A arte naïf
POR Domingos de Souza Nogueira Neto*
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Criado em 11 de Novembro de 2013
Cultura
“Favela Alegre”, de Sandra Pereira Peixoto de Aguiar
Quando percorremos os sertões do Nordeste, as favelas do Rio de Janeiro ou as diversas feiras populares em todo o Brasil, encontramos quadros de cores vivas e temas simples, como festas do interior, motivos religiosos, ruas, casas e igrejas. Tudo sem rebuscamento, nada de rigor acadêmico ou formas sofisticadas. Essa é a “arte naïf ”, que pode ser traduzida como ingênua ou inocente.
“A Árvore da Vida”, de J. Marques
Como tudo que vem do povo, como a música sertaneja, o axé ou o funk, a arte naïf esbarra, inicialmente, com a resistência de setores da elite que julgavam o estilo mal acabado e deficiente quanto à perspectiva e à utilização da luz.
“Sambistas do Morro”, de Raul Mendez
É verdade que os artistas da arte primitiva moderna não frequentaram escolas de pintura, nem usam as melhores tintas, telas de lona de seda, pincéis de pelo de marta ou outros requintes que se esperam de um grande pintor. Mas também é verdade que Cartola, criado no morro da Mangueira e tendo concluído apenas o ensino primário, foi, talvez, o maior sambista da história brasileira, tendo composto, entre outras joias, as músicas “As Rosas não Falam” e “O Mundo é um Moinho”.
“Festa de São João”, de Magaly Costa
O que acontece é que a arte naïf, de nossos poetas ingênuos dos pincéis, de repente alçou seu próprio voo, desabrochando para a crítica e para o público dentro e fora do Brasil, com peças de puro encantamento e que ainda podem ser adquiridas a bom preço. Vale dizer que os quadros naïf ou de arte primitiva moderna são não só um excelente investimento, de alcance social, mas peças que dizem o que é do povo, que é tudo, afinal.
* Crítico de arte, estudioso de direito e de psicanálise e professor de judô – [email protected].