RESSUSCITANDO FLORESTAS
Recentemente, passando por um condomínio na cidade de Brumadinho (MG), fiquei observando as belas casas de campo, a arquitetura e o paisagismo, mas fiquei incomodado com uma sensação que descreveria como o “vazio dos gramados”.
As pessoas se afastam da cidade em busca do silêncio, da reaproximação com a natureza e, ao encontrarem-nos, retiram da natureza o que elas consideram que não deve fazer parte dela, como se o homem fosse o juiz, ou pior, como se o dono fosse o juiz, a decidir o que deve viver e morrer na mata.
Vêm então os gramados, enormes, impecáveis, irrigados por litros e litros de água que jorram de aspersores incansáveis, que não servem a nada, a não ser à nossa própria vaidade, sempre a serviço do vazio. Depois, vêm as roseiras, os coqueiros, as buganvílias, os imbés, os pés de manga, os coqueiros, os antúrios, as espadas-de-são-Jorge, as jiboias, os lírios, as laranjeiras, os abacateiros, os pés de tangerina. E saem os jequitibás, os jacarandás, os ipês, as quaresmeiras, os palmitos, os manacás, os paus-ferros, as sibipurunas, as caviúnas e o paus-brasis. Saem orquídeas nativas, que são substituídas pelas vistosas orquídeas criadas pelo homem.
Ocupamos, então, nossos espaços em condomínios – caros e para poucos – e, em busca da natureza, tratamos de urbanizá-la e de despi-la de nossos assombros para torná-la confortável. Cheguei a ouvir que os micos-estrela da região eram um estorvo e que importunavam todos, roubando comida e, pasmem, invadindo as residências e fazendo bagunça. E fiquei imaginando que os belíssimos micos-leões-dourados devem ter sido vítimas desse discurso para chegarem tão próximos da extinção.
Fiquei então pensando que muita de nossa riqueza ostentada é um pobre substituto de nossa pobreza interior, que buscamos o vazio porque somos vazios, que fugimos da cidade aterrorizados pelo que fizemos, mas que carregamos as urbes e a destruição conosco.
E que aqueles que têm poder, mas não se sentem demasiados, deveriam saber que qualquer tolo pode derrubar uma floresta, mas que há humildade e grandeza no gesto de ressuscitá-la, devolvendo a ela aquilo que deveria estar nela.
POR DOMINGOS DE SOUZA NOGUEIRA NETO - Crítico de arte, professor de judô, estudioso de direito, filosofia, sociologia, história e psicanálise