A vez do ensino profissionalizante
Um empreendedor com visão, uma gestora atenta às demandas do mercado e empresas carentes de mão de obra especializada. Não tinha como a instituição de ensino AAS não atrair a atenção de pessoas que buscam quali cação pro ssional e um passaporte
Julia Ruiz
A capacitação e a qualificação profissionais são essenciais para quem busca boa colocação no mercado de trabalho. E, do outro lado, as empresas demandam colaboradores com conhecimento técnico e também com habilidade e criatividade para atravessar momentos de crise como o atual. Com a escassez de mão de obra especializada, os cursos técnicos tornaram-se grande aliados das corporações. E, ao que tudo indica, os jovens brasileiros perceberam isso. Dados do Ministério da Educação apontam que, somente no período de 2002 a 2010, o número de matrículas em cursos profissionalizantes cresceu mais de 70%. Em Betim, cidade com perfil econômico industrial, apostar nessa modalidade de ensino pode ser ótima estratégia para conquistar o tão sonhado sucesso profissional.
E foi com a visão empreendedora de quem conhece na prática a necessidade de empregar profissionais bem-preparados que o engenheiro eletricista e de segurança no trabalho Agenor Antônio e Silva, 62 anos, fundou, em 2007, a instituição de ensino AAS (iniciais do nome do fundador). Nascido e crescido em Igarapé, Silva apostou na localização estratégica e no potencial econômico das terras betinenses para dar esse novo passo em sua vida profissional. Proprietário do grupo AAS, que conta com uma empresa de engenharia ambiental e de segurança em Igarapé e clínicas de medicina ocupacional – uma em Igarapé e uma em Betim –, e dispondo de uma experiência adquirida com a atuação em grandes empresas do Estado, como Cemig e Resil Minas (atual Magna), o engenheiro, que também é especialista em meio ambiente, abriu sua instituição de ensino timidamente, com um curso técnico voltado para suas áreas de atuação. Aos poucos, a AAS foi crescendo e se consolidando como uma espécie de trampolim para o mercado de trabalho. “Em principio, a ideia era ofertar um curso de tecnólogo em meio ambiente, mas optei por disponibilizar um curso técnico, mais objetivo e rápido, nesse mesmo segmento e também em segurança do trabalho. Os alunos foram chegando, e percebi que podia aproveitar esses novos profissionais em meu próprio negócio e também ajudar diretamente na inserção de grande parte deles em empreendimentos da região”, conta Silva, que ressalta a rede de relacionamento que estabeleceu com empresas de Betim e do entorno, como Fiat, Teksid, Nemak e Vallourec. “São cerca de 300 parcerias ao todo”, destaca o empreendedor.
A repercussão foi tão grande – e boa – que ele decidiu implementar dois novos cursos na instituição: o de logística e qualidade; e o de fabricação mecânica e qualidade. Mais uma vez, não demorou muito para as salas ficarem lotadas. “Todos os módulos de ensino são reconhecidos e aprovados pela Secretaria de Estado de Educação e pelo Ministério da Educação”, salienta Agenor Silva, que elucida a integração dos cursos permitindo, assim, dupla habilitação. “Em um ano e meio, o aluno obtém dois diplomas”.
REFORÇO E NOVIDADES
Em 2011, a AAS teve o time reforçado. Ex-colega profissional de Agenor Silva na antiga Resil Minas, Mardele Teixeira Rezende, 48, foi convidada pelo empresário para ser sócia e também diretora da instituição de ensino. Graduada em direito, com especialização na área trabalhista, tem na gestão de pessoas a sua expertise. Com isso, incrementou a grade do instituto, disponibilizando mais um curso técnico: em administração e recursos humanos.
Além disso, a instituição de ensino passou a ofertar outros tipos de capacitação profissional de curta duração, como os cursos de leitura e interpretação de desenhos técnicos e metrologia; de departamento pessoal; de caldeiraria; de auditor de sistema de gestão integrada; e de programador de CNC. “Estamos sempre muito atentos às demandas do mercado. Então, em 2015, implantamos o curso preparatório para que aqueles que já têm experiência na área da mecânica possam passar pelo processo de certificação de competência. Nesse caso, o aluno obtém o diploma em cerca de seis meses”, explica Mardele.
