Aplicativo bom pra cachorro

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Criado em 25 de Novembro de 2015 Capa

Foto: Samuel Gê

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Hoje, além de terem perfis próprios ou páginas voltadas só para eles nas redes sociais, os cães contam até com aplicativos de celular exclusivos. Bom para as fofuras de quatro patas, que podem se deleitar com mimos e privilégios, bom também para empreendedores, que aproveitam esse nicho para impulsionar os negócios. É o caso de três amigos, que, com “faro apurado”, uniram a paixão pelos pets à vocação para o ramo empresarial. O trio fundou a Doglikers, startup que, além de oferecer um clube de benefícios a tutores – e, principalmente, a seus “filhos” –, lançou um aplicativo que permite a adoção de cães por pessoas de todo o Brasil, uma espécie de Tinder para cachorro.
 
Julia Ruiz
 
QUEM TEM UM ANIMAL DE ESTIMAÇÃO SABE como é impossível resistir à espontaneidade do carinho, das brincadeiras e, até mesmo, das travessuras de cada dia. A ciência, interessada há mais de um século na relação entre humanos e seus pets, principalmente entre homens e cachorros, explica tanto bem-estar – e, consequentemente, tanta paixão entre ambos. Mas um estudo recente foi ainda mais incisivo. Realizada no fim de 2014, pesquisa americana veiculada pelo portal “Science Direct” – que reúne um acervo de mais de 13,6 milhões de publicações científicas, como artigos e estudos em geral – mostrou que, quando sentiam o cheiro de seus tutores, os amigos de quatro patas tinham ativada no cérebro uma área denominada “núcleo caudado”, associada às sensações de prazer. Nos humanos, essa mesma área atua intensamente nos primeiros estágios do sentimento mais puro que alguém pode manifestar: o amor. E o mais interessante é que esse cheiro especial não foi o único usado para testar os bichinhos. Os 22 cães de 12 raças distintas que participaram do experimento foram treinados para permanecer tranquilos e deitados sobre um aparelho de ressonância magnética, por meio do qual sentiram o odor deles mesmos, o de cachorros conhecidos e de 
desconhecidos, e o de um ser humano com quem nunca tiveram contato. E o único cheiro capaz de ativar a forte sensação foi o do tutor. De acordo com as conclusões do estudo, esse fato é a maior prova de que cachorros sentem por seus “pais” algo bem próximo do conceito de amor entendido pelos humanos.
 
O arremate acima, provavelmente comprovado na prática pela maioria das pessoas que têm cães, talvez seja também a explicação para a retribuição dos homens, que integram os amigos peludos cada vez mais a seu estilo de vida, seja ele qual for. E, como as pessoas hoje vivem conectadas, consumindo informações e produtos pela web, não é difícil imaginar as consequências para o bichinho companheiro. Foi apostando nessa tendência crescente, na paixão por cachorros e no tino para os negócios que os amigos Gustavo Monteiro, 36 anos, Bruno Queiroz, 32, e Cadu Betti, 31, todos da Grande São Paulo (SP), decidiram criar, no mercado do melhor amigo do homem, um empreendimento diferenciado: a startup Doglikers. A iniciativa, que surgiu em um trabalho de conclusão de curso de MBA em marketing, tem por objetivo oferecer produtos e serviços inovadores para pessoas que, assim como eles, amam esses animais.
 
O primeiro serviço ofertado pela empresa, no início de 2014, foi a LikeBox, uma caixa customizada contendo brinquedos, snacks, itens esportivos e de higiene, dentre outros produtos para o deleite de cães de todas as raças e idades, que é enviada mensalmente à casa de assinantes. No segundo semestre deste ano, a grande aposta foi o Au.Dote, primeiro aplicativo para celular que permite a adoção exclusiva de cachorros.
 
O investimento inicial da empresa foi de aproximadamente R$ 300 mil, e a projeção dos empreendedores é a de atingirem R$ 420 mil de faturamento até o fim deste ano. “Depois de muito estudarmos mercados e preferências, descobrimos essa paixão em comum por dogs e resolvemos criar produtos e soluções para esse mercado carente de novidades. Com isso, fundamos a Doglikers e, hoje, temos dois produtos/serviços que estão alinhados com nosso conceito de marca, que é promover mais momentos de diversão entre cães e donos por meio de tecnologia e inovação”, afirma Gustavo Monteiro.
 
