Combate ao desperdício

Instituto CeasaMinas ajuda mais de 26 mil pessoas recolhendo alimentos que seriam descartados. Para este ano, plano é relançar a Vita Sopa, feita com produtos desidratados.

Criado em 09 de Fevereiro de 2017 Bom Exemplo
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A CeasaMinas é um universo dentro da cidade. Lugar que acorda ainda de madrugada e, nas primeiras horas da manhã, já está agitado, movimentando milhões de reais em negócios. Lá no meio, entre uma infinidade de frutas, verduras e produtos que chegam, são carregados, saem e são descartados a todo minuto, um projeto social ajuda instituições garantindo a feira da semana. Voluntários começam cedo e encontram a cesta pronta, com qualidade e variedade, preparada pelos funcionários do Instituto CeasaMinas. O destino são abrigos, casas de reabilitação, lares de idosos e creches.

No ano passado, o Projeto de Doação de Alimentos (Prodal) Banco de Alimentos, uma das frentes de atuação do instituto, doou mais de 880 mil kg de itens. Desde a fundação, em 2002, já são mais de 15 mil toneladas. São produtos doados por lojistas e produtores que atuam na CeasaMinas e que acabam jogando fora parte do que comercializam. Os funcionários do instituto fazem a coleta, selecionam e higienizam um a um. Depois, preparam as cestas completas, com frutas, verduras e legumes.

A estimativa é que a Ceasa desperdiça cerca de 1 milhão de quilos de alimentos por mês. Desses, o Prodal aproveita cerca de 25%. “Evitamos o desperdício e ajudamos mais de 26 mil pessoas”, diz o presidente do Instituto CeasaMinas, Ricardo Carnaval. Os alimentos abastecem hoje 154 instituições, que buscam as cestas de segunda a sexta-feira.

A possibilidade de ajudar é ainda maior, mas o projeto esbarra na falta de recursos e de estrutura. Hoje, conta com somente um caminhão para fazer a coleta dos alimentos dentro da Ceasa, espaço que tem mais de 2 milhões de metros quadrados, o equivalente a 308 campos de futebol. “Muita coisa é jogada fora e, se a gente não aparece rapidamente para buscar, ela se perde. O Instituto CeasaMinas é hoje uma instituição independente, que não tem mais recursos garantidos das centrais de abastecimento”, revela. Com isso, segundo Ricardo Carnaval, há o desafio de buscar projetos, parcerias e doações para aumentar o número de instituições beneficiadas. São mais de cem na fila, de acordo com ele.

Quem é beneficiado e busca toda semana alimentos no Prodal consegue calcular o quanto deixa de gastar e a importância dessa economia para uma instituição que vive de doações. É o caso da Associação Beneficente Resgatando Vidas (Abenervi), que funciona na região do PTB, em Betim. Adimilson Marcelino Gonçalves, presidente da associação, conta que, se tivesse que fazer feira para manter a casa, o gasto seria de aproximadamente R$ 500 por semana. “Para nós, é um projeto muito importante, que nos ajuda demais. Buscamos toda segunda-feira, e tudo chega em perfeita qualidade”, conta.

A Abenervi trata de homens dependentes químicos em situação de reabilitação. Depende exclusivamente de doações para bancar a alimentação, o aluguel, as contas do mês e tudo que é necessário para manter a casa funcionando. Às vezes, a diretoria precisa tirar do próprio bolso para arcar com os custos. Quando é hora de buscar as caixas de frutas, legumes e verduras no Prodal, aquele que está em situação melhor de reabilitação pode acompanhar. A instituição não tem carro para esse transporte, e Adimilson o realiza em seu próprio veículo.  Conforme relata o presidente da associação, a sopa é um aliado importante na limpeza do organismo, visto que os pacientes geralmente estão em fase de desintoxicação.

 Projetos

No Instituto CeasaMinas, mesmo com dificuldades, Ricardo e a equipe de 16 pessoas traçaram planos para 2017. O primeiro deles é reativar a produção de sopa, o Vita Sopa, projeto que vai atuar lado a lado ao Prodal, abastecendo várias casas de longa permanência de Contagem, já que o retorno dele será viabilizado por recursos garantidos pelo Fundo Municipal do Idoso da cidade.

A Vita Sopa é uma sopa desidratada à base de batata, cenoura, beterraba, abóbora e mandioca, todos alimentos recolhidos dentro das centrais de abastecimento, entre os produtos descartados pelos produtores e pelos lojistas. “Quando são desidratados, esses alimentos perdem 90% do peso, mas não os nutrientes. É uma sopa superconcentrada. Ainda colocamos lecitina de soja e macarrão, doados pela Wilma Alimentos”, explica Ricardo. A lecitina de soja é a proteína que substitui a carne e proporciona um equilíbrio nutricional ao alimento. “O problema é que a lecitina é muito cara. Já fizemos com frango desidratado, mas é mais caro ainda. Seria bom se pudéssemos contar com a doação desse componente”, afirma.

Com o retorno da produção, parada há dois anos, a intenção do instituto é vender a sopa – no valor de R$ 0,80 cada – para as casas de repouso particulares para custear as ações voluntárias. A meta é promover um ciclo sustentável na organização. Além da sopa, que poderá ser distribuída para outras partes de Minas Gerais e do país, o Instituto CeasaMinas ainda vai desidratar limão, batata-doce e gengibre para comercializá-los. Por enquanto, a desidratação desses itens só ocorre em situações de emergência, como para doar a desabrigados da chuva.

Em breve, o Prodal vai lançar uma nova página na internet. Por meio dela o doador poderá fazer sua doação em dinheiro e saber o quanto ela significará na prática. Por exemplo, com uma doação de R$ 30 é possível realizar um frete de quatro toneladas de alimentos. Os internautas também poderão acompanhar as campanhas paralelas promovidas pelo instituto, como a de doação de alimentos não perecíveis feita por supermercados.

Ricardo Carnaval ainda tem duas ideias que planeja pôr em prática: montar consultórios odontológicos e firmar parcerias com faculdades para oferecer cursos de formação para atender pessoas assistidas pelas instituições beneficiadas com as cestas de alimentos. “Nossa intenção é abranger a ajuda”, revela.

 

 

 Quer ajudar?

 O site da Prodal na internet já tem espaço para cadastro de voluntários. É possível doar tempo e mão de obra entregando alimentos para aquela instituição que não tem como buscar. O interessado pode fazer o cadastro. Depois, receberá uma ligação para que, juntos, a entidade e o doador identifiquem a melhor área de atuação. A instituição que quiser receber doação também pode se cadastrar.




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