Já no princípio de 2016, os diretores deram mais um passo e disponibilizaram uma nova modalidade de ensino: cursos preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e para centros de educação tecnológica, como Cefet, Coltec e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG). “Ou seja, atuamos em três frentes: os cursos profissionalizantes, os cursos de capacitação e os cursos preparatórios”, arremata a diretora.
DOS LIVROS PARA AS MÁQUINAS
De acordo com os sócios, a AAS possui, atualmente, em torno de 300 alunos nos cursos técnicos e mais de mil “treinandos” – que frequentam os cursos de capacitação, as eventuais palestras ministradas por eles mesmos ou por gestores convidados e os cursos preparatórios. Desse total, hoje, 80% já atua na indústria e busca mais qualificação para requerer cargos melhores nas empresas em que trabalham. “Pelo fato de a maioria se ocupar em horário integral, o estágio não é obrigatório. Mas o aluno que ainda não está inserido no mercado tem grandes chances de conquistar isso por meio de nossos cursos, em razão do relacionamento que construímos com as empresas da região, as quais sempre nos solicitam estagiários e também indicações para cargos efetivos”, ressalta Mardele.
A diretora conhece bem a importância de um estágio. Foi por meio de uma oportunidade como essa que ela iniciou sua vida profissional. “Fazia curso técnico em administração quando tive minha primeira oportunidade de estágio. Foi muito importante porque me projetou e me possibilitou ser contratada por outra corporação, na qual atuei por dois anos, na área de departamento pessoal. Saí de lá quando recebi uma proposta da Resil, empresa em que fiz carreira e fiquei por 21 anos, trabalhando principalmente como gerente de recursos humanos”, conta.
EXEMPLO QUE VEM DE FORA
Agenor e Mardele têm como referência o Velho Continente. Eles argumentam que, na Europa, a valorização da educação profissional é tão grande que, em alguns países, como a Áustria, 76% dos alunos do ensino médio já recorrem à educação profissional. “No Brasil, apesar de o número de matriculados em cursos profissionalizantes ter crescido muito nos últimos anos, o percentual de pessoas que os concluem ainda é pequeno. Sabemos que a demanda maior das empresas é pelo profissional de nível técnico. Assim, esses cursos acabam encurtando o caminho para o mercado de trabalho”, salienta Silva. “Cada vez mais, o mercado de trabalho vem valorizando a carreira técnica devido à carência de profissionais qualificados. Atualmente, os tetos salariais das carreiras técnicas e de especialistas se equiparam aos de muitas gerenciais”, acrescenta Mardele.
E qual seria o segredo para formar bons profissionais? “Talvez seja colocar em prática as coisas mais simples que a teoria nos ensina. Aqui, na ASS, a gente adora o que faz, e isso facilita tudo o que vem depois. A expertise na área em que atuamos e uma cuidadosa gestão de pessoas são fundamentais para conseguirmos oferecer uma formação de qualidade”, aposta a gestora. “Mas isso não bastaria se não houvesse proximidade da instituição com o mercado de trabalho. É preciso se manter atento a tudo o que acontece nas indústrias em especial. Os cursos precisam ser moldados de acordo com essa realidade e, é claro, alinhando conteúdos técnicos com a formação comportamental dos alunos. Por isso, a equipe de professores é composta por profissionais com conhecimento teórico, mas também com muita experiência no mercado. Assim, as aulas são interativas e práticas. Além disso, a grande rede de indústrias parceiras também propicia a realização de visitas, palestras de gestores e muitas atividades que contribuem com o aprendizado”, completa Agenor.
ENDEREÇO:
Rua Professor Oswaldo Franco, 90, 8º andar, Centro, Betim.
Telefone: 3596-4949