Um betinense de garra
Casado e pai de duas filhas, ele começou a vida trabalhando com serigrafia. Vinte e seis anos depois, sua pequena empresa de silk screen, a Cor & Arte, cresceu e, hoje, tornou-se uma das referências no mercado local quando se fala em comunicação visual e impressão digital. Conheça mais sobre a trajetória de Fabrício Freire Fernandes, 42, um empresário que acreditou no seu potencial e correu atrás de seus sonhos.
Lisley Alvarenga
REVISTA MAIS- Como surgiu a Cor & Arte?
FABRÍCIO FREIRE - A fundação da empresa aconteceu em 30 de outubro de 1986. Na época, eu tinha apenas 16 anos. Por isso, oficialmente, só assumi a sociedade da empresa dois anos depois. Antes disso, a Cor & Arte estava registrada apenas no nome da minha mãe e do meu tio Elias, já que eu era menor de idade. Aos 18 anos, fui emancipado e pude entrar no contrato social. Meu tio e eu éramos sócios. Ele vendia e eu produzia.
A empresa foi seu primeiro emprego?
Não. Comecei a trabalhar aos 12 anos,em uma empresa de um amigo chamado Jorge. Na época, ele prestava serviço para a Brahma, pintando luminosos, e eu atuava como ajudante dele. Quando a fábrica de bebidas foi vendida, saí da empresa e ele me deu seu material de silk screen para que eu pudesse trabalhar em casa. Depois disso, atuei como balconista na loja, do Roberto, na Betim Parafusos. Fiquei lá por um ano. Mas, como gostava mesmo era de serigrafia e acreditava que podia crescer nesse ramo, larguei meu emprego e voltei a trabalhar com silk screen.
Foi nessa época que desistiu de entrar para a Fiat?
Sim. As pessoas acharam minha decisão uma loucura. Toda mãe queria ver seu filho trabalhando na montadora. Por isso, entrei para um curso de processamento de dados que a Fiat estava promovendo. Um dos requisitos para ter o diploma técnico era que os alunos fizessem um estágio remunerado na fábrica que, posteriormente, poderia se transformar em um contrato. Fiquei entre os quatro melhores estudantes e, com isso, me vi numa situação difícil. Trabalhar na Fiat não era o que eu queria para a minha vida e, se eu fosse para lá, não conseguiria conciliar os estudos, a fábrica e a Cor & Arte. Então, tomei a primeira grande decisão da minha vida. Fiz a prova técnica e, mesmo sabendo bem as questões, não a entreguei. Isso fez com que me chamassem a atenção, até pelos próprios professores.
O que fez depois?
Passei a trabalhar por conta própria em um antigo quartinho de costura da minha mãe, nos fundos de casa. Após um tempo, comprei a parte do meu tio na empresa e transferi a Cor & Arte para um galpão alugado no bairro Filadélfia. Depois me mudei para um prédio no centro e em 1995 fui para a avenida Edmeia Matos Lazzarotti, onde estamos até hoje. Na época, muitas pessoas criticaram minha atitude, já que eu havia instalado a Cor & Arte em uma via que ainda era de terra. Hoje, é uma das principais avenidas de Betim.
Hoje a Cor & e Arte é uma das referências na região em comunicação visual e impressão digital. Sente-se orgulho desse mérito?
Claro. Não gosto de deixar as coisas pela metade. Por isso, apesar das adversidades, acreditei no potencial da empresa e corri atrás do que queria. A Cor & Arte sempre foi referência, implantou as melhores tecnologias do ramo em Betim e conta com equipamentos de ponta. Sempre busquei estar atento as tendências de mercado. Quem não faz isso se acomoda. Já tive propostas de levar a empresa para outras cidades e até para outros Estados. Mas não quis sair daqui. Gosto muito de Betim.
Como foi a sua infância?
Nasci e fui criado em Betim e, por isso, criei muitos vínculos na cidade. Morava próximo à rua Pará de Minas, no centro. Minha turma gostava de brincar em frente ao Ceabe e sob o “pontilhão”, uma passagem de nível localizada em frente à ONG Arca, na avenida Edmeia. Gostávamos de atravessar o rio Betim, era uma aventura. Quando criança, estudei no tradicional e extinto colégio Tio Amélia. Depois, na adolescência, fui para a Escola Estadual Afonso Pena, no Brasileia. Adorávamos andar de carro na avenida Bandeirinhas, fazíamos parte da turma do Over Night. Nos fins de semana, nos reuníamos, comprávamos Coca-Cola, dividíamos uma entre nós e ficávamos batendo papo em frente ao bar. Era ótimo. Digo sempre que vivi uma das melhores fases de Betim. Naquela época, nós podíamos ir para a escola e voltar a pé, coisa que hoje não acontece mais.
Foi na adolescência que conheceu a sua esposa, Cristiane?
Sim. Nesse período, os jovens daqui participavam de grandes gincanas e eu fazia parte de uma conhecida como Caravela. Lembro que, numa noite, nos reuníamos na casa do Jorge, meu amigo e proprietário da primeira empresa em que trabalhei. Quando entrei, vi-a pela primeira vez. Apaixonei- me no primeiro instante.
