Vida ativa após os 60

Eles já chegaram à terceira idade, mas nem de longe lembram a imagem de idosos sedentários que, depois de se aposentarem, abrem mão de trabalhar, ter uma vida social e cuidar da saúde

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Criado em 08 de Julho de 2013 Capa

Reprodução da Internet

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Lisley Alvarenga

O Brasil está envelhecendo, isso é um fato. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que, atualmente, no país, pessoas com mais de 60 anos representam 5,8% da população. E a estimativa, para 2050, é de que esse percentual salte para 30%, já que o aumento da expectativa de vida, que envolve melhorias na área da saúde, no bem-estar social e na qualidade de vida, vem impulsionando esse quadro.

Para aqueles que ainda pensam que, com isso, a imagem da idosa de pijama, sentada na poltrona, assistindo à novela, ou, mesmo, do velhinho jogando dominó com os amigos em uma pracinha da cidade vai começar a se multiplicar, estão redondamente enganados. É cada vez mais comum entre as pessoas na terceira idade a preocupação em envelhecer com mais saúde, proatividade e qualidade de vida.
 
Para manter a forma, o aposentado Euler Affeitos, 64, faz academia e corre
 
“O número de jovens que procuram um médico geriatra para estratégias de prevenção está cada vez maior. E, entre os idosos, essa preocupação em envelhecer com mais saúde também tem se tornado cada vez mais constante”, afirma o geriatra da Unimed-BH Rodrigo Zunzaren Megale.
 
O engenheiro eletricista Euler Francisco Affeitos, 64, é um dos exemplos de pessoas que seguem um projeto de vida saudável na terceira idade. Separado, pai de dois filhos e com um neto, ele tem uma rotina de vida de dar inveja a muito jovens. “Acordo todos os dias às 5h45. Tomo meu café da manhã com alimentos balanceados e saio para treinar. Corro em torno de 60 quilômetros por semana e, nas segundas, quartas e sextas, faço academia. Também participo de competições e maratonas no país e no exterior. Inclusive, já estive em uma corrida realizada no Rio de Janeiro, uma em Paris e uma na cidade da Patagônia, na Argentina. Já nas noites de segunda e quarta, faço um curso de inglês para me aprimorar”, conta Affeitos, ao ressaltar que já está se programando
para novos projetos. “Quero voltar a dançar e pretendo, até o fim do ano, mergulhar nas praias de Fernando de Noronha”, revela.
 
Apesar de já ter se aposentado, Affeitos continua trabalhando, só que, agora, por conta própria. “Ao longo da minha vida, investi meu dinheiro comprando imóveis. Com isso, hoje, tenho diversas salas comerciais alugadas em Betim. Como me aposentei, dedico parte do meu dia para administrá-las”, explica o empresário.
 
Depois de se aposentar, João Rodrigues da Silva, 65, voltou para as salas de aula e, no ano passado, formou-se em direito
 
Mesmo sem saber, Affeitos está seguindo à risca as recomendações repisadas por muitos especialistas para que, mesmo depois de parar de trabalhar, as pessoas não caiam na chamada “síndrome da pós-aposentadoria”. “Essa síndrome é uma má adaptação à situação em que não é mais necessário realizar um trabalho formal. Clinicamente, poderia ser caracterizada por irritabilidade, astenia (sensação de fraqueza), apatia, aumento do consumo de bebida alcoólica e maior risco de depressão. Ocorre mais naqueles que dedicaram sua vida toda ao trabalho e não desenvolveram nenhum hobby ou outra atividade paralela ao longo da carreira”, salienta o geriatra Rodrigo Megale.
 
Segundo o especialista, parar de trabalhar não contribui para acelerar o processo de envelhecimento, mas, sim, as posturas incorretas que algumas pessoas tomam ao se aposentar. “Em vez de aproveitar a aposentadoria para fazer tudo aquilo que sempre tiveram vontade quando mais novos e foram impedidos pelo compromisso com o trabalho, alguns optam por ficarem em casa assistindo à televisão durante todo o dia com a desculpa de que ‘já trabalharam muito na vida e que agora querem descansar’”, explica.
 
Megale acredita que a aposentadoria é, na verdade, o melhor momento para a pessoa se dedicar mais a si mesma. “Quando uma pessoa para de trabalhar, sobra mais tempo para fazer exercícios físicos, aprender uma nova língua ou uma nova tecnologia, dedicar-se à música, ir ao cinema, ler mais, conhecer culturas diferentes, viajar, passar um tempo agradável com amigos e com a família. São tantas coisas que nem é possível citar todas elas.”
 
A geriatra Cláudia Caciquinho também concorda. Para ela, o que acelera o processo de envelhecimento é, na verdade, o idoso se isolar do mundo e não buscar ocupações sociais e novas metas para a sua vida. “É isso que faz com que a pessoa tenha uma vida ativa”, reforça.
 
