Adrenalina pelos ares

Acrobacias

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Criado em 08 de Outubro de 2014 Esportes

Fotos: Victor Márcio/Divulgação

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Legado de uma tradicional família de pilotos, os irmãos Diego e Leonardo Traugott, há cinco anos, vêm apostando nas acrobacias aéreas, uma das mais radicais e belas modalidades de voo no mundo

Leonardo Dias

“O CÉU É O LIMITE.” Essa é uma daquelas vá­lidas, famosas e batidas frases de efeito que todos já ouviram ou falaram em algum mo­mento da vida. Quando se trata da família Traugott, essa sentença pode até ser famosa, mas não é nada batida, muito menos válida. Talvez o mais adequado a eles fosse: “no céu não há limite”.

Leonardo Traugott, 33, é representante de uma tradicional família de pilotos que, há três gerações, faz da aviação sua grande paixão. Prova disso é que a atividade vai além do ga­nha-pão, é também onde estão reservados os momentos de descanso e de lazer. Basta uma folga e lá vai ele bater ponto no Aeroclube de Pará de Minas, sempre acompanhado do irmão e também piloto, Diego Traugott, 26. Juntos, eles formam a Binder Aerobatic Team e se apresentam em encontros acro­báticos de aviação pelo país.

Segundo Leonardo, a tradição come­çou com o avô Ricardo Traugott, que foi instrutor e piloto comercial. Porém, quem lhe despertou a verdadeira paixão, ainda na infância, foi seu tio Rômulo Traugott. “Aos 12 anos, eu já voava em planadores e sonhava ser piloto. Aos 14, prometi a mim mesmo que passaria na primeira tentativa para a prova de piloto privado”, conta. En­tretanto, o caminho não foi fácil, e foi pre­ciso se sacrificar para chegar ao objetivo. “Abdiquei de muitas coisas quando jovem para realizar meu sonho, mas valeu a pena. Passei na prova aos 16 anos, iniciei as aulas práticas e, aos 18, fiz, meu primeiro voo solo”, lembra. Hoje comandante em uma grande companhia aérea, Leonardo já con­ta com 13 anos de experiência como piloto comercial.

Apesar da natural carga de adrenali­na que envolve um piloto de avião e seu trabalho, isso não parece o bastante para diminuir o apetite de Leonardo. Pensan­do nisso, há cinco anos, ele começou a praticar uma nova e mais radical moda­lidade aérea: a acrobacia. “Sempre fui apaixonado por acrobacias aéreas. En­tretanto, existiam poucas aeronaves nes­te segmento aqui no Brasil. Devido ao trabalho e à indisponibilidade de aero­naves, eu não podia treinar muito, mas, há dois anos, com incentivo da minha mulher, Cláudia, conseguimos adquirir nosso próprio avião de acrobacias. Ago­ra, sempre que tenho tempo livre, corro para o aeroporto de Pará de Minas para treinar. Já fiz mais de 90 horas de acroba­cias este ano”, revela.

Além da emoção do voo em si, uma das coisas que mais atrai o piloto para a prática de acrobacias é o desafio e a precisão que a modalidade requer. “São necessárias uma extrema concentração e sinergia com o avião quando se está realizando as manobras. Para o público, pode parecer que estamos brincando no ar, mas todo aquele voo foi ensaiado mentalmente e praticado diversas vezes. Em aviação não se pode cometer erros, você não tem uma segunda chance. E o interessante é que é justamente isso que a torna tão segura”, explica.

Tanta segurança, claro, não impede que quem está de fora fique com medo da si­tuação. Mas nada que abale a confiança do piloto. “Meus pais, Antônio Carlos e Nádia, ficam com um pouco de medo, o que é na­tural, mas me apoiam sempre. Meu irmão, que também é aviador, vive esse sonho co­migo. Já minha mulher adora voar, mas não tem ido ultimamente porque está grávida”, conta Leonardo. Diego reforça o discurso dizendo nunca ter passado nenhuma si­tuação de perigo. “Treinamos muito para saber lidar com essas situações adversas e ficar em segurança, caso alguma pane ve­nha a acontecer com a aeronave”, garante.

APOIO E PLANOS

Apesar de toda a dedicação ao esporte e o empenho em aprimorar suas técnicas, os irmãos Traugott ainda enfrentam a re­sistência pela prática de uma modalidade que não é tão difundida no país. “Infeliz­mente, os patrocinadores não enxergam o potencial de ter a sua marca exposta em um avião de acrobacia. Estamos lutando para reerguer o esporte, que caiu muito nos últimos anos, mas acredito que ainda em 2014 voltaremos a ter competições no Brasil”, acreditam Leonardo e Diego.

