Bem-acompanhados
Profissional especializado em cuidar de animais, principalmente cães e gatos, o personal pet está ganhando o mercado.
Iêva Tatiana
Quem tem um animal de estimação em casa – sobretudo cão e gato – sabe o quão difícil pode ser deixá-lo sozinho durante todo o dia, no horário de trabalho, ou, pior ainda, pelo tempo de uma viagem, quando não é possível levá-lo junto. Para amenizar o sofrimento dos bichinhos (e dos tutores, é claro!), um profissional especializado em alimentar, dar banho e levar para passear vem ganhando cada vez mais espaço no mercado. São os chamados personal dog – também conhecidos como personal pet ou dog walker).
Comuns em outros países, a exemplo dos Estados Unidos, mas ainda novidade por aqui, esses “cuidadores de animais” são responsáveis por garantir o bem-estar dos bichos domésticos e, em algumas situações, também pelo adestramento deles. É o caso de Deborah Rayane da Silva, 25, que, há pouco mais de um ano, vem se dedicando a cuidar de cães, gatos e até de galinhas e gansos em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Apaixonada por animais desde criança, ela fez um curso rápido de auxiliar de veterinária, mas não conseguiu trabalho na área. Depois de mais ou menos cinco anos trabalhando em outra função, ela resolveu tentar, novamente, fazer o que gosta. E, desta vez, deu certo. Ela começou atendendo a amigos, indo à casa deles para dar banho e levar os bichinhos para passear. Hoje, soma quase dez clientes fixos e outra porção de atendimentos esporádicos.
Os primeiros a receber os cuidados de Deborah foram Rex e Bob, os dois cães da assistente social Adriana Nara de Oliveira, 34 anos, também moradora de Betim. “Trabalho dia sim, dia não e, às vezes, quando troco o plantão, dois dias seguidos. Então, fico sem ter como cuidar deles. O Rex precisou ser adestrado pela Deborah porque ele era muito agressivo. Ela me ajudou demais”, afirma Adriana.
Com cada animal, a rotina da personal é diferente. À casa da assistente social, por exemplo, Deborah vai, em média, três vezes por semana, dependendo da necessidade. “Na maior parte das vezes, eu cuido dos bichos nas casas deles mesmo. Os próprios donos preferem, pois isso ajuda a evitar que eles peguem algum parasita e não altera a rotina deles”, diz Deborah. A confiança, nesses casos, é fundamental para a parceria dar certo. “Tenho acesso às residências até na ausência dos donos. Muitas pessoas deixam as chaves comigo”, conta.
Oferta e demanda
Para o personal pet Gustavo Henrique de Carvalho, de 36 anos, esse é, de fato, um dos aspectos mais importantes da profissão. “A confiança vai sendo transmitida no dia a dia. As redes sociais ajudam muito, porque as pessoas podem acompanhar minha rotina de trabalho e, com isso, perceber que os clientes me entregam as chaves de casa, têm confiança em mim e, dessa forma, confiam a mim o que eles têm de muito precioso: os animais de estimação”, relata.
Carvalho, que atua em Belo Horizonte, tornou-se personal em abril do ano passado, depois de ter sido demitido da empresa em que trabalhava. Durante anos, ele foi responsável por obras em uma construtora, mas, por causa da crise econômica, acabou ficando desempregado. Embora goste da antiga ocupação, ele garante que está mais satisfeito com a nova fase profissional. “Acho que não voltaria. Gosto muito do que faço. Ter prazer em trabalhar em uma área e ainda ser remunerado por isso é muito gratificante”, revela.
Segundo o personal, a procura por profissionais que cuidam de pets tem sido grande, e trabalho é o que não falta. “Hoje, são muitas pessoas que ‘emprestam’ as casas para que os animais se hospedem. Mas isso é diferente de ter um olhar mais cuidadoso e profissional para os animais. Eu me dedico inteiramente a esse trabalho e não tenho outra ocupação. Não sei se são muitos que têm essa disponibilidade e entendem bem sua responsabilidade”, ressalta Carvalho.
Também personal dog na capital mineira, Fernando Antunes, de 53 anos, está há mais tempo no ramo e conseguiu aproveitar, lá atrás, o gargalo do setor, que era ainda maior. Ele começou a cuidar de animais em 2011, depois que o filho viajou para o exterior e conheceu a iniciativa lá fora. O ex-microempresário do segmento alimentício resolveu, então, mudar de área “por gostar muito de animais e enxergar uma oportunidade nesse nicho de mercado, que, na época, não possuía profissionais especializados”.
Antunes, atualmente, concentra o trabalho na região Oeste de BH, onde mora, e soma 20 clientes fixos, além de alguns avulsos, que contratam seus serviços eventualmente. A falta de tempo das pessoas vem mantendo a agenda dele cheia há cinco anos, e o resultado de tanta ocupação – que parece ser unânime entre os personal dogs – é a satisfação de estar em contato direto com os animais. “É um serviço muito prazeroso para mim. Tenho uma relação de confiança e de amizade com os cães, o que me deixa muito realizado”, destaca Antunes.