“As dificuldades é que me fizeram melhorar”

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Criado em 23 de Novembro de 2012 Conversa Refinada
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O juiz criminal Dirceu Walace Baroni, 59, nasceu em Bauru, interior de São Paulo, e veio trabalhar em Betim há 17 anos; a partir de então, adotou a cidade para viver. Ele é casado e tem dois filhos. Vindo de uma família humilde a mãe era costureira, e o pai, já falecido, escriturário, doutor Dirceu Baroni revela que começou a trabalhar como pintor, aos 12 anos.

REVISTA MAIS - Fale sobre sua formação. Como o senhor se tornou juiz e por que a opção pelo direito?

Dirceu Baroni - Bem, o primeiro curso que fiz foi o de tecnologia elétrica. Estudei por apenas um ano, pois precisei trancar a matrícula. Seis meses depois, comecei a receber cobranças pelas mensalidades e tive que pagar. E foi para me defender de situações como essa que resolvi cursar direito, e fui bem na faculdade, gostei muito. Daí, fui trabalhar em São Paulo, na capital,  onde, tempos depois, prestei concurso para promotor, passei e vim morar e trabalhar em Minas, no ano de 1983. Sete anos depois, prestei concurso para juiz sempre fui bom em concursos e fui aprovado. Atuei em várias cidades mineiras até chegar a Betim, onde permaneci até hoje.

O senhor já passou por alguma dificuldade na vida?

O período que passei em São Paulo foi muito difícil. Vim de uma família simples, humilde. Minha mãe era costureira, e meu pai,  escriturário. Comecei a trabalhar aos 12 anos, como pintor de parede e fui um excelente pintor. Trabalhei por dez anos como pintor e, durante alguns meses, fui balconista de boteco. Depois, ingressei na Sesp, que é como a Cemig daqui, operando máquina de xerox. Com esse trabalho, pude iniciar a faculdade de tecnologia. Meu objetivo era fazer engenharia, mas eu precisava trabalhar, e o curso era em tempo integral. Então, eu trabalhava durante o dia e estudava à noite. Depois que tive o problema com a faculdade e resolvi cursar direito, nos dois últimos anos do curso, meu sábado era todo ocupado também, pois tinha aula pela manhã e fazia estágio à tarde. Quando eu me formei, continuei trabalhando na Sesp, mas fui transferido para São Paulo, por meio de uma seletiva interna, para trabalhar com licitação. Esse período em São Paulo foi muito difícil. Eu morava na Associação Cristã de Moços, que ainda existe e onde fiquei até me casar. Tinha dinheiro para fazer apenas uma refeição por dia. O dinheiro era curto, mas eu tive muita sorte e Deus sempre me abençoou. 

Depois que me casei, consegui emprestado um apartamento excelente, a uma quadra da avenida Paulista, para morar com minha esposa, Neuza, que é assistente social e trabalhava como secretária na época. Veja só: morei em um lugar excelente, mas sem condições de usufruir das coisas boas que ele oferecia. Felizmente, os filhos vieram depois de uns setes anos, quando eu já tinha uma estrutura de vida. Eles nasceram em Minas. Eu fiquei na Sesp por 11 anos. Eles me prometeram uma promoção, que demorou um ano para sair. Nesse meio-tempo, eu estudei para prestar um concurso de promotor e passei. Pouco tempo após eu ter sido aprovado, a empresa me ofereceu a promoção. Eu agradeci e segui meu caminho. Era meu destino vir para Minas.

O senhor tem ideia de quantos casos já julgou ao longo de sua carreira como juiz?

Não sei precisar, mas é certo que foram centenas de milhares. Você imagina: são 32 anos de magistrado. É bastante tempo.  Posso dizer que todos os casos foram importantes para mim. Mas, certamente, para os réus, foram muito mais. 

O senhor considera seu trabalho difícil?

Eu considero meu trabalho difícil sim. Afinal, convivo com as mazelas da sociedade.

Já sofreu para tomar alguma decisão? Arrepende-se de alguma?

Sofrer eu sofri, mas me arrepender, não. Não sei se acertei em minhas decisões até hoje, mas eu não posso me arrepender delas.

O senhor almeja algum cargo mais alto? Quais seus planos? 

Bom, quero continuar trabalhando e vislumbro uma vaga de desembargador, que é o cargo máximo a que se pode chegar em minha profissão. São necessários tempo e merecimento, e estou pleiteando uma vaga.

O senhor tem orgulho de sua história?

Claro. As dificuldades na vida são importantes. Se não as tivesse, não procuraria melhorar. Foi por não conseguir a promoção na empresa em que eu estava é que fui fazer curso preparatório para tentar ser aprovado no concurso para promotor. Quanto mais nervoso eu ficava, mais eu estudava. E eu não tinha tanto tempo para estudar. Eu estudava no trabalho, quando tinha oportunidade.

Qual a lição que o senhor tirou de sua experiência de vida e que poderia passar aos leitores da Mais que estão em busca da realização de seus sonhos?

Tudo que conquistei foi através do estudo, e que eu paguei trabalhando, pois meu pai não tinha condições de me ajudar. Ele conseguiu ajudar um pouco à minha irmã, que é formada em nutrição, e, hoje, está muito bem. Foi difícil, mas eu sobrevivi. Talvez isso sirva de estímulo para as pessoas. Não há nenhum advogado em minha família, e eu consegui chegar até aqui sozinho, com muito estudo. Tenho orgulho disso e estou tendo o cuidado de passar esses mesmos valores para meus filhos tenho um casal: o rapaz faz direito também, e a moça, design de moda.

O que Betim significa para o senhor?

Betim é a cidade que me acolheu muito bem e a toda a minha família. Aliás, todas as cidades por que passei em Minas até hoje, desde Galileia, que foi a primeira, receberam-me muito bem. O mineiro é um povo muito bom, carinhoso, respeitoso, e isso é muito importante para mim.

O senhor já retornou a passeio a alguma das cidades em que trabalhou? 

Sim, voltei à cidade de Turama, onde também fiz amigos. Mas, como o tempo, isso se perdeu, infelizmente. Na realidade, sou uma pessoa de poucas amizades, sou fechado mesmo. E eu gosto de ser mais assim, até pela profissão. É bom ser mais reservado para evitar alguma situação ruim. 

O que gosta de fazer nas horas vagas? 

Gosto de assistir a filmes na televisão. Também gosto de pescar. Vou umas quatro, cinco vezes por ano ao rio São Francisco. Confesso que sou meio antissocial, mais caseiro.

O senhor não quis lecionar?

Já dei aulas, de processo penal, na Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete, por uns dois anos, no início dos anos 90. Mas, depois que mudei de cidade, não quis mais.

Qual sua opinião sobre o julgamento do mensalão?

Esse julgamento foi muito importante. Acredito que deu mais transparência ao Judiciário. Tomara que sirva de exemplo para todo o Brasil, mas, infelizmente, acho que o povo brasileiro não tem interesse, não acompanha, não se informa, até para se defender em alguma situação. Para mim, toda pessoa deveria estudar direito, ou ao menos ter noções básicas de seus direitos. É mais fácil manipular o analfabeto, o ignorante.

O que o senhor diria para quem almeja ser aprovado em um concurso para juiz? 

Eu gosto muito do que eu faço, agradeço a Deus pelo que eu faço e fui feliz em minha escolha. O direito oferece várias opções para quem se forma nessa área. É um curso bom.

 




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