Música de gente grande

Apesar da pouca idade, as 75 adolescentes que participam da Orquestra Sol das Gerais dão um show de musicalidade ao incluir em seu repertório canções que vão do barroco ao popular

 

 

 

Fernanda Rondis

Ao som de violinos, violoncelos e flautas, a Orquestra Jovem Sol das Gerais vem encantando o público mineiro há mais de seis anos em suas apresentações profissionais. Ao todo, 75 meninas fazem parte do Gente Grande, projeto que, além de música, direciona adolescentes de baixa renda para a sociedade produtiva.

A sinfonia dessas 25 meninas – 50 ainda estão em processo de aprendizagem –, por instantes, nos faz esquecer que elas ainda são tão jovens. Em suas apresentações, a orquestra conta com a participação de grandes artistas, como o percussionista africano Mamour Ba, o cantor e compositor Maurício Tizumba, o percussionista Marcos Lobo, o violinista e violista Eliseu Barros e o pianista alemão Walter Lang.

O Sol das Gerais, diga-se de passagem, além dos instrumentos de corda e sopro, possui um belo coral de vozes. O repertório, que vai do barroco ao popular regional, faz uma miscelânea de estilos que consegue atrair diferentes públicos, além de expandir a cultura e

a técnica musical das meninas.

“Nossa primeira apresentação foi com o africano Mamour Ba, o Maurício Tizumba e o Marcos Lobo. O contato com esses artistas deu um gás novo para as meninas, que passaram a exigir mais de si mesmas como profissionais. Desde então, a orquestra tem sido bem solicitada”, explica a coordenadora e idealizadora do projeto, Vânia Mendes.

 

 

Gente Grande

O projeto Gente Grande nasceu em 1994 com a coordenação da psicóloga Vânia Mendes, que tinha o sonho de tirar meninas carentes das ruas. O objetivo é promover a inclusão social de garotas que moram nos bairros periféricos de Betim, Contagem e Belo Horizonte. Hoje, a iniciativa é promovida por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e de parcerias com empresas privadas. O espaço onde é realizado o projeto e os ensaios é cedido pela Jabil do Brasil em comodato com a Usifast e fica localizado na Jabil, empresa situada às margens da BR-381, em Betim.

Segundo Vânia, o PPG – como é carinhosamente chamado por ela – é inovador porque oferece às garotas incentivo na educação, por meio das aulas de reforço, da capacitação para o trabalho, por meio de uma parceria com o Senai Social e de atividades socioeducativas, como o coral. “Com a música clássica, as meninas, que têm entre 12 e 18 anos, vislumbram a possibilidade de um futuro melhor”, afirma Vânia.

É o caso de Jayne Campos, 18, aluna do projeto há cinco anos. “Antes de participar da orquestra, eu ficava muito na rua, fazia bagunça e tinha muitos problemas na escola. A música me ajudou a crescer como pessoa. Conheci pessoas novas, aprendi a me comunicar melhor e melhorei no colégio”, conta a jovem, ao ressaltar que nunca imaginava participar de uma orquestra. “É muito bom ter a música na minha vida. Quero ser cantora e continuar a tocar violino. Já até componho canções”, revela.

Orquestra Jovem

Vânia explica que, quando iniciou o projeto, não existia a orquestra. Ela, então, ensinava artes manuais. “Como sou apaixonada e já conhecia um pouco de música, em 2005, decidi criar o coral. A música habilita a pessoa a fazer as coisas benfeitas. Ela disciplina, mas, ao mesmo tempo, é divertida. É preciso ser bom e saber trabalhar em grupo”, afirma a psicóloga.

As meninas do Sol das Gerais, além de terem de se dedicar ao colégio e participarem de cinco ensaios semanais, retribuem toda a dedicação de Vânia e da equipe de professores, ao realizarem belas apresentações, com muito profissionalismo.

A aluna Ketlen Júlia, 17, diz que participar do projeto tem auxiliado muito no seu dia a dia. “O Gente Grande me ajudou a crescer e me ensinou a dialogar, pois eu era muito grosseira com as pessoas. Através das aulas de reforço que faço aqui, também melhorei muito na escola”, conta.

 

 

Serviço

Para conhecer mais sobre o projeto Gente Grande, o telefone de contato é o (31) 9374-7380