Cerimônia para poucos
CASAMENTO
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Criado em 15 de Maio de 2014
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Casais colocam a mão na massa e deixam a marca pessoal nos casamentos intimistas; uma tendência que está super em alta e é popularmente conhecida como miniwedding
Lisley Alvarenga
O CASAMENTO É, SEM DÚVIDA, um dos momentos mais marcantes na vida de um casal. Subir ao altar e selar os votos de amor diante de amigos e familiares é um sonho de muitas pessoas, porém, nem sempre esse desejo inclui uma megaprodução, com gastos estratosféricos e centenas de convidados. Atualmente, muitos casais têm optado por uma cerimônia que, apesar de intimista e nada convencional, não deixa de lado todo o glamour e a sofisticação desse momento tão especial. É caso dos miniweddings, ou minicasamentos, uma proposta de festa com, no máximo, 100 convidados, muito difundida entre os europeus e que tem conquistado cada vez mais adeptos no Brasil.
A consultora Michelle Queiroz Coelho, 34, e o gestor ambiental Thiago Siste, 32, resolveram aderir à nova tendência e transformaram o enlace, realizado em outubro do ano passado, em um verdadeiro cenário de filme. Eles uniram o útil ao agradável e realizaram a cerimônia e a festa no mesmo local. “Meu marido e eu não queríamos uma cerimônia tradicional e, por isso, escolhemos realizar o casamento em uma praia. O cenário foi a cidade de Trancoso, no Sul da Bahia. Foi lá que Thiago me pediu em casamento e morou por dois anos. Até hoje, ele ainda tem alguns familiares que vivem lá. Realizamos a cerimônia para cerca de 80 convidados, na praia de Rio Verde. Além disso, reservamos uma pousada à beira-mar para a recepção. Foi extremamente emocionante”, afirma Michelle.
Personalização, riqueza de detalhes e preocupação com cada convidado são algumas das características dos miniweddings. Na cerimônia de Michelle e Thiago, a preocupação foi fazer um casamento que pudesse ser sustentável. O convite tradicional, embalado em um plástico e feito com um tipo de papel especial, deu lugar a um convite de papel semente – que pode ser plantado – e embalado em um saquinho que pode ser reaproveitado. Eles também utilizaram uma orquestra mirim de um projeto social da região e, na decoração, os arranjos suspensos foram feitos com garrafas de água reaproveitadas e flores locais. “Trabalho na área de responsabilidade social há 12 anos e Thiago é gestor ambiental. O tema sustentabilidade faz parte das nossas vidas e queríamos trazer isso para o nosso casamento. Mostrar para as pessoas que é, sim, possível fazer uma cerimônia como essa, que tem uma preocupação social e ambiental sem deixar de ser chique e elegante”, afirma ela.
Fotos Casamento Michelle e Thiago: Marcus Cambraia/ Divulgação
A cerimônia espírita foi conduzida por uma amiga do casal, e os pais dos noivos fizeram a bênção das alianças. Os padrinhos também se envolveram e deram depoimentos sobre os pombinhos de forma improvisada. “Para o fim, também tive uma ideia bastante inovadora, tirada do programa ‘Chuva de Arroz’, do canal GNT, e que deixou a cerimônia ainda mais emocionante. Utilizamos três vidros, um com areia azul, o outro com areia verde e o outro vazio. Misturamos as duas cores no vidro vazio para que as areias se fundissem de uma forma que não pudéssemos identificar onde estava o tom azul ou o verde. Foi uma forma simbólica de mostrar como seria a vida do casal a partir daquele momento: juntos e unidos”, explica Michelle.
Segundo a jornalista e blogueira Elaine Vale, que tem o blog BH Casamentos, a proposta principal dos minicasamentos é realizar uma cerimônia intimista, em que os noivos fazem uma seleção criteriosa dos convidados. “Na Europa, é comum escolhê-los a dedo. Por lá, os noivos convidam somente aqueles com quem eles têm muita intimidade, sem achar isso ‘falta de educação’. Não é comum convidar os amigos dos pais, por exemplo, se eles não forem muito íntimos dos noivos. A ideia desse tipo de casamento vem povoando cada dia mais a cabeça dos noivos, pois, assim, eles podem desfrutar da companhia de cada convidado, estando mais próximos deles”, explica a especialista.
Foi com essa preocupação que a empresária Paola Lanzalotta Marcelino, 28, e o gerente de projetos Thiago Moreira, 31, decidiram organizar seu enlace matrimonial. Tanto a cerimônia como a recepção aconteceram no Parque Ecológico Vale Verde, em Betim, com a presença de 96 convidados. “Inicialmente, fizemos uma lista para 400 pessoas, mas, com o tempo, percebemos que não queríamos um casamento tradicional, que se transformasse em um evento social, político e impessoal. Nossa ideia era dispensar atenção especial para cada detalhe do casamento e, assim, poder proporcionar aos nossos convidados o que há de melhor. Quis fazer uma celebração com amor, para pessoas que amamos e que estarão conosco ao longo de nossas vidas”, afirma Paola ao ressaltar, que não poupou investimento na cerimônia e recepção. “Queria algo único, por isso, pedi a indicação dos melhores profissionais que já haviam realizado casamentos no Vale Verde”, diz.