CAIXINHA DE SURPRESAS
Serviço de assinatura mensal, o LikeBox já conquistou 150 mil clientes em todo o Brasil. O valor da assinatura é de R$ 89, e o usuário recebe, em casa, de 4 a 6 itens por box, variando conforme o perfil do cachorro e as novidades do mercado. Uma das grandes vantagens do serviço, conforme explica Monteiro, é que os produtos chegam aos assinantes custando de 30% a 40% menos de quando comprados no varejo.
 
A caixa de produtos é montada especificamente para cada cãozinho a partir de um formulário preenchido pelo tutor nos passos iniciais do cadastro. Informações como nome, raça, idade, peso e temperamento são coletadas. “Temos a ajuda de veterinários e de treinadores para escolher o que enviar para cada um. A seleção se renova mensalmente, mas o criador também pode solicitar produtos de sua preferência. Os objetos nunca se repetem, pois contamos com um sistema que gerencia os artigos e as composições por assinante”, ressalta o empresário.
 

 
Para fazerem parte do clube de assinatura, interessados devem acessar o site da Doglikers (www.doglikers.com.br), no qual encontrarão todas as instruções para o preenchimento correto do cadastro.
 
Usuária do serviço há cerca de seis meses, a jornalista Ana Carolina Mattos, 35, conta que as cadelinhas Greta, de 1 ano, e Suri, de 6 meses – ambas da raça Jack Russel Terrier –, fazem festa quando as caixas chegam. “Elas ficam enlouquecidas, e a diversão já começa com a abertura das embalagens, que ocorre sempre com a ajuda delas! As duas adoram tudo, mas, de todas as surpresinhas, os brinquedos, tanto os de pelúcia, quanto os de roer, são o que elas mais gostam”.
 
Ela diz que soube do serviço através das redes sociais, gostou da proposta e resolveu experimentar. “A Greta tem um perfil no Instagram (@instagreta) há um ano. Então, estou sempre ligada em tudo nesse universo de cães. Achei a ideia muito interessante por me permitir ter acesso a novidades, pois adoro conhecer e testar novos produtos, e, também, pelo custo-benefício, já que a aquisição de brinquedos para elas é algo que faz parte de nosso cotidiano. A diversão que o LikeBox proporciona para Greta e Suri é, com certeza, um dos pontos fortes do serviço, pois cães livres de estresse adoecem bem menos”, pondera.
 
ADOÇÃO EM UM CLIQUE
Apesar de relatar que a família já adotou mais de dez cachorros ao longo dos últimos anos, Gustavo Monteiro diz que criar um aplicativo de adoção não estava nos planos iniciais dos sócios. Mas as estatísticas chamaram a atenção dos empreendedores. É que, embora o número de lares com cães tenha aumentado consideravelmente no país – de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 44,3% das residências brasileiras possuem pelo menos um cachorro, totalizando mais de 52 milhões de cães, o que supera até mesmo o número de lares com crianças de até 14 anos (44,9 milhões) –, a quantidade de peludos abandonados também é expressiva. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existem mais de 20 milhões de cachorros vivendo em situação de abandono no país. Nas grandes cidades, para cada cinco habitantes há um cachorro, sendo que 10% desses estão abandonados.
 
“Ao desenvolvermos algo inovador, que é nosso DNA, acabamos de frente com esse grave problema dos cães abandonados no Brasil. Então, promover o encontro entre esses bichinhos carentes e pessoas dispostas a lhes dar amor passou a fazer parte de nossa missão. Assim, criamos uma ferramenta que vai ajudar e potencializar o belo trabalho feito por ONGs sérias e idôneas. Felizmente, tanto as organizações, quanto os amantes de cachorros adoraram a ideia e, assim, estamos evoluindo”, diz Monteiro. De acordo com o empresário, o grande objetivo do aplicativo Au.Dote é estimular a adoção no lugar da compra de cães. “Nossa meta é mudar essa cultura, levando a possibilidade da adoção para um maior número de pessoas, de maneira fácil e democrática. Queremos que as pessoas deixem de comprar animais e passem a adotar, ajudando a promover melhor qualidade de vida aos que precisam”.
 
