Desenvolvida por Alexandro Faleiros, que queria realizar o sonho do filho de jogar bola, bota especial agora ajuda dezenas de pessoas em todo o mundo
Lisley Alvarenga
FOI IMPULSIONADO POR PODER REALIZAR UM SONHO que aconteceu há cerca de quatro anos, em que ele andava e corria livremente com seu filho, o estudante Felipe Mishima Faleiros, 15, pelas ruas da capital mineira, e pelo profundo desejo de vê-lo jogar bola que o advogado Alexandro Faleiros, 39, decidiu mudar a história de vida de sua família e de dezenas de pessoas deficientes espalhadas pelo mundo. Depois de ficar conhecido nacionalmente, por ter criado uma bota especial para poder praticar futebol junto com Felipe, que tem leucomalacia periventricular – uma paralisia cerebral causada pela falta de oxigenação no cérebro, que o impede de se locomover –, ele resolveu dar o bom exemplo e, desde 2012, passou a captar, em parceria com o Rotary de Contagem, padrinhos que se disponibilizassem a ajudar doando as botas para quem precisa, mas não tem condições financeiras de comprar. Hoje, quase três anos após o início dessa luta, já são mais de 50 pessoas beneficiadas, sendo três delas nos Estados Unidos e na Europa.
“Quando se recebe uma benção como minha família recebeu (a criação da bota por meio de um sonho), não se pode guarda-lá; ela deve ser compartilhada com a humanidade. Por isso, acredito ser uma missão de meu filho ajudar outras pessoas. Sou apenas um instrumento que o auxilia na concretização desse sonho divino. Toda vez que conseguimos um doador para uma pessoa que precisa de uma bota especial, sinto uma imensa paz, sinto que Deus está agindo através do meu filho e de mim. Ajudar essas pessoas é a maior satisfação da minha vida, pois me sinto útil para a sociedade”, afirma o belo-horizontino.
A primeira vez em que Felipe e o pai jogaram bola juntos foi um momento inesquecível. “Lembro como se fosse hoje. Pelas feições de Felipe, dava para perceber que ele estava sentindo a mais indescritível felicidade que um ser humano pode sentir. Foi um momento mágico para nós e para toda a nossa família”, recorda-se Alexandro, emocionado.
Apesar de as botas serem consideradas um produto lúdico, já que Alexandro ainda não conseguiu que uma universidade inicie os estudos para avaliar seus benefícios e suas funcionalidades ortopédicas, o advogado garante que elas são um estímulo sensorial e psíquico para as crianças que as utilizam, bem como para os familiares. “Trata-se de botas padronizadas e customizadas, mas estamos desenvolvendo outros produtos para aprimorá-las as botas e, assim, tornar a vida de seus futuros usuários mais feliz”, garante. Além de crianças, as botas também podem ser utilizadas por adolescentes e adultos, desde que eles estejam aptos e tenham prescrição médica.
Um dos beneficiados com botas especiais foi Pedro Henrique Ribeiro Vieira, 11. Como Felipe, ele tem paralisia cerebral e também sonhava poder jogar futebol. “Quando minha esposa e eu vimos Felipe e Alexandro jogando futebol juntos, percebemos que a realização do nosso sonho estava mais próxima do que imaginávamos. Entramos em contato com Alexandro pelas redes sociais e tivemos um retorno imediato”, conta o empresário Bruno Guilherme Vieira, 30, pai de Pedro.
Para ele, as botas contribuem para a socialização e a integração de seu filho com as atividades escolares e extracurriculares. “Todo ser humano possui alguma limitação; por causa da botinha, não deixamos de transmitir essa mensagem para Pedro, mas conseguimos mostrar a ele o poder da superação, pois a deficiência, para nós, é mais um detalhe na vida que temos que trilhar. A botinha devolve a cada criança o direito adquirido ao nascer. Nossa vida nunca mais foi a mesma e temos certeza de que a do Pedro, também não”, finaliza.
O processo para doação das botas é simples. A família precisa procurar algum representante do Rotary Contagem, ou o próprio Alexandro, através da internet ou pelo telefone, e informar a situação do doador e o interesse de adquirir o produto. Constatada a necessidade, começa a luta em busca de padrinhos que queiram participar colaborando financeiramente para a confecção do produto. O par do modelo mais antigo e customizado era fornecido pela fábrica por R$ 800, contudo, hoje, graças a um grupo de empresários que se uniu para desenvolver botas de melhor qualidade e, portanto, mais eficazes, o valor ficou mais acessível, baixando para R$ 300. “Em breve, teremos uma página na internet com o nome Botas Superação, por meio da qual os produtos poderão ser adquiridos diretamente”, explica o advogado.
FALTA DE APOIO
Mesmo tendo abraçado uma causa tão nobre, Alexandro ainda tem dificuldades para obter apoio financeiro e doadores para as botas especiais. “Fora o Rotary de Contagem, nenhuma outra entidade ou empresa abraçou essa causa, situação que esperamos que mude rápido”, declara Alexandro. “As pessoas deficientes e seus familiares já enfrentam problemas de toda sorte, como descriminação, intolerância, descaso do Estado. É necessário que esse cenário seja transformado. Além da política social voltada para essa realidade, precisamos transformar nossa própria cultura, pois, muitas vezes, nós nos deixamos ser excluídos e não lutamos por nossos direitos”, conclui.
FIQUE LIGADO
*O que fazer para ser um doador ou ser um beneficiado:
Bastas entrar em contato com a Associação Nacional de Pais e Filhos Especiais Felipe Mishima por meio de: Facebook: Alexandro Faleiros / Tel.: (31) 8425.4631 / E-mail:
[email protected]