Evelhecer: início ou fim de uma etapa?
Por Lucas Fotunato Carneiro*
Carregamos a imagem do jovem forte, destemido, corajoso, belo fisicamente e inconsequente como a marca da revolução. Em contrapartida, em sua maioria, os ocidentais consideram o idoso um peso morto, alguém no fim da linha, uma pessoa em decadência corporal e mental. Essa concepção leva a práticas inaceitáveis de abandono e, até mesmo, de extermínio – medida essa adotada pela ditadura portuguesa de Antônio Salazar, no século XX.
Para aqueles que idolatram a beleza e o vigor físico, discutir a velhice e o seu processo inerente ao ser humano causa um grande desconforto. A velhice e a reflexão saudável dos limites humanos e do fim natural, quando bem aceita, podem levar a uma qualidade de vida irrefutável.
Já nas culturas orientais, o envelhecimento é visto como algo positivo, sendo meio para alcançar uma vida de sabedoria e de prudência. A figura do homem ou da mulher austeros, silenciosos, calmos e de fala mansa que, na maioria das vezes, consegue prever situações e aconselhar, apresenta-se em relevo em relação ao jovem imprudente, cheio de energia e com os hormônios à flor da pele.
O jovem Platão admirava e se inspirava no velho filósofo Sócrates por sua sabedoria e por seu discernimento, no livro “A República”, de Platão. O mesmo relata uma discussão sobre a justiça na casa do velho Céfalo, homem respeitado em Atenas. Nesse caso, os jovens apenas acompanhavam as discussões. Na república ideal de Platão, crianças e adolescentes não recebiam o ensino da filosofia diretamente. Somente pessoas de idade mais avançada tinham acesso a tal conhecimento, pois esses precisavam exprimir suas opiniões e pensamentos nas discussões da Ágora (praça).
Portanto, se envelhecer é uma “droga”, como afirma o ator Arnold Schwarzenegger, ou se é a “melhor idade”, como dizem muitos aposentados, essas respostas são necessárias para contribuir para a valorização do idoso na sociedade, seja ele sábio ou um peso.
O idoso deve ser visto como um componente do tecido social. E não se esqueça: querendo ou não, todos nós um dia vamos viver a velhice. Quem sabe, sentados na varanda, vendo o pôr do sol, vamos, com um sentimento de nostalgia, nos lembrar sempre dos “velhos tempos”.
*Educador, graduado em filosofia pela PUC Minas, graduando em teologia e pós-graduando em psicopedagogia pela Fumec - [email protected]