Gratuito e disponível para iOS e Android, o aplicativo busca unir instituições que oferecem animais para adoção e interessados em adotar, tudo ao alcance de um clique. Os cães são apresentados em perfis, o que possibilita filtrar uma pesquisa por localização, ONG, raça, idade e sexo. Caso o interessado goste de um deles, pode selecionar a foto e acessar outras informações, como vacinas, histórico e contato. Se houver real interesse na adoção, o usuário só precisará clicar no coração para “favoritar”; dessa forma, a entidade
responsável receberá, automaticamente, um e-mail notificando que existe um interessado naquele cão, cujo perfil ficará arquivado
na conta do usuário como um de seus favoritos. Apenas as organizações e as instituições aprovadas podem oferecer os animais pela plataforma.
 
Desde seu lançamento, em junho, o aplicativo já conta com 1.500 cachorros cadastrados, provenientes de parcerias com diversas instituições. “Hoje, temos mais de 15 mil downloads do app, com 15 processos de adoção em andamento, sem contar os que já foram concluídos. Recebemos feedbacks positivos de ONGs, e nossa meta é firmar parceria com 120 entidades até o fim do ano que vem. Aproveito para deixar o convite para todas as instituições mineiras aderirem ao projeto gratuitamente, pois é um aplicativo que já conquistou as novas gerações”, ressalta o empresário.
 
A publicitária Cecília Sampaio, 26, foi uma das usuárias que tiveram o processo de adoção concluído. Com vontade de ter um companheiro de quatro patas para alegrar o apartamento que divide com um amigo, ela resolveu investir na nova plataforma. “Soube do Au.Dote por uma amiga que viu o anúncio do aplicativo no metrô. Ela sabia que eu procurava um cachorro e achou que poderia ser uma boa oportunidade”. E foi, pois Cecília se encantou com a cadelinha vira-lata Cristal, hoje sua “fifilhotinha”, como ela mesma denomina. “O processo foi bem simples. Eu encontrei o perfil dela e comparei com o de outros cachorros. Ela tinha sido, de longe, minha favorita. Assim, mandei uma mensagem para a ONG, que, rapidamente, me respondeu, e pronto! No fim de semana, já fui conhecer a cachorrinha. Eu me interessei de cara por ela, que parecia calma e amistosa, além de ser linda. Pouco tempo depois, já estava comigo na nova casa”, derrete-se a tutora.
 
A agilidade no processo também se refletiu na adaptação da cadelinha ao novo lar. “A Cristal demorou uma semaninha para se adaptar. Ela é muito inteligente e aprendeu vários truques novos. Aquele ditado de que cachorro velho não aprende coisas novas é furado! Fiquei tão feliz e sei que há tantos bichinhos que precisam de uma casa que recomendei o app a todos os meus amigos. Sei que vários já estão de olho em um peludinho”, conta.

 

OUTROS APLICATIVOS EXCLUSIVOS PARA CÃES

DOGGY DATEZ
Quer fazer novos amigos junto com seu cão? Este aplicativo social te permite “marcar território” e ainda ver quem anda visitando seu espaço. Você pode, é
claro, procurar pessoas, segundo um filtro de gênero ou de idade do tutor, e de idade e raça do cachorro. Disponível para Android e IOS.
 
PET FIRST AID
 Com o foco na saúde de seu cãozinho, este app promete te ajudar a proceder
de forma correta e segura diante de várias enfermidades que podem acometer seu melhor amigo. Para isso, conta com vídeos que ensinam, com detalhes, a como se, por exemplo, fazer um curativo e como se prestar os primeiros socorros em caso de paradas cardíacas. Disponível para Android.
 
MAPMYDOGWALK
Você e o peludo estão precisando entrar em forma? Então, não deixe de baixar este aplicativo! Com ele, você pode minutar todas as caminhadas e acompanhar as calorias que os dois gastaram nas atividades. Você pode ainda computar as melhores rotas usando o GPS e compartilhar o tempo gasto e as fotos do momento. Disponível para Android e IOS.
 
ICAM
Você passa o dia longe do amigão e quer ver em tempo real o que ele anda aprontando? Então, aposte neste aplicativo, que não é gratuito, mas deve ser muito útil para quem não pode dar a atenção que gostaria para seu cão – ou mesmo para quem precisa se ausentar por algum tempo, como no período de férias. Disponível para Android e IOS.
 
