Um boêmio de família

Entrevista - Renato Souza Freitas

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Criado em 16 de Setembro de 2013 Conversa Refinada

Fotos: Deivisson Fernandes

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Empresário, pai zeloso, solteirão convicto, torcedor do Atlético Mineiro e um defensor da cultura em Betim. Renato Souza Freitas, fundador do tradicional Bar do Renato, no bairro Angola, conta de onde vem sua alma festeira e elenca, com orgulho, suas conquistas profissionais
 
Viviane Rocha
REVISTA MAIS – O senhor é filho do Seu Didico, conhecido em Betim por sua tradicional relojoaria. Conte-nos sobre sua família.
 
Renato Freitas – Minha mãe é de Betim e se aposentou como professora, mas também foi comerciante, teve uma loja de roupas no Angola. Somos quatro filhos, e todos temos sangue de comerciante, assim como meu pai, mas sou o único que não me identifiquei com o ramo dele. Desde os 17 anos, trabalho no comércio e, há 22, tenho o Bar do Renato.
 
Por que decidiu investir em outro segmento?
Gosto da noite. Além do bar, tenho uma empresa de promoções de eventos, organizo o Betiquim (um dos maiores festivais gastronômicos da Grande BH) e outros eventos, entre eles a Super Festa, maior festa itinerante que a cidade já teve e que pretendo voltar a realizá-la. Fora isso, promovo outras festas tradicionais no meu bar, como o seu aniversário, a quadrilha Desorganizada, eventos beneficentes, enfim, sou um cara que gosta de trabalhar à noite. Eu atuava em um banco e, quando tinha 17 anos, resolvi abrir o bar. Não quis trabalhar na relojoaria. Montei o bar, que, graças a Deus, deu muito certo. Já com a minha empresa de eventos, a Kiev, realizamos muitos festivais gastronômicos em outras cidades, como São Joaquim de Bicas, Esmeraldas, e temos propostas de outras cidades, além do Betiquim, é claro, que é um sucesso. O festival completa nove anos e entrou para o calendário de eventos do município, em 2010.
 
Considera-se um boêmio?
Sim. Gosto muito da noite, mas não é só como profissão. Eu me identifico muito com ela, acho que as coisas acontecem melhor à noite, sempre fui assim, desde a infância. Minha mãe conta que eu brincava de madrugada e dormia durante o dia e. Na fase escolar, era a mesma coisa, passava a madrugada inteira estudando, para descansar durante o dia. Não podia ser diferente.
 
Casamento, nem pensar?
Por enquanto, não.
 
Por quê?
É um estilo de vida. Prezo muito minha liberdade, adoro passear. Viajo de duas a três vezes por ano e, sempre que posso, faço pelo menos uma viagem internacional. Essa coisa de relacionamento, compromisso, não combina muito com meu jeito de viver.
 
Quais as viagens que mais te marcaram?
Foram muitas, mas a Copa do Mundo da Alemanha em 2006, foi especial. Já estive em Roma, Amsterdã, Luxemburgo, Paris, Panamá, Nova York, mas igual o Brasil não tem! Não há em nenhum lugar do mundo praias, belezas naturais tão bonitas quanto as nossas. Estive em Natal recentemente e, fiquei impressionado. Gosto muito do Rio de Janeiro também. E no final do ano, vou unir o útil ao agradável, e viajar para Marrocos para ver o Galo no Campeonato Mundial. Viajar é a única coisa que você gasta e te faz mais rico.
 
Como foi acompanhar a campanha do Atlético Mineiro na Libertadores da América?
Muito apertado, porque sou hipertenso e fui ao Mineirão assistir à final contra o Olímpia do Paraguai. A campanha toda do Galo nesta Libertadores foi de muita emoção, mas, como diz o ditado: “Se é o do Galo, tem que ser sofrido”. Na realidade, eu não tinha ido aos outros jogos porque meu bar tem a tradição de transmiti-los. Em alguns jogos, coloquei telão na Praça do Óleo, mas, neste, em especial, tive de fechar o bar e fui assistir à partida no campo. Eu tinha de ver o Galo ser campeão. Nesse dia, cheguei em casa às 7h da manhã.
 
