Uma nova perspectiva
Papo sobre Política
Criado em 23 de Novembro de 2015
Papo sobre Política
Há pouco mais de 20 anos, o fundador da Hewa Engenharia, Wenceslau Álvares Francisco de Moura, 50, trocou a vida na capital mineira por Betim. Aqui, criou os três filhos – atualmente, dedica-se a criar o quarto, Murilo, de 3 anos, fruto do segundo casamento, com Sália Moura – e prosperou nos negócios. Agora, Moura quer afastar-se das fórmulas matemáticas para explorar um campo marcado por instabilidades – a política. Para isso, vai apostar no perfil empreendedor, na vocação da família e na vontade de fazer a diferença. Em um bate-papo com a revista Mais, o pré-candidato a prefeito de Betim pelo Partido Ecológico Nacional (PEN) fala sobre seus ideais e explica por que decidiu concorrer ao posto mais alto do Executivo municipal.
Julia Ruiz
WENCESLAU MOURA CHEGOU a Betim para “construir sonhos” literalmente. Os dele e os de diversos moradores da cidade. O pai era sócio de uma empresa de carvão vegetal e vendeu sua fração, recebendo alguns imóveis no município. “Eu me casei em 1988 e vim para uma dessas casas, no Angola. Na época, eu trabalhava numa construtora em Belo Horizonte, mas logo assumi a administração das carvoarias de meu pai. Em 1995, eu e meu pai decidimos construir a Hewa Engenharia Ltda.”. Graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Wenceslau considera-se mais administrador do que engenheiro. “Domino bem o cálculo de estruturas, mas o que faço mesmo é administrar minha empresa”, revela o empresário.
Neste ano, a Hewa – resultado da mescla dos nomes do pai, Walter Moura, e da mãe, Helena Moura – completou 20 anos com uma atuação muito bem-sucedida. Por isso mesmo, quem ouve falar de Wenceslau Moura pode não imaginar que não só o talento para a administração de empresas corre nas veias do engenheiro. A política também está em seu DNA. Na década de 1970, o avô foi prefeito, por duas vezes, em Morada Nova de Minas, na região Central do Estado, onde Moura nasceu. O pai seguiu o legado e governa o município pela quarta vez. “Ele tem 82 anos e possui um vigor impressionante. É um grande exemplo para todos”, diz, orgulhoso.
Apesar da força dos laços consanguíneos, seguir os passos do avô e do pai não estava nos planos de Wenceslau. Não que ele não se interessasse por política. “Sempre gostei de participar do desenvolvimento de Betim. E a forma que encontrei para contribuir foi atuando em conselhos e entidades representativas. Por exemplo, faço parte do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-MG) e do 35Plano Diretor de Betim. Também atuo na Associação Médio-Paraopebana dos Profissionais da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia (Ampea) e na Associação Comercial e Empresarial de Betim (ACE), antiga Aciabe”.
NOVO DESAFIO
Conforme explica Wenceslau, a pré-candidatura à Prefeitura de Betim é uma ideia que surgiu há uns dois anos e ganhou força. “Achei que tinha o papel de construir boas edificações para a cidade e opinar em seu desenvolvimento. Meu plano era me dedicar mais à família, pois já trabalhei muito. Porém, ao perceber que minha atuação nas associações não surtia efeitos para o bem comum como eu queria, entendi que era hora de fazer mais. O Brasil precisa de pessoas dispostas a promover mudanças, e isso deve começar pelos municípios, de modo que a soma dessas atuações mude a rota do país. De nada adianta criticar e ficar de braços cruzados”.
Wenceslau Moura sabe que terá desafios pela frente. Entretanto, acredita ter condições de vencê-los. “Encaro isso como uma nova etapa de vida. Creio que não terei dificuldades, pois também gosto de construir ligações entre as pessoas, com foco e sem medo de tomar decisões. Betim me deu tudo o que tenho, e posso retribuir exercendo a função de prefeito, com dignidade e honestidade”.
