Arte em cada canto
Conhecido pela variedade de antiguidades expostas, Restaurante e Museu Jeca Tatu agora conta com cinema
Sara Lira
Uma mistura entre o clássico, o vintage e o contemporâneo. Um local onde não há preconceito contra nenhum tipo de arte: todos são aceitos. Assim se pode definir o Restaurante e Museu Jeca Tatu, localizado às margens da BR-356 em Itabirito, na região Central de Minas, no caminho da tradicional Ouro Preto.
Criado há 14 anos, o espaço começou pequeno, apenas com uma lanchonete, onde eram vendidos os famosos pastéis de angu “itabiritenses”, com recheios variados. Aos poucos, o proprietário, Leonardo Ruggio, foi colecionando algumas antiguidades e decorando o local, o que chamou a atenção dos visitantes. Atualmente, são 5.000 metros quadrados com obras do mundo todo, incluindo vinis, eletrônicos, objetos de decoração, biblioteca, entre outros atrativos. Alguns dos itens ele comprou, outros ganhou. Fato é que cada um deles carrega uma significativa história.
Agora, o Jeca Tatu recebeu também uma sala de cinema, com capacidade para 168 lugares. O sonho antigo de Ruggio foi realizado com uma forcinha a mais, a do apresentador da TV Globo Luciano Huck, que descobriu o espaço depois que Leonardo enviou uma carta – escrita em papel de pão – para o programa contando a história do Jeca Tatu e a dificuldade de concretizar o desejo de fazer o cinema. “Essa carta chegou às mãos dele, e daí a coisa fluiu e deu um impulso valioso”, conta o proprietário do espaço.
Assim, Leonardo participou do quadro “Quinquilharia” do programa “Caldeirão do Huck”, onde recebeu a proposta de doar 15 peças de seu acervo para um leilão em São Paulo. Os objetos foram restaurados e leiloados para empresários, gerando R$ 20 mil. Mas, como a obra estava orçada em cerca de R$ 40 mil, o programa completou o que faltava. Entre as peças leiloadas havia bancos de cinema da década de 1940, uma mesa de canto desenhada pelo designer italiano Giuseppe Scapinelli e uma motoneta Vespa – artigos de luxo para quem coleciona objetos raros ou trabalha com decoração de ambientes.
O cinema do Jeca Tatu é bem simples, como Ruggio define, mas completo. Dispõe de tela, projetor e até carrinho de pipoca. “Foi muito boa essa ajuda, pois já havia dois anos que estávamos pelejando nessa obra e fazendo aos pouquinhos”, relata. O funcionamento começou em meados de outubro e ocorre por agendamento. Um grupo, que deve ser de pelo menos 30 pessoas, marca o horário, escolhe o filme a que quer assistir, e a equipe do espaço se encarrega do restante. Tudo pelo preço simbólico de R$ 10 por pessoa. “Trabalhamos com escolas, grupos de terceira idade, aniversariantes”, detalha o idealizador do projeto. E o espaço ainda pode ser usado para apresentações teatrais, já que possui um pequeno palco e camarins.
História
O Jeca Tatu é uma das principais atrações culturais de Itabirito, sendo também abrigo de artistas, que usam o lugar para produzir as próprias obras. É o caso de Rui de Paula e Ataci Costa, que têm seus ateliês dentro do museu e o utilizam como local de exposição também. Um desses ateliês funciona dentro daqueles ônibus antigos, conhecidos popularmente como “jardineiras”. Esses veículos são algumas das principais atrações do espaço.
“Essas jardineirinhas foram doadas pelos Estados Unidos para nosso transporte escolar, e, depois que elas caíram em desuso, eu decidi expô-las no Jeca Tatu. Nelas funcionam a biblioteca e os ateliês, sendo que um deles serve à produção de obras por meio da reciclagem, algo que acho muito importante de ser feito hoje em dia”, afirma.
Uma nova jardineira foi adquirida no mês de novembro, em parceria com o hotel Aredes, que pretende auxiliar na divulgação do museu. “Vamos criar um roteiro para que as pessoas possam vir de todo o Brasil e de fora também para fazer um turismo em nossa cidade. Isso vai incluir visita ao museu, ao cinema e outras atrações”, adianta ele.
A música também tem espaço garantido no local, onde são expostos instrumentos diversos, como radiolas, discos e os tradicionais vinis – um paraíso para quem curte o universo das antiguidades e também da música antiga.
Além de toda a arte envolvida no projeto, permanece vivo o propósito inicial da venda de pastéis, feitos por uma cozinheira de Itabirito – a mesma desde quando o Jeca Tatu foi inaugurado, em 1998. No entanto, conforme Leonardo diz, “90% do que tem no lugar é de ver e 10% de comer”, brinca.
O local é motivo de orgulho para ele e para a família, que cuidam com muito amor do espaço e sempre estão com expectativas de receber mais pessoas. O acervo, constantemente atualizado, não é catalogado, mas a diversidade e a curiosidade pelo novo são justamente o charme do Jeca Tatu. “Começamos bem pequenos e, hoje, (o estabelecimento) já está bem maior. Foram 14 anos de muita luta, com um puxado aqui e outro ali. Ganhamos as coisas aos poucos, com tudo tomando proporção devagar, e o cliente foi gostando de ver. Não temos nada de luxo, é tudo muito simples, mas é bem bacana e aconchegante”, define Leonardo com muita modéstia, sem se vangloriar das peças que guarda.