A caminho da verticalização
Quem não vem a Betim já há alguns anos ficará surpreso ao visitar a cidade agora; os prédios estão tomando conta das ruas, proporcionando ao município uma paisagem verticalizada
Na opinião do proprietário da Hewa Engenharia, Wenceslau Moura, os edifícios racionalizam a ocupação dos espaços, têm menor custo e trazem mais benefícios para a sociedade. “A verticalização permite aproximar a moradia do trabalho e do lazer. Se for bem-implementada, causa o mínimo de impacto no local. As casas, por exemplo, são muradas para a proteção e não têm jardins, pois eles são difíceis e caros de se manter. Com isso, as pessoas passam concreto no terreno, o que faz com que a água da chuva vá para a rua, chegando rapidamente às calhas dos rios. Esse processo causa enchentes, que são, a meu ver, o pior problema de nossas cidades”.
Betim, a bola da vezBetim, assim como outras cidades do país, Betim sofre um boom na construção civil. Dez mil apartamentos em construção significam moradia para, aproximadamente, 40 mil pessoas. Para o presidente do Ippub, Lessandro Lessa, o município é visto como a bola da vez no setor imobiliário, um “eldorado” para atrair novos investidores do ramo.“Contamos com uma área industrial de 25 milhões de metros quadrados. Só às margens da BR-262, foi criado um distrito industrial de 8,5 milhões de metros quadrados. Ele vai gerar, em um prazo de oito anos, em torno de 70 mil novos empregos. É quase a população total da cidade de Itaúna. A pergunta é: onde essas pessoas vão morar? O mercado percebeu isso e está investindo pesado na construção imobiliária em Betim”, afirma Lessa.E esse crescimento pode aumentar ainda mais, já que, de acordo com Lessa, apenas 30% do território é ocupado. “Assim como outras 34 cidades da região metropolitana, Betim faz parte de um vetor em desenvolvimento. O Norte, que ocupa a região da Linha Verde, por exemplo, é limitado. Não há como ampliar o número de construções depois da Cidade Administrativa e do aeroporto de Confins. A capital e Contagem também já estão saturadas. A opção, então, é investir no vetor Leste, onde Betim está localizada. É uma região que possui uma topografia com terrenos mais planos”, diz.Para o proprietário da Hewa, Wensceslau Moura, apesar de Betim estar em crescimento, com muitos lotes onde se construir, a cidade carece de mais opções de trabalho e lazer. “O mercado imobiliário ainda é pequeno. Mas acredito que isso está mudando, pois Belo Horizonte já está saturada, e, agora, com as novas restrições para as construções na capital e as vindas de dois novos shoppings e de alguns condomínios fechados para cá, o mercado deve crescer”, declara o empresário, ao ressaltar que decidiu investir no município, desde 1995, porque percebeu o potencial da cidade, que, na época, possuía poucas construções de nível médio-alto.Investir na construção civil tem sido algo comum entre pessoas de outros ramos. Proprietário de uma empresa de tecnologia em Betim, o engenheiro eletricista Paulo Henrique Lossio Barros também resolveu apostar no ramo imobiliário do município. “Precisava montar uma sede para minha empresa. Comprei um terreno e, como o valor dele é alto, resolvi investir na construção de um edifício comercial. O mercado imobiliário tem muita demanda em Betim. No primeiro pavimento, vou construir lojas. No segundo, terei a sede da minha empresa. No terceiro, um salão, e, do quarto ao sexto andar, construirei flats. O objetivo é receber alunos da PUC-Betim, que fica próximo ao imóvel. Devo começar a construção em março do próximo ano”, afirma o engenheiro.
