Brumadinho resiste – e o Inhotim também

Maior museu de arte contemporânea a céu aberto do planeta também sofreu com queda brusca de visitantes após rompimento da barragem da Vale, em janeiro, mas conseguiu retomar fôlego ao longo do ano e tem muitos projetos para 2020

Criado em 19 de Dezembro de 2019 Cultura
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Sara Lira

Prestes a completar um ano, o rompimento da barragem 1, da Vale, na mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de BH, provocou inúmeros impactos negativos. Além das 270 mortes, dos danos ambientais graves e dos prejuízos na economia local, a tragédia prejudicou o Instituto Inhotim, maior museu de arte contemporânea a céu aberto do mundo.

O local, que atrai turistas de todas as partes, encantados pelas peculiaridades e pela beleza do espaço e das obras, sentiu logo a queda brusca de visitantes. De acordo com a diretora-executiva do Inhotim, Renata Bittencourt, até o mês de abril houve uma redução de 40% no número de visitantes.

De início, o instituto precisou trabalhar com o temor de pessoas fora de Brumadinho, de que outra tragédia semelhante pudesse acontecer. Mas o espaço, segundo Renata, sempre esteve em área segura, com laudos comprobatórios de Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e da Defesa Civil. Aos poucos, os turistas foram recuperando confiança e voltando a ocupar o Inhotim.

Um dos eventos que permitiram a retomada de um número considerável de visitantes foi o show do cantor pernambucano Lenine, no fim de abril, no gramado próximo ao Magic Square. “A possibilidade de reverberar que isso aqui (Inhotim) não sofreu com a tragédia é uma prova do lado bom do ser humano”, disse o músico na época.

No primeiro semestre, também foram promovidos no local show da banda PatoFu e apresentações do grupo Giramundo, com o espetáculo “Música de Brinquedo”, e do cantor Alceu Valença, em parceria com a Orquestra de Ouro Preto, entre outras programações musicais.

Aos poucos, segundo Renata, a situação foi se normalizando. No período de férias escolares, em julho, a visitação foi representativa. Nas quartas-feiras, dia em que a entrada é gratuita, o museu chegou a receber mais de 10 mil pessoas. “Foi um período de visitação intensa porque o Inhotim é um ótimo passeio para as famílias”, conta. Renata afirma que a solidariedade também falou alto. “Começamos a ver pessoas querendo estar em Brumadinho para ser solidárias à situação pela qual a cidade passou”, completa.

A engenheira Márcia Santos Arruda, de 46 anos, visitou o instituto pela segunda vez, em novembro. Para ela, ir ao Inhotim é ajudar a resgatar a dignidade de Brumadinho. “É um povo que passou por um trauma, e, vindo aqui, nós estamos prestamos nossa solidariedade”, destaca.

O professor Ivan Camargo, de 59, diz que não teve receio de ir ao museu e aprovou o espaço, que visitou pela primeira vez em novembro. “O ambiente, o parque, o jardim, as exposições ao ar livre. Tudo é interligado”, diz o brasiliense, foi conhecer o museu com a esposa, a funcionária pública Gisele Camargo, de 56. “É uma visita que vale a pena, pois contempla instalações diversas”, afirma ela. 

O ano de 2019 no Inhotim deve encerrar com um número razoável de visitantes, de acordo com a diretora executiva, do espaço. Só em setembro, por exemplo, foram registradas mais de 22 mil pessoas.

Foco nos moradores

Outra estratégia adotada pelo instituto para atrair o público foi trazer ainda mais os moradores de Brumadinho para dentro do museu. Para isso, foi criado o projeto Nosso Inhotim, que garante gratuidade para essas pessoas em qualquer dia da semana. Mais de 5.500 habitantes do município já se cadastraram. “Foi uma forma de oferecer uma medida regeneradora para Brumadinho”, conta Renata.

Os músicos locais também ganharam mais espaço, com shows mensais, por meio do projeto Palco Brumadinho.

Novas obras

O ano encerrou coroado para o Inhotim. Em novembro, o museu lançou novas obras de artistas renomados. Uma delas é a maior já construída de Robert Irwin, com 6.300 metros de altura por 14.600 metros de diâmetro. A estrutura fica no ponto mais alto do terreno da instituição, em área que até então não era acessível aos visitantes.

Na Galeria Mata, uma das quatro temporárias do Inhotim, foi implantada a exposição coletiva de artistas brasileiros, Visão Geral, com obras de Alexandre da Cunha, Iran do Espírito Santo e Marcius Galan.

Outra novidade é a instalação Yano-a, de Gisela Motta, Leandro Lima e Claudia Andujar, na galeria da artista no instituto. O trabalho foi desenvolvido a partir da apropriação de uma fotografia em preto e branco de uma maloca Yanomâmi incendiada, feita em 1976 por Claudia.

Também foi inaugurado o jardim poético do Inhotim, chamado de Sombra e Água Fresca. São 32 mil metros quadrados de criação do paisagista Pedro Nehring. Localizado em uma antiga área de pastagem, o jardim é fruto de um processo criativo de quase dez anos para a ressignificação da área. Agora, o espaço abriga uma comunidade de plantas de aproximadamente 700 espécies, entre nativas e exóticas.

De olho em 2020

Para o próximo ano, o instituto planeja inaugurar, em setembro, uma galeria dedicada à japonesa Yayoi Kusama. Ela é considerada a artista mulher mais vendida do mundo, conforme levantamento da BBC. Uma das obras mais conhecidas do Inhotim, o Jardim de Narciso (bolas de aço inoxidável em cima de um espelho d’água), é de Kusama.

Também haverá novos comissionamentos de obras criadas por Lucia Koch e Rommulo Conceição. Os trabalhos ficarão expostos na galeria Praça, com renovação semestral.

Shows e outros eventos estão previstos, mas o cronograma ainda não está sendo fechado. A programação cultural 2020 do Inhotim começa no dia 2 de fevereiro.

 




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