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Criado em 17 de Maio de 2013
Relacionamento
Amor, posse, excesso de zelo ou insegurança? Muitas podem ser as justificativas, mas o importante é respeitar a privacidade do companheiro, principalmente, na era das redes sociais
Cristina Guimarães
“Entrei no bate-papo com a senha do meu ex-namorado, marquei um encontro com uma mulher que ele havia conhecido em um estádio de futebol. Mandei minha irmã vigiar. A mulher apareceu no dia, horário e local marcados e, claro, questionou depois a ausência dele. Meu ex percebeu que eu tinha armado a situação e terminamos.” Esse é o relato da gestora comercial Flávia*, 27, que hoje se diverte com a situação vivida com seu primeiro namorado, quando ela tinha 18 anos. Quase 10 anos depois, ela conta que melhorou muito e, hoje, vive o outro lado da moeda, já que, segundo ela, seu atual parceiro é bastante ciumento.
A gestora conta que tinha um ciúme doentio, o que culminou no fim de dois relacionamentos. Com seu primeiro namorado, ela tinha a senha do e-mail, dos cadastros em bate-papo e sempre verificava o celular para “monitorar” o que estava acontecendo. “A situação extrema foi esse encontro que articulei. Tinha um sentimento de posse incontrolável, que prejudicava e desgastava muito a nossa relação. Não tinha como continuar”, analisa.
Contudo, a lição não foi aprendida no namoro seguinte. Flávia iniciou um relacionamento com um jogador de futebol. Ela lembra que, nos primeiros quatro meses, tudo foi tranquilo, sem qualquer tipo de desconfiança. Porém, certo dia, ela descobriu um computador bem escondido em um quarto – reservado para guardar objetos –, que ficava permanentemente conectado em sites de bate-papo e de relacionamento. “Pronto. Veio à tona tudo de novo. Bastava ter uma oportunidade que eu corria para ‘apurar’ o que estava acontecendo. Não deu outra: o fim de mais um relacionamento”, recorda.
Sinônimo de dor
Flávia percebeu que era o momento de refletir sobre seu comportamento. Decidiu, então, iniciar um processo de análise com um profissional, para entender o porquê dessa postura e tentar controlar os seus impulsos.
A psicóloga Kelen de Bernardi Pizol, pós-graduada pela Universidade de São Paulo (USP), explica que a psicoterapia é o caminho. “O ciúme exagerado traz sofrimento, tanto para a pessoa ciumenta quanto para quem é alvo desse sentimento. O ciúme prejudica o relacionamento, e o excessivo é um dos motivos mais comuns para os homicídios”, afirma.
A especialista ressalta que tanto os homens quanto as mulheres sentem ciúmes. A diferença está nos motivos e nas atribuições que levam a esse comportamento em cada sexo. “O ciúme romântico é uma emoção natural, uma ferramenta evolutiva que serve como um sensor de perigo, tendo a função de preservar o relacionamento. Ele não é uma doença. Contudo, pode ser também sintoma de alguns
transtornos, por exemplo, a obsessão compulsiva, o alcoolismo, a demência e a esquizofrenia”, diz a psicóloga.
Tempero do amor?
O jornalista e escritor Ubiratan Rosa, autor do livro “Mais Amor, Menos Ciúme”, reflete sobre a expressão de que o ciúme é o tempero do amor. “É mentira. É o túmulo do amor. Não o tempera, realmente, tira-lhe o sabor, nunca o fortalece, mas, gradativamente, o enfraquece e, finalmente, o destrói”, salienta.
A contadora Julia*, 30, somente percebeu que seu ciúme era destruidor quando descobriu a senha do programa de mensagens instantâneas de seu ex-namorado. Graças a sua intimidade com os números, associada à vontade de “acompanhar”, em tempo real e online, a vida do companheiro, ela conseguiu entrar no sistema, por meio de uma combinação numérica, e acessou conversas com mulheres que, segundo ela, não eram comprometedoras.
“Mesmo assim, ligava para ele o dia inteiro. Quando ele atendia o celular, ficava atenta, perguntava quem era, o que queria e, se surgia a oportunidade, mexia no aparelho. Minha atitude o sufocou de tal forma que ele terminou o relacionamento. Na minha visão, eu não fazia nada de errado, pois quem gosta cuida. Com o passar do tempo e com ajuda de um psicólogo, observei que zelo é diferente de
posse”, avalia.
* Nomes fictícios, visando preservar a identidade das fontes.