E, mesmo com as dificuldades, os pla­nos de prosseguir no mundo das acroba­cias e evoluir cada dia mais permanecem intactos. “Meus planos, a curto prazo, são vencer o campeonato brasileiro na moda­lidade e, futuramente, treinar para dispu­tar o campeonato mundial. Gostaria que a acrobacia fosse enxergada no Brasil, assim como outros esportes. Além de minha realização pessoal, espero que os patroci­nadores que hoje investem em outros es­portes também possam olhar com outros olhos para a acrobacia”, conclui Leonardo.

OUSADO, MAS COM TÉCNICA

Para quem assiste a uma competição de acrobacia aérea, a primeira impressão talvez seja de que as aeronaves ficam cir­culando no ar e executando suas mano­bras aleatoriamente. Na verdade, o rigor das regras e a precisão dos movimentos dos pilotos fazem desse, sem dúvida, um dos esportes mais técnicos que existem.

Os pilotos devem fazer sua apresen­tação em um box imaginário, com mil metros de comprimento para outros mil de largura, onde toda a sua sequência, de aproximadamente 15 manobras, deve ser executada. “Não se pode, de forma alguma, sair dessas linhas imaginárias, principalmente, a linha de baixa altitu­de, visando à segurança do competidor, ou seja, se o piloto realizar manobras em baixa altitude pode ser desclassificado do campeonato”, explica Leonardo.

Ao todo, a competição é dividida em qua­tro categorias: básica, intermediária, avan­çada e ilimitada. A básica é voltada para os iniciantes e consiste em uma sequência sim­ples, geralmente, de cinco manobras. Não há muita rigidez dos juízes quanto ao voo dentro do box, mas não deve ser feita em al­titude mínima de 1.500 pés, para segurança do próprio piloto. Na intermediária, é dada mais ênfase às manobras verticais. Na avan­çada, o destaque maior é para as manobras de altos G’s negativos, onde as combina­ções são mais complexas e desgastantes. Já na ilimitada, são executadas manobras e se­quências mais complexas, que exigem bom preparo físico dos pilotos, e voa-se mais próximo ao solo (mínimo de 100 metros). O Campeonato Mundial de Acrobacia Aérea é baseado, principalmente, nesta categoria quanto ao aspecto de precisão. Os pilotos competidores vencedores dos torneios na­cionais dessa categoria, geralmente, estão aptos a disputarem o mundial. 

EXPERIÊNCIA DE TIRAR O FOLÊGO

Eu (repórter Leonardo Dias) nun­ca fui fã de voar. Para mim, não há nada como a segurança de sentir os dois pés firmemente presos ao solo. Viajar de avião sempre foi um desafio. O suor na palma das mãos, a total fal­ta de capacidade de pregar os olhos durante o voo e o eterno alerta contra turbulências sempre foram meus fiéis companheiros de viagem. Sendo as­sim, o convite/desafio para me aven­turar em uma sessão de manobras aé­reas foi uma tarefa dura de ser aceita, mas nem tanto de ser executada.

Desde o começo, a segurança e a atenção dos irmãos Diego e Leonardo Traugott fizeram toda a diferença. A forma clara como explicaram todos os procedimentos, em terra e no ar, me ajudaram a ficar bem mais calmo que o habitual, quando o assunto envolve voar. Depois de vestir o para-quedas (item obrigatório quando se faz voos de acrobacia) e ser orientado sobre a posição de braços e pernas durante o “passeio”, hora de levantar voo. Mas não sem antes ser presenteado com um saco, caso o vira e mexe no ar revolucionasse meu estômago. Segu­rança (e higiene) em primeiro lugar!

Durante todo o tempo do voo, o piloto Leornado ia passando instru­ções e conferindo se eu estava bem. A vista estava bonita e a altitude, nem tão assustadora assim. Mas ao ouvir “Leo, vamos fazer um voo de cabeça para baixo, tranquilo?”, lembrei por que estava ali. Em questão de segun­dos, o avião fez uma manobra brusca e lá estava eu com os joelhos quase na altura do peito e gritando feito maluco. Para minha própria surpre­sa, não foram gritos assustados, mas da mais pura e prazerosa adrenalina. Entrei no clima da brincadeira e vol­tei a ser criança.

Depois disso, foram sequências de subidas aceleradas, mergulhos em ve­locidade zero (com direito a potência reduzida, só para testar o coração), rasantes, loopings e tudo mais que tinha direito. Tudo acompanhado de vários: “Tranquilo aí, Leo?”. Foram os 15 minutos mais emocionantes da minha vida e, com certeza, uma expe­riência única, que jamais esquecerei.

Já em solo, Diego, entre preocupa­do e divertido, pergunta: “E aí, Leo, zerado? Bom demais?”. Só pude res­ponder que sim, agradeci a oportuni­dade e, gentilmente, recusei a oferta de mais uma volta. Afinal, queria con­tinuar contando, orgulhoso, de como não precisei do saco de enjoo!




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