dona de casa Ivanilde da Conceição Silva Marques, 53. Ex-adepta das dietas milagrosas, ela diz que já experimentou de tudo. “Já fiz a dieta do limão, da sopa, do japonês, e por aí vai. Em todos os casos, emagreci, mas, da mesma forma, passava um tempo, engordava outra vez. Na última, fiquei um mês comendo apenas legumes, verduras e frutas. Cheguei a perder nove quilos. Mas, além de ter me sentido muito fraca nesse período, a frustração veio logo depois, já que voltei a engordar”, explica Ivanilde, ao ressaltar que, agora, aprendeu a lição. “Estou reeducando minha alimentação. Comendo de tudo um pouco e de três em três horas”, salienta.
 
Doenças do futuro
Ainda de acordo com Thiara, o limite para quem quer ter o corpo ideal pode ser percebido quando a pessoa começa a perder saúde, se afasta do convívio social e passa a ter como prioridade, no seu dia a dia, os treinos e as dietas.
 
É a partir daí que essa obsessão pode desencadear várias patologias. Os prejuízos são incalculáveis e impossíveis de serem generalizados. Muitas pessoas têm se colocado em risco para sustentar uma determinada aparência. O aumento do número de pessoas que sofrem com transtornos de imagem, como a anorexia e a bulimia (distúrbios alimentares), são alguns exemplos.
 
Desconhecido por muitos, o transtorno dismórfico muscular ou vigorexia é também apontado como uma das “doenças psicológicas do futuro”. Causada pela obsessão ao corpo, nesse tipo de patologia, assim como na anorexia e na bulimia, a pessoa está sempre insatisfeita consigo mesma. Mesmo estando forte e tendo músculos bem desenvolvidos, sempre se vê muito magra.
 
Thiara explica que a vigorexia afeta, em sua maioria, os homens. “Ela os leva à prática exaustiva de exercícios físicos. O principal é o indivíduo estar em ótima forma física e continuar achando que seu corpo é inadequado, por ser muito fraco.
 
Existem outros sintomas físicos, como a dor muscular persistente, o cansaço extremo, a aumento da frequência cardíaca, entre outros”, revela a especialista. O educador físico Rodolfo Carvalho, 30, acrescenta que a disformia muscular pode levar ao excesso de exercício, ao abuso de suplementos sem orientação e à utilização de anabolizantes. “No aspecto psicológico, ela pode causar o afastamento do convívio social. A pessoa pode perder amigos, emprego e até entrar em estado de depressão  profunda."
 
A terapia comportamental parece ser útil no tratamento da dismorfia muscular. “Suas estratégias incluem a identificação de padrões distorcidos de percepção da imagem corporal, de aspectos positivos da aparência física e a confrontação entre padrões corporais atingíveis e inatingíveis. Alguns aspectos obsessivos e compulsivos desses indivíduos podem ser minimizados com o uso de antidepressivos”, expllica Carvalho
 
                                        Na mira do Bisturi
“Acabei de fazer plástica e já estou pensando em colocar prótese mamária. Faço cirurgia para me sentir bem e mais feliz com o meu corpo.” Assim a enfermeira Simone Menezes Gontijo, 40, resumiu a satisfação em ter realizado, recentemente, sua quarta cirurgia plástica.
 
Mãe de dois filhos, ela conta que decidiu mudar o corpo, pela primeira vez, por achar sua mama muito grande. “Depois do primeiro procedimento, resolvi fazer mais uma cirurgia por causa do excesso de pele do meu seio, causado em função da amamentação. E, como tive dois filhos, também precisei fazer mais duas cirurgias, uma de lipoaspiração e outra de abdominoplastia, por causa do excesso de pela na barriga.” 
 
O cirurgião plástico e presidente da regional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica de Minas Gerais, Cláudio Salum Castro, 55, alerta que, apesar de hoje as pessoas estarem mais conscientes sobre os limites do corpo, é preciso ficar atento e procurar a orientação de um profissional adequado para fazer a cirurgia plástica. “É necessário ter em mente que os exageros têm consequências, que podem vir a longo prazo. Um exemplo clássico é o caso do cantor Michael Jackson. Ele fez tantas cirurgias que ficou com o nariz deformado.”
 
O especialista faz algumas recomendações para quem quer “entrar no bisturi”. “Entre no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e pesquise se o cirurgião é um profissional habilitado. Indicações de outros pacientes e de outros especialistas também são importantes.”

Simone afirma que “a cirurgia plástica é viciante”. “A gente faz a primeira vez e não quer parar mais. Sempre me olho no espelho e vejo que quero melhorar alguma coisa. Mas sou consciente. Sei que também tenho de manter meu corpo. Por isso, malho e sigo uma balanceada”, salienta a enfermeira.

Melhorar algo que anda incomodando, dentro dos limites possíveis, pode ser benéfico e até indicado. Castro pondera que, desde que se faça o pré-operatório adequado e que a cirurgia seja viável e segura, nada impede que a pessoa faça uma plástica. “A cirurgia pode melhorar muito a autoestima, o astral do paciente. A pessoa aumenta seu amor-próprio, se sente mais bonita, mais sensual. Até a forma de se vestir muda. Inúmeros são os casos de mulheres que me procuraram para fazer uma cirurgia de redução das mamas. Elas chegam ao consultório vestidas com blusas largas e, depois do procedimento, voltam com roupas justas e até transparentes”, revela o especialista.



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