WEATHER PUPPY
Este não é um aplicativo que tem funcionalidades interessantes como os acima, mas é para quem não abre mão da fofura de quatro patas nem quando vai consultar a meteorologia. É que este app te mostra a temperatura do local em que você está sempre com uma imagem de cachorro – que muda conforme o clima. Por exemplo, se estiver chovendo, aparecerá um cãozinho molhado. Se estiver muito quente, um cachorro todo estiloso, com óculos escuros, deve aparecer na tela. O aplicativo permite ainda que você coloque como imagem de fundo uma foto de seu “filho”. Disponível para Android e IOS.
 
PETSIE DOG BREEDS
Se você é daqueles que têm dificuldades em identificar a raça de um cachorro, pode apostar neste app. Por meio de vídeos, fotos e informações, ele vai fornecer tudo o que você precisa saber sobre cada uma. Ele pode ser usado também como uma rede social, compartilhando informações sobre seu cãozinho. Disponível para Android.
 
DOMINARAM AS REDES
Esqueça os tutores, eles são apenas coadjuvantes – muitas vezes, nem aparecem. Definitivamente, os cachorros tomaram conta das redes sociais. E não estamos falando daquelas páginas pensadas especificamente para animais não, como PlugPet ou Social Pet, em que cães podem encontrar pares para cruzar ou ter suas fotos compartilhadas especificamente com outros amantes de cachorros. Estamos nos referindo às que foram criadas, inicialmente, para pessoas mesmo, como Facebook e Instagram. O que já é prática comum, há pelo menos cinco anos, em países europeus e nos Estados Unidos, recentemente passou a ocorrer também no Brasil. Além das inúmeras páginas para amantes de cachorros ou de raças específicas, os peludos também ostentam perfis só para eles. Para se ter ideia, um levantamento realizado pela companhia britânica de seguro de animais PetPlan apontou, em 2011, que um em cada dez cães do Reino Unido tinha perfil próprio nas redes sociais. O estudo não foi repetido, mas é razoável imaginar que o número tenha subido.
 
Greta e Suri, as cadelinhas que adoram os brinquedinhos da LikeBox, conhecem bem a popularidade propiciada pelas redes sociais. Com mais de 15 mil seguidores no Instagram, elas têm todos os seus cuidados e atividades compartilhadas diariamente e até já participaram de um programa de TV. Tudo para o orgulho da assumidamente “coruja” Ana Carolina.
A empresária Evelin Silva, de Divinópolis, na região Oeste de Minas Gerais, também sabe bem como é sentir orgulho do pet. Tutora do shitzu Flopynho, de 1 ano e 11 meses, ela se desdobra em amor e muitos mimos para aquele que considera o “príncipe da casa”. “Flopynho tem um significado especial porque chegou depois de um momento difícil, quando eu havia perdido justamente um shitzu por erro veterinário. Curiosamente, tem uma manchinha no mesmo lugar que o outro tinha”, relata.
 
Inteligente, amoroso, protetor e brincalhão são, segundo Evelin, as qualidades do cãozinho. Tudo isso pode ser visto pelos seguidores do peludo em fotos e vídeos inseridos no perfil dele no Facebook. Ele tem um só para ele, mas também vive aparecendo como atração especial no perfil da própria Evelin e no Instagram do plantel de criação da mãe dela, que é proprietária de um canil. O resultado? Quase 10 mil amigos. “São titias e titios queridos de todo o país e de fora além de amiguinhos que também possuem perfil. A internet nos proporciona alcançar pessoas que nutrem esse mesmo amor. Por isso, fiz essa conta para ele. Já tivemos a oportunidade de conhecer alguns contatos pessoalmente e também fomos convidados para encontros em Brasília. Estamos nos programando para o próximo”, diz Evelin.
 
Ela, que é mamãe de Yasmim, de 7 anos, garante que a filha não tem ciúmes de Flopynho. “Ao contrário, ela se sente um pouco mãe dele também. Cuida, dá carinho. E ele a protege muito. É lindo ver a relação dos dois”. Questionada se recebe críticas por ter inserido o cachorro nas redes sociais, ela relata que sim, mas não só pelo perfil no Facebook. “Sou criticada pelas publicações mostrando, por exemplo, o laço que ele está usando na semana e, também, pela forma como cuido dele. Percebo que isso está melhorando, mas algumas pessoas ainda não aceitam o fato de eu tratá-lo como um integrante da família. Só que críticas virão sempre. Tento absorver o que é positivo, e o que é negativo eu ignoro. Nem todo mundo entende que é ele quem me recebe sempre com festa, que faz tudo para estar junto de mim e que sente um amor puro, não pedindo nada em troca”.

 




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