Ex-dependente químico, ele encontrou Jesus
Rejeitado pela família na infância, ele entregou-se às drogas e à bebida. Apesar disso, superou as adversidades da vida e, hoje, comanda um rebanho de mais de 4.500 fiéis na Igreja Batista Lagoinha, em Betim. Conheça a história de vida do pastor Rodinei Medeiros Romão, 41, nosso entrevistado especial desta edição da Mais
REVISTA MAIS – Como era a vida do senhor antes de se tornar um pastor?
Rodinei Medeiros Romão – Nasci em um lar evangélico. Morávamos no interior, na cidade de Mantena, e nos mudamos para Belo Horizonte. Meu pai biológico morreu com 31 anos e minha mãe, na época, tinha apenas 21 anos e dois filhos para criar. Depois que ele faleceu, ela casou-se com um senhor 30 anos mais velho que ela. Quatro anos se passaram e nasceu meu meio-irmão. Eu já tinha uns 6 anos. A partir daí, o amor e o carinho do meu padrasto eram apenas dispensados a ele. Meu padrasto começou a nos rejeitar. Aos 11 anos, decidi morar em uma casa de favor e, a partir de então, vivi sozinho em várias cidades. Isso fez crescer em mim um sentimento de rejeição e de rebeldia. Aos 17 anos, eu me mudei para Belo Horizonte outra vez. Foi aí que conheci uma turma e começamos a usar vários tipos de drogas, como maconha e cocaína, além de bebermos muito.
E como voltou a frequentar a igreja?
Lembro que, quando eu tinha 20 anos, fui à casa de um colega de bicicleta. Naquele dia bebemos demais e usamos muita droga. Na volta da casa dele, aconteceu um acidente. Tive um traumatismo craniano e passei aquele ano em um hospital. Primeiro, fiz uma cirurgia para tirar um coágulo na cabeça. Acabei pegando uma infecção hospitalar e tive de retirar um osso infeccionado da cabeça. O médico achava que eu não sobreviveria. Perdi metade da minha testa por causa da infecção. Foi nesse período que entendi que estava fazendo tudo errado na minha vida. Então me reencontrei com o Senhor. Recuperei-me e passei a frequentar a igreja, mas, apesar disso, ainda tinha crises, afinal, eu era um usuário de drogas. Mas o Senhor agiu na minha vida e me levou para a casa do meu tio em Vitória, no Espírito Santo. Fiquei lá por um ano, frequentando a igreja com ele. Quando voltei para Minas Gerais, já não era mais um dependente químico. Comecei a fazer seminário bíblico. Nessa época, conheci minha esposa, a pastora Márcia Medeiros. Há 17 anos, nós recebemos o convite para fazer um trabalho na Lagoinha em Betim, igreja onde fiz um curso e estou desde então.
Conhecia a palavra de Deus na infância, mas a crise me levou às drogas. Não tive o apoio da minha mãe e do homem que deveria substituir meu pai. Na adolescência, esse sentimento de rejeição foi aumentando e, na época, a tatuagem era um modismo. Hoje tenho 17 tatuagens pelo corpo
Foi depois disso que o senhor se tornou pastor e veio para Betim?
Depois de alguns anos recebi o desafio de vir para Betim a convite de alguns irmãos. Nós pregávamos em uma pequena sala no colégio Gigante. Todo domingo eu vinha de Belo Horizonte para cá. Em 2002, acabei me mudando para a cidade, onde estou há 11 anos. Dessa escola, fomos para um sala alugada na avenida Juscelino Kubitschek. O lugar comportava umas 100 pessoas. Um ano e meio depois, fomos para um galpão na avenida Gravatá. A igreja ficou cheia e tivemos de nos transferir para a avenida Edmeia Matos Lazzarotti. O número de fiéis aumentou mais ainda e, por meio de uma parceria com empresários, construímos aqui no bairro Ingá a sede da Igreja Batista Lagoinha. Temos capacidade de receber 2.000 pessoas, mas nosso rebanho é de mais de 4.500 fiéis. Por isso, já estamos com a ideia construir uma nova igreja em Betim, que vai comportar 8.000 pessoas.
Soubemos que o senhor tem 17 tatuagens. Conte-nos sobre isso.
A Bíblia diz que “as más conversações corrompem os bons costumes”. Conhecia a palavra de Deus na infância, mas a crise me levou às drogas. Não tive o apoio da minha mãe e do homem que deveria substituir meu pai. Ao contrário, eu levava chibatadas, sofria agressões físicas e verbais. Na adolescência, esse sentimento de rejeição no coração foi aumentando e, na época, a tatuagem era um modismo. Quem tinha muitas era o líder da turma. Ao ponto que hoje tenho 17 tatuagens pelo corpo. Digo que sou um vaso bordado. Quando jovem, usava brincos nas orelhas, raspava o cabelo de um lado e deixa o outro grande. Já fui preso, apanhei muito da polícia. Isso mostra o que acontece com o jovem que perde a referência familiar. Ele acaba se envolvendo em coisas erradas.
Como é a sua relação hoje com seu padrasto e sua mãe?