 
O betinense João Rodrigues da Silva, 65, é um desses idosos que não pararam no tempo. Mesmo depois de ter se aposentado, ele decidiu voltar a estudar e, em junho do ano passado, formou-se em direito na faculdade Pitágoras de Betim. “Depois de ter parado de trabalhar, como não tinha nada para fazer, em vez de gastar meu dinheiro apenas viajando ou em casa, busquei algo que pudesse me
acrescentar conhecimento. Por isso, decidi voltar a estudar”, conta o aposentado, que, futuramente, pretende lecionar. “Agora, quero fazer mestrado. Não estou preocupado em ganhar dinheiro. Quero é compartilhar minha experiência e conhecimento com os mais novos”, afirma.
 
Silva aconselha todas as pessoas mais velhas a retornar à sala de aula. “Passamos a conviver com pessoas mais novas, rejuvenescemos e não nos sentimos inúteis. Podemos contribuir com os mais novos com a nossa experiência de vida e, com eles, aprendemos a vivacidade da juventude e a não sermos resistentes às novidades do progresso. Geralmente, idosos são mais turrões”, brinca.
 
O advogado lembra que, quando mais novo, tinha uma vida muito estressada e não praticava atividade física. “Há 18 anos, tive um infarto. Depois disso, mudei minha vida radicalmente. Para me manter  vivo, faço exercícios regularmente. Antes, eu tinha uma barriga maior que eu. Bebia e trabalhava muito. Hoje, não bebo e tenho uma dieta balanceada.”
 
Outro aposentado que busca se afastar ao máximo das mazelas da terceira idade, por exemplo, doenças crônicas como a diabetes, a hipertensão e os problemas do coração, é José Piedade da Silva, 67. Faixa-preta em taekwondo, ele praticou luta por 15 anos e só parou porque, após uma cirurgia nos olhos, foi aconselhado pelo médico. “Também gosto de jogar uma ‘peladinha’ com meus amigos. É uma atividade que me faz muito bem. Sinto-me com a energia de um jovem”, confessa.
 
Mas a disposição dele não para por aí. Há 12 anos, seu José também gasta as solas do sapato nos salões de dança. “Melhor que a dança, somente Deus e a minha família. Vou à escola Contato do Corpo, em Betim, quatro vezes por semana. Pratico de tudo, bolero, samba, salsa, zouk. Estou sempre buscando me aperfeiçoar. Já me apresentei em colégios de Betim, clubes e na própria academia”, diz o aposentado, que é casado e pai de quatro filhos.
 
Para manter a longevidade, José Piedade da Silva, 67, gosta de dançar e de jogar uma “peladinha” com os amigos
 
Longevidade
De acordo com levantamento do IBGE, há 10 anos, a expectativa de vida dos brasileiros era de 41,5 anos. Atualmente, ultrapassam os 73. E a mudança desses números não surgiu como uma fórmula mágica. Melhorar os hábitos de vida é, sim, fator preponderante para que as pessoas consigam aumentar a sua longevidade. “Até hoje, os grandes estudos clínicos foram incapazes de demonstrar qualquer benefício de reposição de hormônios ou uso de antioxidantes. Envelhecer com saúde é muito mais difícil do que apenas tomar algumas cápsulas pela manhã. É preciso ter hábitos de vida saudáveis e contar com uma boa genética”, afirma o geriatra Rodrigo Megale.
 
Segundo ele, o envelhecimento saudável é aquele livre de incapacidades. “Para o idoso, o fato de se ter uma ou mais doenças não reflete seu real estado de saúde, já que a maioria deles vai apresentar pelo menos uma doença crônica na velhice. O que mais importa é como esse idoso está do ponto de vista funcional, se ele consegue sair de casa sozinho, administrar seu dinheiro, realizar as tarefas domésticas sem necessitar de ajuda. Isso, para mim, é envelhecer com saúde”, completa Megale.
 
Viúva, mãe de dois filhos e com quatro netas, a aposentada e dona de casa Maria Vieira de Assis orgulha-se em poder dizer que, mesmo com 71 anos, não depende de ninguém para resolver as questões do seu dia a dia. “Faço tudo o que tenho direito. Aqui em casa, por exemplo, tem uma menina que me ajuda com as tarefas domésticas, mas, se precisar, consigo fazer tudo sozinha. Minha rotina de vida é muito corrida. Não paro um minuto. Até para sentar para ver televisão eu não tenho paciência”, conta.
 
Duas vezes por semana, a aposentada Maria de Assis, 71, pratica pilates em uma clínica de estética em Betim
 
E, mesmo já tendo entrado para o time das septagenárias, a aposentada não dispensa ter seus momentos de diversão. “Gosto muito de sair e viajar. Sou uma boêmia. Vou sempre dançar em casas de shows de Betim, como o Arrasta-Pé, o Caipirão do Lapinha, ou no baile da terceira idade que é realizado, todas as sextas-feiras, na Apromiv (Associação de Proteção a Maternidade, Infância, Juventude e Velhice)”.
 
Além de costurar, ter uma alimentação saudável, gostar de contar piadas e fazer, duas vezes por semana, pilates em uma clínica de estética em Betim, Maria afirma que em três outros grandes prazeres. “Cuidar da minha horta é um deles. É como uma terapia. Fui criada na fazenda e estar perto das plantas me faz lembrar essa época. Outra coisa de que gosto muito é de fazer cruzadinhas. Além de trazer conhecimento, elas auxiliam a trabalhar a minha memória. E, é claro, não dispenso tomar um copinho de cerveja com meus amigos”, brinca.




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