COPA, OLIMPÍADAS E O ROSTO DO BRASIL
POR Domingos de Souza Nogueira Neto*
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Criado em 11 de Junho de 2014
Cultura
As obras da Copa e das Olimpíadas, atrasadas, superfaturadas e banais, do ponto de vista arquitetônico, apresentam para o mundo um Brasil destituído de orgulho, competência e vaidade. É uma pena.
O Brasil pode receber Olimpíadas, Copas do Mundo, campeonatos mundiais, como tem recebido, inclusive, e como sonhou, no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, em mostrar-se ao mundo como igual, realizando eventos, influindo nas relações internacionais e alterando a situação social criada por décadas de oligarquias no poder.
Falhamos, nós falhamos, o governo falhou, os empresários falharam, em tudo. Esse povo insiste em eleger corruptos, de todos os partidos, porque vota olhando para o próprio umbigo, esperando ajudar alguém, ou ser ajudado, no pessoal. Falta ainda votar pensando no Brasil como um todo.
As obras da Copa e das Olimpíadas, atrasadas, superfaturadas e banais, do ponto de vista arquitetônico, apresentam para o mundo um Brasil destituído de orgulho, competência e vaidade. É uma pena.
A infraestrutura para os eventos, a acessibilidade, a mobilidade urbana são apenas um engodo, nada vai sobrar após o carnaval... É fácil verificar que sequer uma política esportiva, a partir das escolas, das comunidades ou das empresas, foi cogitada.
Nossos jogadores de futebol vão continuar ricos, ganhando ou perdendo. Os índices olímpicos vão permanecer medíocres, depois de uma ou de outra vitória obtida através do investimento no alto desempenho. Nada do que está sendo projetado para esses megaeventos, através da proposta de arquitetura, vai surpreender o mundo, ou apresentar como arte certa alma brasileira. Vamos deixar caixotes vazios e caros para a posteridade.
Mas o pior de tudo é que este país que sai às ruas, que protesta, e que percebe suas contradições, como péssima saúde, educação sem investimentos, Judiciário lento, políticos corruptos espalhados por todas as cores do espectro ideológico, empresários gananciosos, fantasmas de ditadores da década de 1960, não tem conseguido criar opções que sejam uma mudança verdadeira.
Penso na Copa que se aproxima, nas eleições depois dela e, aí, nas Olimpíadas, com a sensação de quem está em uma festa à qual não podia deixar de ir, que bebeu, por educação, bebida de péssima qualidade, e que se prepara para uma ressaca, com uma dor de cabeça daquelas...
* Crítico de arte, estudioso de direito e de psicanálise e professor de judô – [email protected].