Está namorando?
Solteiro, sim; sozinho, não.
 
Mas você é um boêmio que gosta apenas de aproveitar a noite ou também é mulherengo?
Sou um boêmio nato.
 
Como é a relação com seus filhos?
Melhor impossível. O Bruno (11 anos) não é apenas meu filho, é meu amigo, meu companheiro. Passeamos e viajamos juntos. Ele já está até se arriscando a me ajudar no bar. Já com o pequenininho, o João Renato (2 anos), estou naquela fase gostosa de quando se tem um bebê na família. Maravilhoso.
 
Seu bar também é conhecido pelos shows de música ao vivo. Qual é a sua relação com os músicos de Betim? Costuma selecionar as bandas de acordo com o seu gosto musical?
Por estar na noite, trabalhar com festas e com o bar, tenho muitos amigos músicos. A maioria deles me pede para se apresentar apenas por paixão, por fomento à cultura, sem se preocupar com dinheiro. Sempre rolou muito isso. Gosto de sertanejo, samba de raiz, mas rola de tudo, tem para todos os gostos.
 
Hoje ainda tem música ao vivo no bar?
Não, em função de uma autuação judicial, assim como em outros bares, preferi suspender as apresentações musicais temporariamente.
 
Os donos de bares pretendem se unir para negociar essa questão?
Tem pouco tempo que parei totalmente com os shows de música no meu bar. Eu estava com um projeto de pop rock, às quintas-feiras, e tive de interrompê-lo por conta disso. Acho que se deve, sim, limitar o horário para som, mas do jeito que está é uma pena, castiga ainda mais a cidade. Nós não temos tantas opções de lazer, como boates e teatros. São apenas duas ou três casas de shows para uma cidade do tamanho de Betim, e ir para Belo Horizonte também ficou complicado por conta da Lei Seca. Betim vive quase que exclusivamente de bares e, agora, também estão limitando esse tipo de entretenimento aqui. Fui convidado a participar de uma comissão com os donos de bares e músicos da cidade para tentar negociar essa questão, e é claro que vou participar. Além de ser ruim para os comerciantes, é um prejuízo para os músicos e os artistas da cidade, que ficam sem espaço para se apresentar. No geral, Betim está perdendo muito com isso.
 
 
Conte-nos um pouco da história do Betiquim até chegar ao sucesso que é hoje.
Não tinha lugar melhor para surgir o Betiquim do que dentro de um boteco: o meu. Lembro que eu estava conversando com os meus amigos, no início de 2005, e falávamos sobre o Comida di Buteco, em Belo Horizonte. Aí surgiu a ideia. Como trabalho com bar e já atuava com eventos na noite, decidimos tentar fazer um festival semelhante aqui. Ficamos animados. Montamos um projeto e apresentamos à prefeitura (na época, Carlaile Pedrosa era prefeito do município). Ele e o secretário de Turismo da época gostaram. Tivemos de buscar patrocinadores e passamos muitas dificuldades por ser o primeiro ano do festival. Pouquíssimos bares toparam participar. Com muito custo, conseguimos a adesão de alguns estabelecimentos e, mesmo com as dificuldades, o evento foi um sucesso. Hoje, nosso problema é selecionar os estabelecimentos que vão participar, porque todos têm interesse. Alguns patrocinadores estão conosco há quatro anos, um sinal de que o evento dá retorno para as empresas. No primeiro Betiquim, tivemos a presença de 10 mil pessoas e, neste ano, a expectativa é de que 50 mil passem pelo festival.
 
Além do seu trabalho, que também é seu lazer, dos jogos do Atlético e das viagens, o que costuma fazer quando quer se distrair?
Sou boêmio, mas sou muito família também. Qualquer tempo livre que tenho, pego as crianças e vamos ao cinema, passear juntos ou vamos para casa ou sítio de amigos e de parentes. Aproveito para ficar com eles. Mas para quem trabalha em bar, especificamente com a noite, como eu, é muito difícil conciliar esses momentos de família e profissão.
 
