O PODER DA ALEGRIA
Cultura: Por Domingos de Souza Nogueira Neto*
Criado em 23 de Novembro de 2015
Cultura
NINGUÉM PODE DESCONSIDERAR O FATO DE QUE, em todos os ramos dos fazeres e dos saberes da humanidade, existe um tipo de pessoa que se destaca: a motivada. O trabalhador motivado é feliz com a sua atividade, extrai alegria de cada pequena vitória e começa cada dia na expectativa de vivê-lo plenamente.
Mas existem pessoas que são o contrário disso, que vivem cada dia como se fosse um fardo, cada desafio como se fosse impossível superá-lo, e seguem como uma “chaga exposta”, sensível ao olhar do outro, esmagadas por responsabilidades que desejavam não ter, ansiosas pelo fim do dia, pela noite e pelo sono. Não há dúvida de que o mundo não faculta a todos possibilidades iguais, de que nossos modelos de produção, a judicialização de nossas relações sociais, nossos comportamentos fundados no egoísmo e na ganância são um obstáculo à nossa felicidade. Mas uma sociedade de deprimidos é impotente para mudar o mundo.
Exemplos não faltam para essa tese, mas vou citar apenas um, o do físico, teórico e cosmólogo britânico Stephen William Hawking, um dos mais consagrados cientistas da atualidade. Doutor em cosmologia, foi professor de matemática na Universidade de Cambridge, onde hoje se encontra como professor emérito, posto ocupado por Isaac Newton, Paul Dirac e Charles Babbage. Atualmente, Stephen é diretor de pesquisa do Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica (DAMTP) e fundador do Centro de Cosmologia Teórica (CTC) da Universidade de Cambridge.
Hawking é portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo, sem, no entanto, atingir as funções cerebrais, sendo uma doença que ainda não possui cura. A enfermidade foi detectada quando ele tinha 21 anos. Em 1985, após ter contraído pneumonia visitando o Cern, maior laboratório de física do mundo, na Suíça, Hawking teve de se submeter a uma traqueostomia e, desde então, utiliza um sintetizador de voz para se comunicar.
Gradualmente, foi perdendo o movimento de seus braços e pernas, assim como do resto da musculatura voluntária, incluindo a força para manter a cabeça erguida, de modo que sua mobilidade é praticamente nula. Em 2005, o cientista usava os músculos da bochecha para controlar o sintetizador e, em 2009, já não podia mais guiar a cadeira de rodas elétrica. Desde então, outros grupos de cientistas estudam formas de evitar que Hawking sofra da síndrome do encarceramento, cogitando traduzir os pensamentos ou as expressões dele em fala. A versão mais recente, desenvolvida pela Intel e cedida a Hawking em 2013, rastreia o movimento dos olhos do cientista para gerar palavras.
Em 1993, ele participou de um episódio da série “Star Trek: The Next Generation”, atuando numa cena em que era um holograma, conjuntamente com Newton e Einstein. Em 94, fez a voz digital em “Keep Talking”, na gravação do disco do Pink Floyd “The Division Bell”. Participou de “The Simpsons”, “Futurama”, “Dexter's Laboratory”,“The Fairly OddParents”, “Family Guy” e do cartoon “Dilbert”. Recentemente, atuou numa propaganda do Discovery Channel chamada “Eu Amo o Mundo”, em que ele disse "Boom De Ya Da".
Em 2012, participou de um episódio de “The Big Bang Theory”, no qual conversa com Sheldon Cooper, que comete um erro básico de aritmética e desmaia na frente de Stephen. No mesmo ano, Hawking leu um discurso durante a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos de Verão, em Londres.
Stephen Hawking, não obstante esteja fisicamente destruído, não só mantém um moral elevado, fazendo essas participações, como mostra uma inquestionável capacidade de rir da própria doença e de sustentar-se sem ser capaz de mover um único músculo, sendo um dos cientistas mais ativos do século XX e mais brilhantes da história da humanidade.
Muitos de nós podem andar, correr, fazer amor, estudar e trabalhar, mas rastejam pelo mundo lamuriando seus infortúnios como se o mais insignificante deles os tivesse matado em algum lugar da história. Para esse homem, não é assim. Ele não só vive com suas dificuldades, como diverte-se, fazendo pouco delas e comemorando cada pequena vitória com uma grande festa moral.
Trata-se, então, de motivação, de comprometimento em viver bem a cada dia, o que Freud chamaria de uma grande vitória da libido sobre a tanatos, de nossa vontade de vida sobre nossa pulsão pela morte, causada pela alegria de ter encontrado, na realização da vocação pela ciência, uma indestrutível alegria de viver.
Existe, portanto, uma única razão para que cada um de nós esteja motivado, viva bem e, assim, progrida e encontre a felicidade. Qual? Bem, é isso o que você tem de descobrir.
* Crítico de arte, professor de judô, estudioso de direito, filosofia, sociologia, história e psicanálise