Aliados no combate ao câncer

Alimentação saudável fortalece o organismo de quem faz tratamento contra tumores e evita reincidência

Criado em 19 de Setembro de 2018 Saúde e Vida

Zizi Soares fez da alimentação aliada importante no tratamento contra o câncer: ela abriu mão de gorduras, carboidratos, refrigerantes, sucos artificiais e até de adoçantes; agora, faz uso diário de sucos, como o de maçã verde e o de melancia

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O diagnóstico de câncer provoca uma mudança, muitas vezes, radical na vida da pessoa. Com a alimentação não é diferente. Em tratamentos agressivos, alimentar-se bem pode ser um ato aliado para amenizar os efeitos colaterais pesados. E, de fato, a maioria dos pacientes adere a uma dieta mais saudável após descobrir a doença.

De acordo com levantamento da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), 84,61% dos entrevistados em uma pesquisa adotaram mudanças na alimentação. As principais alterações foram o aumento do consumo de frutas e de verduras e a redução de gorduras e de carne vermelha.

A assessora legislativa Zizi Soares, de 43 anos, é um dos exemplos que retratam a mudança alimentar após o diagnóstico do câncer. Ela encerrou o ciclo de 12 sessões de quimioterapia na terceira semana de agosto, período em que manteve uma disciplina exemplar no quesito alimentação. Nos dia em que estava mais fraca, contava com o apoio da mãe e do marido no preparo das receitas.

Zizi abriu mão de gorduras, carboidratos, como massas e pães brancos, refrigerantes, sucos artificiais e até mesmo adoçantes. Com o auxílio de uma nutricionista, ela substituiu tudo isso por porções diárias de frutas, legumes, verduras, chás, cereais e produtos integrais. Para ela, que sentiu os efeitos colaterais intensos da quimioterapia, a alimentação foi e continua sendo uma aliada importante. “A manga é uma fruta que me dá muita energia e resistência. Já os sucos de maçã verde e de melancia com limão e a água de coco me hidratam bastante. Quando estava fazendo quimioterapia, ficava desidratada. Então, essas receitas me ajudavam muito”, conta. “A forma que encontrei de fortalecer o corpo foi por meio da alimentação”, completa.

A pessoa em tratamento contra o câncer precisa deixar o sistema imune forte, diminuir o processo inflamátório, manter o estado nutricional adequado e reduzir os efeitos colaterais, principalmente gastrointestinais, como náuseas, vômitos, mucosite, perda de apetite, diarreia, constipação, além de evitar o quadro de anemia. É o que explica a nutricionista clínica e desportiva e doutora em ciência de alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Mariana Batista Soares.

Segundo ela, alimentos ricos em ferro (ora-pro-nóbis, inhame, couve, espinafre), vitamina C (frutas cítricas especialmente), antioxidantes (frutas e vegetais vermelhos) e anti-inflamatórios (ervas naturais) são bem reforçados nos planos alimentares desses pacientes. Além disso, a vitamina D e fontes de ômega 3 (linhaça, azeite de oliva, peixes) ajudam a melhorar o sistema imune. 

O nutrólogo, membro da Academia Mineira de Medicina e professor emérito da UFMG Ênio Cardillo Viana salienta que a inserção de frutas e hortaliças é essencial tanto para quem faz o tratamento, quanto para quem já o terminou, em caráter preventivo. “Eles são alimentos fitoquímicos, substâncias que contêm antioxidantes, que impedem a formação de câncer e ajudam no tratamento”, pontua. O especialista também recomenda evitar a ingestão de gordura, restringir a carne vermelha e cortar o álcool.


Mariana Batista acrescenta que existem estudos que mostram como certos alimentos podem silenciar genes indutores de câncer, seja causando a morte de células mal formadas seja evitando a mutação do DNA. “A alimentação deixou de ter somente um papel paliativo na melhora do estado nutricional do paciente, evitando a caquexia (perda excessiva de massa muscular e gordura). Hoje, ela exerce uma função importante na prevenção, no tratamento da doença e na diminuição das reincidências”, pontua.

“A intervenção nutricional precoce e o acompanhamento nutricional são essenciais para auxiliar na recuperação e/ou manutenção do estado nutricional e melhorar a tolerância do paciente ao tratamento proposto”, destaca a especialista, que tem aperfeiçoamento em nutrição oncológica pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

Alimentação leve

A cerimonialista Marcela Calixto, de 36 anos, também mudou sua alimentação e seu estilo de vida após ser diagnosticada com linfoma de Burkitt, um tumor cancerígeno, em dezembro do ano passado. O tipo de quimioterapia que ela faz demanda internação de até 15 dias em um ciclo do mês. Com isso, a imunidade baixa significativamente, o que exige cuidado redobrado na alimentação.

Ela relata que, antes, tinha o costume de “pular” refeições ou de substituí-las por lanches rápidos, nem sempre saudáveis. Agora, além de se alimentar a cada duas horas, Marcela não faz uso de açúcar nem de itens que contêm muito agrotóxico, como morango ou uva, bem como embutidos e derivados do leite. No lugar, entraram frutas ricas em água, como melão, melancia e manga, sopas e legumes. “Quando estou internada, a alimentação é balanceada. Quando estou em casa, tento seguir o padrão que eles me oferecem no hospital. A mudança não influencia no tratamento em si, mas me dá mais qualidade de vida nesse período”, conta.


Prevenir é melhor do que remediar

É imprescindível ter hábitos de alimentação corretos mesmo quando se está em boas condições de saúde. Aliás, a prevenção vai além de comer considerados bons para a saúde, abrange o estilo de vida. “Manter o peso corporal, porque a obesidade leva ao surgimento de doenças, ter boa alimentação, praticar atividade física, beber com moderação, não fumar e ter um sono de qualidade são práticas fundamentais”, destaca o nutrólogo Ênio Cardillo Viana.

A empresária no ramo alimentício Tayla Assis conta que participou recentemente do curso Nutrição Eficiente, com o nutricionista Luciano Bruno, no qual aprendeu sobre a alimentação baseada em plantas, a plant based. Nessa forma de alimentação, a pessoa foca as hortaliças, os legumes e as verduras e retira a proteína animal, que pode ser inflamatória para o organismo, segundo Bruno. De acordo com Tayla, que é proprietária da loja Mercado Verde – Alimentos Naturais, em Betim, “a alimentação e um estilo de vida saudáveis não servem apenas para emagrecer, mas para se viver mais e melhor. Um corpo bonito é apenas consequência”, enfatiza a empresária.

 




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