Você sempre fez questão de morar em Betim?
O que a cidade representa para você? Nunca saí nem do bairro Angola. Aqui é a minha casa. Não deixo ninguém falar mal de Betim. Já fiquei muito tempo fora durante as viagens, conheço muitos lugares, mas a mesma sensação que tenho ao viajar é a mesma que tenho ao retornar para casa. Gosto muito daqui. É uma cidade que tem defeitos, mas qual não tem? É bom demais sair nas ruas e ouvir as pessoas chamando-o pelo apelido, filho de fulano, neto de beltrano. Faço questão de passar esses valores para os meus filhos.
 
 
Qual o principal valor que seus pais lhe transmitiram?
Dar importância para família, que é o nosso alicerce. Amizades passam, quer dizer, as verdadeiras, que são raras, permanecem. Meus pais me ensinaram o valor do trabalho e da família, porque, na hora da necessidade, quem nos apoia mesmo é ela.
 
Como avalia o crescimento e a consolidação do seu bar?
Ele já faz parte da história de Betim. É raro um estabelecimento neste ramo ter 22 anos de existência. Fico feliz de ver os filhos dos primeiros frequentadores se tornarem clientes. É raro achar em Betim um músico que não tenha se apresentado aqui. Tivemos outros bares que fizeram história, como o Jó Só Peixes, do meu saudoso Tio Jó, o Over Night, o Bar da Paia, também do meu saudoso amigo Pom, Beer Burguer, Buteco Teco, mas, enfim, um dia tudo chega ao fim
 
Há pouco tempo também você está trabalhando na prefeitura, não é?
Nesta gestão estou lá desde quando o prefeito Carlaile assumiu, mas também já trabalhei com ele em sua primeira administração, na divisão de eventos. Desde então, assumi a Coordenação da Comoveec (Comissão de Monitoramento da Violência em Eventos Esportivos e Culturais). É daqui que são emitidos os alvarás para qualquer evento esportivo e cultural da cidade. É uma função que diz respeito à minha área, então, sei muito bem quais e como os eventos podem trazer benefícios para o município. Também prestamos auxílio técnico para aqueles que estão tendo dificuldade em cumprir as normas para a sua realização.
 
Acredita que nunca vai largar a vida boêmia?
Claro que vou. Já tenho 40 anos, e tem uma hora que o ritmo vai diminuindo. Já estou sofrendo isso na pele, de perder o pique para sair. Mas tem gás ainda para mais alguns anos.
 
Você disse anteriormente que vai retornar com a Super Festa. Quando isso vai acontecer?
Há quase 10 anos não realizamos a festa, que, na maioria das suas edições, foi promovida em sítios. As melhores delas foram no Las Casas, no bairro Cidade Verde. Reuníamos a turma de Betim e realizávamos shows de artistas, quase sempre daqui. Estou ensaiando a volta da Super Festa desde o início do ano, mas, com a função agora na Comoveec e em decorrência de algumas viagens, o planejamento para a volta do evento ficou um pouco de lado.
 
Por que a Super Festa acabou?
Acho que teve muita influência do Betiquim, que toma muito o meu tempo. Começo a organizar o evento em maio e ele só termina em outubro. Nos meses de novembro e dezembro chove muito, o que inviabiliza a sua realização. Então, só tenho, de fato, os meses de janeiro a abril para promovê-lo. Mas, agora, vamos retornar com ele.
 
Quais os planos para o futuro?
O meu bar é o meu xodó. Enquanto Deus me der saúde, continuarei trabalhando lá. Não tenho planos de sair dali nunca. Não sei se vou mais 22 anos, mas quero continuar.
 
E em relação aos seus filhos?
Quero que eles estudem e sejam muito felizes. Vou estar sempre do lado deles, assim como meus pais estiveram do meu.
 
Está satisfeito com tudo o que conquistou?
Sim, muito. Sou um homem muito feliz. Gosto do que faço, tenho uma família que amo, tenho amigos, muitos deles feitos no bar. Só peço a Deus saúde e paz para continuar minha caminhada.
 
Algum sonho?
Assim como os filhos foi um sonho realizado, agora, quero ter netos e bisnetos. Quero acompanhar tudo isso, mas meus filhos ainda são muito novos. Fora isso, quero viajar muito ainda, tenho vontade de conhecer muitos lugares, como Cuba. Parece ser um lugar fascinante.

 




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