Para o proprietário da Santo Casamenteiro Assessoria, Júlio Céu, quem opta por um miniwedding não quer economizar. “Se o casal for pensar dessa forma, não terá uma proposta legal. Claro que a parte financeira influi em todos os itens do casamento. Sempre digo esta frase para os casais que vêm me procurar: é melhor servir salmão para 50 pessoas do que para 500. É preciso que os casais tenham em mente que cuidar de cada centavo é muito importante. Os noivos não podem se empolgar e colocar o carro à frente dos bois. Eles têm de saber que o casamento, mesmo que pequeno, é único e deve ser tratado como se fosse para 500 convidados”, reforça. A blogueira Elaine Vale também concorda. “Quem opta por um miniwedding não necessariamente deseja economizar. Às vezes, até pelo contrário, os noivos contratam serviços mais elaborados para o bem-estar deles e dos convidados”, reforça.
Tudo no casamento de Paola e Thiago também foi bastante personalizado e com o intuito de “quebrar as regras”. A cerimônia foi realizada sob um jatobá, uma árvore centenária do Vale Verde, e ministrada pelo padre Celito, muito conhecido em Minas Gerais. A noiva entrou de charrete e, antes de descer para ser conduzida pelo próprio noivo até o altar, deu uma volta de 360 graus nos convidados. O casamento também teve apenas uma daminha, que, em vez de entrar com o buquê (que a noiva não utilizou), carregou balões vermelhos. Já o filho do casal conduziu as alianças em um caminhãozinho branco, repleto de lírios. “As pessoas diziam que parecia um casamento de cinema. Minha entrada foi um momento muito emocionante e bem incomum. Todos os toques pessoais que demos à cerimônia fez com que ela se tornasse fantástica”, afirma Paola.
Para a produtora de eventos e produtora da Artfas Cerimonial e Promoções Flávia Nunes, o grande diferencial dos miniweddings está na proximidade e amizade dos noivos com todos os convidados. “Isso faz com que a energia do casamento fique muito bacana. Eles têm mais tempo para curtir, pois não têm tantas pessoas para cumprimentar. Além disso, por ser um casamento menor, as pessoas buscam até mais detalhes e mimos”, salienta. No caso de Paola e Thiago, esses mimos foram dispensados a todos os convidados. “Para os padrinhos, fizemos um kit personalizado com itens da fazenda Vale Verde, como geleia de cachaça, cumbuquinha, bala de cachaça e a própria cachaça Vale Verde. Já os convidados, antes de irem embora, recebiam o tradicional bem-casado e uma minicachaça personalizada. Minha preocupação com os convidados foi tanta que contratei recreadores, para aqueles que tivessem crianças pudessem aproveitar mais a festa”, conta Paola. “As lembranças, por se tratar de algo pequeno, podem ser algo personalizado para cada convidado. Eles vão adorar. Algo em que é escrito o nome dos convidados, ou fotos de momentos do casal juntos, como um belo porta-retrato. Aí o que vale é a imaginação”, acrescenta a blogueira Josiane Cespedes.
Fotos Casamento Paola e Thiago: Geraldo Lara/Divulgação
Outra noiva que optou por fazer tudo do seu jeito foi a administradora Priscilla Gomes Rinaldi, 29. O pano de fundo da cerimônia e da recepção, assim como o de Paola e Thiago, foi a fazenda Vale Verde. A diferença é que, como a família do marido de Priscilla, o geólogo Tiago de Bittencourt Rossi, 31, é de Curitiba, no Paraná, eles optaram por promover outra recepção, para amigos e parentes do noivo, também nas terras paranaenses. “Na Vale Verde, foram cerca de 80 convidados. Já em Curitiba, recebemos apenas 60 pessoas em um café colonial localizado em uma região histórica da cidade”, conta a administradora.
Assim como Paola, Priscilla também foi categórica em afirmar que o intuito do enlace matrimonial mais intimista não foi o de economizar. “Como somos pessoas reservadas, optamos por fazer um casamento com a nossa cara. Não gostamos de balada, por isso, resolvemos abrir mão de uma festa gigantesca e convidar apenas familiares e amigos mais próximos, que realmente fazem parte do nosso convívio. Nosso objetivo não foi o de economizar, mas, sim, o de ter um cuidado com cada detalhe do casamento. Como tive duas recepções, o gasto total foi R$ 52 mil, isso excluindo as taxas do cartório, as alianças e o álbum. Não foi um casamento tão barato, mas nada comparado a essas festas gigantescas com gastos estratosféricos”, enfatiza a administradora.