Então sua esposa foi sua primeira namorada?
Ela foi meu primeiro relacionamento firme. Foi com ela que tive de ir à casa do meu sogro, sentar no sofá, pedir em namoro e enfrentar a seriedade do pai, Seu Zermiane, hoje falecido. Apesar do aperto que passei, ele e eu nos tornamos grandes amigos. Ele foi um segundo pai para mim.
Sua filha mais velha começou a namorar há pouco tempo. Tem muito ciúmes?
Dá para pular essa parte? Brincadeiras à parte, isso não é questão de ciúmes. Para os pais, os filhos são e sempre serão crianças. Nós queremos protegê-los o tempo todo. Sempre torci para que minhas duas filhas encontrem uma pessoa bacana. Por isso, busco ter uma boa relação com os amigos e as amigas delas. Realmente, agora, minha filha mais velha começou com uma paquera. Esperamos que a relação dê certo.
O que gosta de fazer nas horas vagas?
Além de ver filmes e escutar música, gosto de ir para o nosso cantinho na região da Várzea das Flores. É um local perto e muito aconchegante.
É verdade que o senhor aprecia escutar músicas bregas?
Na verdade, não gosto só desse tipo de música. Aprecio canções antigas. Elas têm mais história e não só um “batidão”, como a gente escuta hoje. Curto escutar Sidney Magal, Amado Batista, mas gosto também de bandas como Capital Inicial e Legião Urbana.
O senhor tem nesse sítio uma jukebox?
Sim. Essa vitrola é a sensação entre meus amigos e é mais antiga do que eu. Consegui através de um colecionador de Belo Horizonte. Ele tinha sete máquinas. Com muita insistência, me cedeu uma delas. Depois disso, passei a colecionar discos, ganhar de amigos, ir às lojas do ramo para comprá-los. Hoje, tenho cerca de 4.500 vinis. É um hobby bem prazeroso. Nesse meio você conhece muita gente bacana.
Na campanha de 2012, o senhor foi cogitado para ser o vice de Carlaile. Sente-se orgulhoso por isso?
Muito. Mas, apesar dessa satisfação, isso para mim foi uma surpresa. Nunca cogitei um cargo político, mesmo atuando nisso desde 1988. Isso porque eu nunca me candidatei, apenas prestava serviço para os políticos. Meus primeiros trabalhos foram para o Cristiano Chaves, ex-prefeito de Igarapé, e o então prefeito de Betim Osvaldo Franco. Ambos morreram em trágico acidente de avião, quando voltavam de Brasília, no Distrito Federal. Fui eu quem fez a impressão dos adesivos e das camisas da campanha deles. Na época, essas propagandas eram permitidas pela Justiça. Mas já participei de várias campanhas. Posso dizer que prestei serviço para todos os partidos políticos de Betim, sempre com muito profissionalismo e isenção.
Por isso, acredita que foi convidado para ser o vice do atual prefeito?
Na verdade, eu já era amigo do Carlaile bem antes de entrar para a campanha dele. Minha empresa imprimia os uniformes de camisas de time de futebol que eram vendidos na loja de material esportivo dele. Quando eu comecei na Cor & Arte, citar o nome do empreendimento do Carlaile como meu principal cliente era uma forma de a minha empresa abrir portas. Isso nos aproximou muito. Construímos uma amizade.
E como o convite aconteceu?
No início de 2012, lembro que estávamos voltando de um jogo do Atlético, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. Sentei-me ao lado do Carlaile no ônibus. Começamos a conversar e ele me perguntou se eu tinha a intenção de entrar para a política. Na época, achei que ele estava sugerindo que eu me candidatasse como vereador. Respondi que não. Depois de uns meses, nos reencontramos no Kartódromo Internacional de Betim. Carlaile se aproximou de mim e me questionou se eu me lembrava da conversa que tivemos e se eu toparia entrar com ele na campanha. Prontamente respondi que com ele eu topava qualquer coisa. Se ele achava que eu dava conta, eu estaria ao lado dele. Mas, no fundo, não acreditava nessa possibilidade. Todo mundo queria ser vice do Carlaile e muitas pessoas tinham muito mais experiência política que eu. Além disso, na época, Carlaile tinha um vice desde 2008: o Pinduca. Mas, como ele não pôde fazer parte da chapa, ficou mais uma meia dúzia de opções para o páreo e, apesar de eu não ter sido o escolhido, só de ter sido cotado para tal já foi um orgulho.
Hoje o senhor está à frente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. É um desafio?
Muito. Ainda mais conseguir conciliar a prefeitura com a minha empresa. Mas tenho uma ótima equipe na Cor & Arte e, no governo, penso que essa é uma oportunidade de eu, como cidadão betinense, poder fazer algo de bom por Betim.
Sente-se realizado? Tem algum sonho?
Sou muito grato por tudo que conquistei. Mas não posso me considerar um homem realizado. Temos de sempre buscar fazer mais. A Cor & Arte ainda tem muito chão pela frente. Temos de sempre inovar. Quero manter a empresa na vanguarda do setor. Já na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, meu objetivo é trazer crescimento para a cidade.