Corrente do bem
Bom exemplo
Conheça cinco mulheres que transformaram a luta contra o câncer em solidariedade e se tornaram fonte de esperança para muitos
Luna Normand
A ESTUDANTE Thamara Paola Quirino, 23 anos, descobriu que tinha câncer em março de 2014, após quase dois anos sentindo mal-estar, pressão alta, enjoos e disfunções hormonais. Depois da confirmação do diagnóstico vieram os dias de luto, os questionamentos e o início da luta. Em vez de se esconder e enfrentar tudo sozinha, no entanto, ela preferiu compartilhar seu tratamento em um blog e tentar ajudar outras pessoas na mesma situação.
Atitudes como essa são cada vez mais comuns em nossa sociedade. Transformar a dor em solidariedade e fonte de esperança tem se tornado projeto de vida de gente que busca amenizar o sofrimento de doentes e familiares com a simples troca de informação e um pouco de afeto e de atenção.
Thamara escreve diariamente sobre dicas de eventos, cuidados com o corpo e a pele, alimentação e maquiagem, mas são suas amarrações de lenços que fazem sucesso na internet e entre pacientes com câncer. “Ao colocar a peruca pela primeira vez, eu me senti muito desconfortável, incomodada. Ela arranhava o couro cabeludo, que estava muito sensível. E outro fator ruim foi a sensação de ‘mentira’ que eu senti quando me vi usando uma. Todos decidi assumir isso de uma forma muito natural”, conta.
A ideia de criar o blog surgiu após ela compartilhar esses e outros momentos nas redes sociais, demonstrando que é possível, sim, manter a autoestima elevada mesmo com a quimioterapia. Para colocar o projeto em prática, Thamara teve a ajuda da irmã, Polly Quirino, e das amigas Vanessa Luiza, responsável pelas artes gráficas e pelas fotografias, e Thaíse Lopes, pelas maquiagens. "Meu objetivo é motivar mulheres com a autoestima baixa, em tratamento de câncer ou não, a se cuidarem. Procuro mostrar a elas que é possível estar bem consigo mesma em todos os momentos e que não é porque estamos sem cabelos e com a pele mais sensível que não podemos ficar lindas. Claro que podemos!”, afirma.
O trabalho tem rendido bons frutos. Com menos de 30 dias no ar, o site (www.thamaraquirino.com.br), lançado em julho, já contabilizava mais de 3.000 acessos. Além disso, ele tem rendido participações de Thamara em programas de televisão, como o “Moda & Estilo”, da Globo Minas, bem como publicações de textos em diversas mídias e muitos compartilhamentos em outros blogs que abordam a luta contra o câncer. “Muitos pacientes, seus familiares e mesmo pessoas que não estão doentes fazem questão de enviar depoimentos de histórias e agradecem pela motivação que recebem com meus posts. Me sinto muito feliz. Representa uma missão e me traz muita gratidão. A cada nova história que conheço, me sinto ainda mais motivada a continuar lutando pela minha vida e incentivando outras pessoas a também lutarem. Percebo que, por mais árdua que seja a batalha, é o modo como você a enfrenta que faz a diferença”, ressalta.
Thamara Quirino faz planos para o futuro. Entre os projetos estão parceiras com instituições para a divulgação de eventos, arrecadação e distribuição de lenços, além da oferta de cursos de maquiagem para pacientes. “Também estou e preparando um espaço para receber convidados, fazer vídeos e continuar levando a motivação aonde ela for necessária”, antecipa a blogueira.
DOAÇÃO
Foi a partir da perda de pessoas que tanto amava que a jornalista Flávia Freitas, 32, resolveu levantar a bandeira da solidariedade e ajudar o próximo por meio de uma ação de cidadania. Ela é idealizadora da Quinta do Bem, campanha que, há quatro anos, incentiva o cadastro de medula óssea e contribui para aumentar as chances de salvar a vida de pacientes que precisam do transplante.
Flávia acompanhou e sentiu toda a dor do câncer duas vezes: a primeira, quando o irmão mais velho, Anderson, morreu vítima da leucemia, 15 anos atrás. Em 2011, foi a vez da prima dela, Ana Paula, perder a batalha para a mesma doença. “A campanha, criada em Betim, teve o objetivo de encontrar um doador que pudesse salvar a vida de Ana Paula e de outras pessoas que precisam do transplante. A ideia surgiu no dia em que minha prima soube que não tinha doador compatível na família. O dia era uma quinta-feira. Por isso, o nome Quinta do Bem”, explica.
Desde então, o gesto de solidariedade se tornou missão para a jornalista. Todas as quintas-feiras, ela propõe a dezenas de mulheres o uso do lenço na cabeça e a homens, o uso de uma fita vermelha no braço, que são os símbolos da campanha. Para divulgar a ação, as pessoas postam e compartilham nas redes sociais as fotos usando os acessórios.
A adesão à campanha foi imediata, e a Quinta do Bem ganhou apoiadores e voluntários de várias partes do Brasil e até exterior, uma página no Facebook e um blog, o ocomuniquebem.blogspot.com. “A Quinta do Bem é uma campanha social, voluntária e sem fins lucrativos. As ações realizadas contam com o apoio de familiares, amigos, seguidores da campanha, empresas e instituições”, afirma Flávia.
As três promovem, por conta própria, lanches em casas de apoio, onde falam da vida pós-tratamento e da importância da detecção precoce da doença, além de darem dicas para quem está passando pela quimioterapia. “Alertamos as mulheres sobre sintomas, como nódulo endurecido e inversão do mamilo, e a respeito da importância de se fazer a mamografia. É ela que vai identificar algum problema. Esse é o exame indicado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, e, diante de qualquer dúvida ou alteração, recomendamos procurarem o médico”, contam.
O Pérolas de Minas participa de projetos que visam arrecadar fundos para instituições que acolhem pacientes com câncer, como o recente Bazar MMartan, em Belo Horizonte, que teve parte da renda revertida para crianças em tratamento do câncer acolhidas pela Casa Aura. “O grupo é a realização de um sonho, e o retorno é o melhor possível. É muito bom ler ou ouvir alguém dizer que você o ajudou esclarecendo a doença e, com isso, diminuir o medo. É um amor incondicional poder ajudar o próximo a enfrentar esse momento de dor, que nos deixa frágeis e debilitadas. Acredito que isso seja compartilhar amor”, diz Maria Luiza.
Ela lamenta, no entanto, a falta de empenho e visão de algumas instituições e empresas, que só procuram o grupo por ocasião da campanha Outubro Rosa, realizada, todos os anos, no mês de outubro. “É uma pena, pois a doença surge todos os dias. Um alerta para a detecção precoce pode salvar uma vida”, destaca.
Exatamente para levar informação a muito mais mulheres, Maria Luiza já vislumbra novos caminhos. “Queremos tornar o projeto um instituição jurídica e, depois, abrir uma casa de apoio a mulheres em tratamento”, revela. Por enquanto, o acesso ao Pérolas de Minas pode ser feito apenas pelo Facebook ou por e-mail (perolasdemi[email protected]).
SERVIÇO
Como saber mais sobre esses projetos:
Thamara Quirino
(www.thamaraquirino.com.br)
Quinta do Bem
(comuniquebem.blogspot.com) ou pelo Facebook
Pérolas de Minas
([email protected]) ou pelo Facebook