PROBLEMAS E SOLUÇÕES
O empresário sabe que o poder público tem seus entraves, mas alega que bons exemplos podem ser transferidos do setor privado para o público. “Conheço a estrutura do governo e fico triste de ver que o grande volume de recursos gerou uma máquina inchada, obsoleta e cara. Há 20 anos, a prefeitura era menor, e sobravam mais recursos para obras. Porém, os grupos políticos que comandam a cidade desde então não conseguiram trabalhar com metas e produtividade. Há uma má utilização dos recursos públicos. E, para que esse ciclo vicioso seja quebrado, é preciso que as pessoas se proponham a abraçar uma mudança efetiva”, defende. “Ações como a distribuição de cargos para a manutenção no poder devem ser banidas da política local. E os políticos de mais peso do município não têm condição de mudar esse cenário, pois estão presos a acordos pregressos”. A diminuição de secretarias, a informatização dos órgãos da administração e a transparência de atos do governo seriam, para Wenceslau, as primeiras iniciativas capazes de dar solução a alguns entraves. “É necessário enxugar o organograma e informatizar a prefeitura, além de propiciar a todos o acesso à informação”, sustenta Moura.
DISPARIDADES
Questionado sobre o fato de Betim possuir alta arrecadação, mas sofrer com grandes desigualdades, Wenceslau garante que algumas ações podem atenuar as diferenças e melhorar a qualidade de vida da população. “Sabemos que a prefeitura conta com recursos do governo federal para áreas como saúde e assistência social. Precisamos retomar a capacidade de investimento da cidade, priorizando a educação, o esporte e a cultura. Todos aceitam que um governo tenha dificuldades, desde que não se perceba o privilégio de uma parcela da população”.
Perguntado sobre o que município precisa para suprir suas demandas e avançar com qualidade, o empresário cita frase do estadista russo Mikhail Gorbachev, último líder da extinta União Soviética. “Um estadista faz aquilo que pensa ser melhor para seu país; um político faz aquilo que pensa ser melhor para ser reeleito”. “Betim precisa de estadistas, líderes. Estamos sendo direcionados pela imprensa e pelo Ministério Público, que, com suas denúncias e questionamentos, levam o prefeito a mudar suas ações. Isso não é administrar”, enfatiza.
Sobre as impressões que tem da cidade, Moura diz que viu Betim perder o “ar interiorano” que ainda tinha no início dos anos 90, mas que as carências de grande parte dos cidadãos não foram resolvidas. “Durante esses anos, Betim se transformou em uma cidade progressista e industrializada, mas, infelizmente, não reverteu esse desenvolvimento econômico em outros benefícios. Nossa cidade precisa e deve ser autossustentável”.
A CRISE E O GOVERNO
O momento econômico aponta para períodos de grandes obstáculos. Como governar bem diante desse cenário? Para Wenceslau, apesar das dificuldades financeiras de várias empresas, a cidade deve se recuperar rapidamente pelo seu poder de atrair novos investimentos. No entanto, ele faz uma ressalva: se o poder público não for inteligente, essa recuperação não virá. “O PIB do Brasil cairá mais de 3% neste ano, e o de Betim deve cair até 5%, pois temos uma economia industrial, e o que tem segurado o Brasil é a agricultura, setor fraco na cidade. De acordo com a previsão orçamentária para o ano que vem, o município terá 1% a menos de receita, que, acrescida da inflação, deve representar de 10% a 11% de queda real na arrecadação. Isso, porém, é administrável. Basicamente, o governo precisa cortar excessos. Por exemplo, hoje, existem 175 cargos comissionados ligados ao Gabinete do Prefeito. São necessários tantos assessores e auxiliares, sendo que falta dinheiro até para a compra de remédios básicos?”, pondera.
ASPIRAÇÕES
O administrador diz ter consciência de que não é conhecido em todo o território betinense e de que vencer a disputa eleitoral aqui é difícil, mas salienta que o anseio da população por uma gestão séria e comprometida faz com que ele trabalhe para vencer. “Eu acredito em Betim. Quando cheguei, me diziam que, na cidade, só se vendiam imóveis simples, mas consegui viabilizar a empresa. Hoje, me dizem que o povo vota em troca de favores, mas acredito que todos queiram um governo que busque o bem comum e que distribua os recursos de forma justa. Espero ter o apoio dos betinenses para lutarmos, juntos, por esses objetivos”.