Fotos Casamento Priscilla e Tiago: Túlio Isaac/ Divulgação
Outra vantagem dos miniweddings é o traje. A noiva, por exemplo, pode estar com um vestido mais descontraído, sem tanto volume, usar renda, ou até mesmo curto. “Essas cerimônias são tão íntimas que muitas noivas se casam até de sapatilhas. Os cabelos, eu indico mais soltos. Os noivos também se divertem porque não precisam estar de terno e gravata. Se preferir, ele pode colocar uma camisa com um colete, por exemplo. Um charme especial é se casar com chapéu. Fica lindo nas fotos”, explica a blogueira Josiane Cespedes, no artigo “O que é um miniwedding”, do blog Josiane Pedrosa Assessoria e Cerimonial.
No caso de Priscilla, apesar de o vestido ter custado em torno de R$ 7.300, ela optou por um modelo com estilo mais simples e romântico. “Antes dele, eu havia comprado outro vestido, mas resolvi mudar de última hora porque o modelo com o qual me casei era mais romântico e adequado à temática do casamento”, explica.
E para dar um toque ainda mais personalizado ao casamento, realizado em novembro do ano passado, os anfitriões literalmente colocaram a “mão na massa”. A ideia da decoração, romântica, foi toda criada pelos pombinhos. “Tudo o que pudemos fazer nós mesmos, nós fizemos. Tivemos a ideia de colocar pétalas brancas no gramado até o altar. Pedi ao meu tio, que é um ótimo músico, para tocar. Como a cerimônia aconteceu em baixo de um jatobá, enchemos a árvore de bolinhas de flores brancas e gaiolinhas decorativas. Por ter sido de manhã, decidimos comprar leques e água aromatizada para distribuir aos convidados. O convite também foi personalizado e feito por uma amiga publicitária, a Maris. E, logo após os votos, nós mesmos compramos um cestinho e o enchemos de pétalas brancas para que os convidados pudessem jogar nos noivos, em vez do tradicional arroz”, explica Priscilla, ao ressaltar que, como a cerimônia foi civil, eles não tiveram o tradicional cortejo, nem os padrinhos. “As testemunhas foram meus quatro irmãos, e quem levou minha aliança foi minha sobrinha de 8 anos. Mas o que deixou todos mais surpresos foi o fato de eu e o Tiago termos entrado juntos até o altar”, revela.
E se a ideia é ter um casamento que consiga mostrar como são os noivos, Priscilla e Tiago colocaram na cerimônia fotos do casal em momentos especiais com todos os convidados. “Isso deu uma marca ainda mais pessoal à festa”, afirma. Priscilla ainda ressalta que o miniwedding superou as expectativas do casal. “Foi melhor do que podíamos esperar. Vale a pena apostar. Para quem não gosta do casamento convencional, os miniweddings são uma ótima opção”, acrescenta.
Em setembro de 2012, a assistente social Eliete Cristina Rezende Costa, 33, e o educador físico Icaro Batista Nunes Leal Cruz, 34, também comemoraram a união de forma bastante original. O casal realizou a cerimônia na parte externa da igrejinha Nossa Senhora do Rosário, patrimônio histórico-cultural de Betim e principal cenário da celebração anual da cultura afrodescendente no país conhecida como congado. “Icaro e eu éramos amigos desde a adolescência. Nessa época, eu brincava com ele que um dia nos casaríamos e que seria na igrejinha do Rosário. Acabamos namorando depois de alguns anos e, quando decidimos nos casar, ele mesmo deu a sugestão de realizarmos a cerimônia lá, um local que fez parte da nossa história”, explica Eliete.
Eles também sonhavam em fazer uma cerimônia simples, que expressasse o jeito do casal. Por isso, optaram por um matrimônio intimista, que teve, no máximo, 100 convidados. “Compartilhamos a escolha de formarmos uma família apenas com pessoas que fazem parte das nossas vidas: nossos familiares e amigos próximos. Não conhecidos, como muitas pessoas fazem. A identificação com esse tipo de celebração é pela nossa personalidade mesmo. Não somos extravagantes e, como queríamos chamar poucas pessoas, não fazia sentido fazer uma coisa gigante”, enfatiza a assistente social.
Como o casal não fez festa e realizou após a cerimônia apenas um receptivo para os convidados, o custo do casamento não foi alto e girou em torno de R$ 20 mil. “Servimos doces e champanhe para as pessoas depois da cerimônia. Tivemos gastos com convites, decoração, fotos, filmagem, músicos, taxas do casamento no civil e no religioso, e com o receptivo. Na decoração, além de um mural onde as pessoas podiam deixar recadinhos carinhosos para nós, colocamos um belo arco de flores de gipsófila no altar. Já a cerimônia foi conduzida pelo frei Gilvander, que participa de movimentos sociais em Minas, e por uma amiga querida da noiva de longa data. As leituras, as promessas matrimoniais e as músicas puderam ser histórias e poesias que escolhemos e que retratavam nossa história”, conta Eliete, que nunca sonhou em ter um grande evento no casamento. “Queria apenas uma cerimônia simples e de bom gosto. Não me arrependo de nada, foi tudo exatamente como sonhei”, finaliza.
Fotos Casamento Cristina e Icaro: Geraldo Lara/Divulgação