O que impulsiona
Construções verdes: em busca da sustentabilidadeApós o início das discussões sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, durante a Rio 92, em 1992, arquitetos e engenheiros civis vêm se preocupando, cada vez mais, em adotar práticas e projetos voltados para a preservação do meio ambiente. Exemplo disso é a utilização de materiais alternativos, de sistemas de captação da água das chuvas e de novas formas de economizar a energia. A busca das construtoras em implantar, nos prédios residenciais e comerciais, o selo de sustentabilidade é prova disso. Um desses selos, respeitado em todo o mundo, é o Leed. Concedido pela ONG Green Building Council, dos Estados Unidos, é a garantia para o consumidor de que a construção tem uma série de características que a tornam amiga do planeta. O problema é que, apesar de ecologicamente corretas, essas construções com certificados ambientais saem mais caras do que um edifício convencional, já que necessitam da instalação de uma infraestrutura mais especializada.Para Wenceslau Moura, da Hewa Engenharia, "o conceito de sustentabilidade é excelente, mas acarreta custos, às vezes, na ordem de 10% a 15% do valor final da obra. Por isso, não é fácil ser implementado, porque as construtoras, como todas as empresas, precisam lucrar, e, muitas vezes, esse lucro não chega a 10%. Assim, obras realmente sustentáveis necessitam obter o apoio do poder público e o esclarecimento da população".Apesar de, em Betim, nenhuma empresa ainda possuir os selos verdes, as construtoras não deixam de se preocupar com o conceito de sustentabilidade. Todas as unidades residenciais da Hewa Engenheria, por exemplo, possuem equipamentos de aquecimento solar e medidores individuais de água. "Também sempre nos preocupamos em construir em locais onde os moradores possam ter fácil acesso a supermercados, farmácias e padarias, para que eles, se quiserem, abram mão do uso do carro no dia a dia. Também desenvolvemos ações para garantir toda a água da chuva que cair sobre o lote se infiltre no terreno naturalmente. Em alguns dos empreendimentos, 100% das águas das chuvas, nos últimos quatro anos, ficaram no próprio terreno, alimentando o lençol freático, em vez de irem para as ruas, causando, com isso, enxurradas e enchentes", explica Moura.O diretor de operações da construtora Neocasa, Danilo Possato, acredita que, assim como a verticalização se tornou uma tendência das cidades em desenvolvimento, é preciso pensar, num primeiro momento, nos impactos que ela traz para o meio ambiente. "Se utilizarmos os conceitos de sustentabilidade, poderemos minimizar muito esse impacto. A primeira redução ocorrer quando utilizamos um terreno menor para viabilizarmos um empreendimento. Junto com a sustentabilidade, precisamos resgatar o conceito da boa engenharia, isto é, pensarmos em projetos e tecnologias de construção que diminuam o impacto ao meio ambiente e sejam mais agradáveis ao cliente final. É necessário pensar, cada vez mais, em como será o futuro do mundo e no que podemos fazer hoje para não prejudicarmos o amanhã", pondera.Em um dos empreendimentos da Neocasa em Betim, explica Possato, o cuidado com o meio ambiente acontece no canteiro de obras. "No projeto, além de não usarmos torres geminadas, para melhorar a ventilação dos apartamentos, utilizamos piso intertravado, a fim de permitir a permeabilidade do solo, e elementos pré-moldados, como lajes, vigas e escadas, que reduzem muito a utilização de madeira na construção. Além disso, somos adeptos de novos processos, adotando a madeira certificada de reflorestamento, reciclando os entulhos das obras, dando destinação final às sucatas de aço e madeira, aos sacos de cimento e aos blocos de concreto quebrados, que são reutilizados em enchimento de piso, controlando, ainda, os ruídos dos equipamentos da obra, através da manutenção periódica dos mesmos, e, também, a emissão de poeira, pulverizando água e lavando as rodas dos caminhões na saída do canteiro".Nas construções da MRV no município, segundo Sérgio Lavarini, não é diferente. "O compromisso com a preservação ambiental é uma das prioridades da empresa. E esse preceito já começa na escolha e no preparo do terreno, de forma a reduzir a movimentação de terra e a preservar suas características originais. Essa temática passa pelo desenvolvimento imobiliário e alcança todas as etapas da construção, sempre buscando racionalizar os consumos de materiais e de recursos naturais". Dentre as ações de sustentabilidade que se destacam na empresa estão: "o paisagismo em todos os empreendimentos e no entorno, a captação de água da chuva e o medidor individual de água que reduzem o consumo de água ; a diminuição na geração e na destinação dos resíduos, evitando desperdício de matéria-prima e sobrecarga nos aterros; a recuperação de áreas degradadas e a adoção e a construção de praças e canteiros, melhorando a qualidade de vida da população".
Saiba mais
Para o tratamento de lixo: técnicas de compostagem para converter lixo orgânico em adubo
Para a economia de energia: painéis solares para aquecer a água dos apartamentos e gerar parte da eletricidade usada nas áreas comuns; e medidor do consumo de energia em tempo real e elevadores com motores de alta eficiência
Para a economia de água: equipamento para captar e filtrar a água da chuva; e medidores individuais de água