Quando minha mãe completou 40 anos, meu padrasto a largou. Já casado e vivendo em Betim, descobri que ele morava de favor e que estava cego. Procurei-o e lhe propus de vir morar comigo. Queria cuidar dele. Sei que as pessoas erram. Nós oramos e eu pedi perdão a ele. Mas ele não quis, sentiu-se constrangido. Pouco tempo depois ele morreu. Hoje, valorizo e amo minha mãe. Entendo que as coisas não acontecem por caso. A vida é difícil para todo mundo. Ela tornou-se uma mulher de Deus.
Como o senhor concilia família e igreja?
Amo muito meus filhos e minha esposa. Acho que, porque não tive uma estrutura familiar, todo tempo que tenho invisto neles. Faço questão de viajarmos juntos todos os anos. Faço de tudo para dar conforto físico e emocional a eles. Quero que eles entendam o que é o amor e o que é ser pai. Faço meu melhor e o Senhor tem me abençoado. Mas é um desafio administrar o dia. Pela manhã, tomo café com eles e os levo para a escola. No fim da tarde, passo em casa e volto para a igreja, mas minha família me acompanha. Com isso, vou conciliando as duas coisas.
O que gosta de fazer nas horas vagas?
Sou atleticano e gosto de jogar bola. Aqui na igreja nós construímos uma quadra de futsal. Os irmãos sempre vêm jogar peteca, vôlei e futebol e, toda sexta-feira, bato uma bolinha com eles até 1h da manhã. É uma coisa preciosa.
A que o senhor atribui o crescimento do número de evangélicos no país?
Sempre digo que é preciso ter, pelo menos, três pilares. O primeiro é possuir uma expressão de louvor a Deus. As igrejas evangélicas têm músicas que cantam e fazem derramar a nossa alma diante do Senhor. Elas penetram no nosso coração. Outro pilar é a pregação da palavra. Eu preciso entender o que eu leio. Quando o pregador prega a palavra, as pessoas entendem. O último pilar é o amor, é o se importar com o outro. Aqui na nossa igreja nós recebemos, abraçamos, oramos pelas pessoas. Estamos ao lado dos fiéis nos momentos difíceis. O louvor, a palavra e o amor em ações concretas: é isso o que faz a diferença. Por isso, a igreja evangélica vem crescendo. Nós nos importamos com as pessoas, assim como Jesus Cristo. Ele não veio ao mundo ser um religioso. Ao contrário, sentava-se com as prostitutas e com os cobradores de impostos. Ele veio para os perdidos. A igreja de Jesus é essa. Não uma igreja indiferente com as necessidades do outro. É uma igreja para todos.
Se um pastor anda com carro velho, as pessoas dizem que ele não é próspero. Se ele anda com um carro novo, elas dizem que roubou. A Bíblia ensina que 'nada temos se do Céu não recebemos
Os pastores são muito eficientes em atrair, mas também em manter seu rebanho, não é?
A Bíblia diz que “quem dá o crescimento para igreja é o Espírito Santo”. É o Senhor Jesus Cristo quem traz as pessoas. Para uma pessoa ficar aqui horas ouvindo o pastor, não é ele quem está falando, mas, sim, o Espírito Santo. Precisamos ser um canal de Deus para o Espírito Santo agir na vida das pessoas. É claro que o meu testemunho de vida, o ministério que Deus me deu, eu não posso jogar fora. Mas quem faz isso tudo é o Senhor.
Ainda existe o estigma de que os pastores só querem arrecadar dinheiro. Como o senhor enfrenta esse tipo de preconceito?
Se um pastor anda com carro velho, as pessoas dizem que ele não é próspero. Se ele anda com um carro novo, elas dizem que roubou. A Bíblia ensina que “nada temos se do Céu não recebemos”. O mesmo Deus que opera milagres na vida do meu irmão é o mesmo que prospera na minha vida. Mas nós somos do reino do Senhor e vamos levar pedradas. Jesus Cristo disse isso. Oro para que todos tenham compreensão do reino de Deus. O amor ao dinheiro só leva à destruição. O que arrecadamos é revertido em projetos sociais da igreja, como a casa dos cegos, das madalenas, das vovós, dos surdos e dos moradores de rua. O dinheiro não é para nós. Mas tenho meu salário, é claro. É Ele que tem prosperado a minha vida.
Existe uma relação entre a ascensão da classe média e o crescimento das igrejas evangélicas?
Creio piamente no que a Bíblia diz: “Aquele que serve ao Senhor, o Senhor prospera na vida dele”. Hoje, você não vê ninguém na igreja do Senhor mendigando o pão. Ele prospera a vida das pessoas que entram no reino do Senhor. Já vi casos de pessoas que tinham a vida toda arrebentada e, quando estão com o Deus, Ele vai restituindo a vida dessa pessoa. Ela vai conquistando seu carro, sua casa. As coisas vão acontecendo dentro da comunidade cristã.
Na Lagoinha vocês praticam o exorcismo?
Se entrar alguém endemoniado ou se ligarem falando que um ente da família está com demônio, nós vamos lá expulsá-lo. É uma ordem do Senhor.
Deixe uma mensagem final para os fiéis das igrejas em todo o país.
Nós somos o corpo de Cristo e não há diferença entre nós e Ele. Somos uma única igreja. Temos costumes diferentes, maneiras distintas de pregarmos a palavra, mas, no fim, é a mesma palavra. Somos um único corpo amado por Jesus, nosso único e suficiente salvador. Precisamos viver nessa unidade. Se nós vivermos unidos, vamos ver milagres em nossa na vida.