Com a queda da taxa básica de juros e as ofertas de empréstimos cada vez mais tentadoras, as opções de financiamento para quem busca adquirir algum bem ou liquidar alguma dívida são diversas; economista alerta para o risco do endividamento e dá dicas para o consumidor saber a hora certa de comprar
A queda da taxa básica de juros nos últimos anos tornou o acesso ao crédito mais fácil, o que tem permitido que milhares de pessoas concretizem seus sonhos de consumo, dos menores, como dar uma renovada no vestuário, aos maiores, como adquirir a casa própria e o primeiro carro. A compra deste último era um dos projetos de vida do gerente de vendas Jefferson Marcolino de Almeida, o qual ele conseguiu realizar graças ao crédito facilitado, conforme ele conta. “Sempre desejei ter um carro novo e consegui um financiamento no banco disponibilizado pela própria concessionária. Fiz o parcelamento mensal no carnê com juros de 0,99% e pude comprar o veículo”.
Para Almeida, é muito mais fácil conseguir crédito hoje do que há alguns anos. “São vários os fatores que tornaram mais viável o financiamento de bens, mas, em relação ao setor automotivo, especificamente, acredito que o aumento do número de marcas acirrou a concorrência e viabilizou a queda na taxa de juros”, diz ele, que revela ter outras metas para 2013: “Quero alcançar mais três objetivos no próximo ano. Com certeza, pelo menos uma delas eu vou cumprir. Basta trabalhar com dedicação que os resultados aparecem. Quando a gente faz o que gosta, o sucesso é garantido. Quem não corre atrás do que quer não merece o que deseja”, conclui.
Consultoria financeira
Para atrair mais clientes, principalmente aqueles que ascenderam à classe C nos últimos anos, alguns bancos brasileiros, principalmente os estatais, deram início a uma redução sistemática na taxa de juros. O Banco do Brasil (BB), por exemplo, criou o programa Bompratodos, que reduziu a taxa de juros de algumas linhas de financiamento, além de aumentar a oferta de crédito tanto para micro e pequenas empresas, quanto para pessoas físicas.
O BB oferece ainda um serviço de assessoria financeira, com o propósito de estimular o uso consciente do crédito. “Trata-se de uma nova forma de relacionamento com o cliente, estipulando uma relação de longo prazo, que proporcione crescimento sustentável, baseado em um melhor atendimento, na maior oferta de crédito e na redução da inadimplência”, informa a assessoria de imprensa do Banco do Brasil. Para o sócio-administrador da Mercador Corretora de Seguros, Fernando de Carvalhaes Soares, o acesso ao crédito é bem mais fácil nos dias de hoje pelo avanço tecnológico e pelo investimento constante por parte das instituições financeiras.“Grande parte dos limites já é liberada imediatamente quando da abertura da conta corrente das pessoas físicas. Além disso, há dez anos, as análises de crédito tinham de ser feitas antes da concessão. Essa rapidez, por um lado, gera tranquilidade e comodidade, mas, por outro, leva os clientes a deixarem de fazer melhores negócios com menores taxas pelo fato de o crédito já estar pré-aprovado”, alerta.
A Mercador, segundo informa Carvalhaes, presta serviços na intermediação de negócios que visam à concessão de empréstimos a empresas privadas, a pessoas físicas e também a servidores públicos. De acordo com ele, como o cliente está cada vez mais consciente, sempre em busca de melhores alternativas que o mercado financeiro proporciona em termos de taxas, prazos e modalidades, a consultoria financeira é um fator determinante para auxiliá-lo na tomada de decisão. “A consultoria financeira proporciona, além de segurança, a visão ampla do negócio fechado sem possíveis surpresas no decorrer do contrato”.
O sócio-proprietário explica como é realizada essa consultoria. “Orientamos o instituições financeiras, levando em consideração as mesmas informações (valor da parcela e prazo), para que a comparação tenha fidelidade e a fim de que ele possa escolher sempre o maior valor líquido a ser creditado em conta corrente. Ressalto que muitas instituições informam e divulgam a taxa do menor prazo do convênio quando consultadas verbalmente, induzindo a perda financeira e o menor ganho financeiro, quando o cliente deve exigir a impressão da simulação para a constatação do valor líquido mais vantajoso financeiramente.
Velho crediário é mais barato e garante fidelidade
Muitas lojas do comércio de Betim ainda
oferecem o antigo crediário próprio, apesar de a maioria dos clientes optar por fazer suas compras utilizando o cartão de crédito. Segundo o gerente da Planeta Calçados, Rafael Torres, o crediário oferece juros menores em caso de atraso no pagamento das prestações. “Disponibilizamos essa opção de financiamento em até dez vezes sem juros, dependendo do valor da compra. Muitos clientes não abrem mão do crediário por causa dos juros altos cobrados pelas administradoras de cartão de crédito quando há atraso no pagamento da fatura”, declara. De acordo com o sócio-proprietário da Casa Ady, Jandir Rosa, o carnê é um instrumento de crédito usado por 30% dos clientes da loja, e alguns mantêm a tradição de fazer suas compras dessa maneira há mais de 40 anos. “Cerca de 55% de nossas vendas são feitas por meio do cartão de crédito e os outros 15%, à vista. O crediário próprio tem o poder de consolidar o vínculo entre cliente e empresa. Temos clientes que fazem compras na loja há três gerações e não abrem mão do carnê. Ele funciona como uma espécie de cartão-fidelidade”, explica Jandir.
Desde que se mudou para Betim, em 1964, a servidora pública Berenice Silveira Isaac se tornou cliente da Casa Ady. Em mais de 40 anos como cliente da loja betinense, ela não abdicou do crediário próprio. “Não uso nem cartão de crédito, nem cheque. Gosto do carnê, que acaba nos mantendo vinculados permanentemente com a loja. É uma amizade perpetuada pelo carnê”, opina. A cliente Edith Augusta do Pinho Taveira, carinhosamente conhecida como Naná, também não abre mão de fazer suas compras através do crediário. “Sinto-me em casa na loja, é uma relação familiar, e o carnê reforça essa amizade”, reforça.
Segundo Carvalho, uma grande procura em Betim é a “portabilidade de crédito”, que permite ao cliente trocar seus contratos de empréstimos de taxas mais altas por contratos de taxas mais baixas entre as instituições financeiras (empréstimo consignado, financiamento habitacional e outros), gerando ganho financeiro e redução de saldo devedor. Ele lembra que a “portabilidade de folha de pagamento” é uma excelente alternativa para ganhos e redução de saldo devedor quando é feita diretamente pela empresa no banco via sistema - o cliente pode procurar outro banco com as menores taxas (cheque especial, CDC, cartão de crédito etc.) e pedir o recebimento no banco mais conveniente, reduzindo gastos desnecessários.
Riscos de endividamento
Apesar de o consumidor brasileiro estar, mais do que nunca, exercendo seu direito de concretizar desejos de consumo, o presidente do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon-MG), João Baptista de Santiago Neto, faz um alerta. “De acordo com a pesquisa nacional do consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) de outubro de 2012, 59% das famílias brasileiras estão endividadas”. Segundo ele, quanto mais alta a renda da pessoa, menor a participação de seus compromissos com empréstimos. “Segue também no mesmo sentido o atraso no pagamento desses mesmos compromissos”, diz ele, que sugere uma divisão do salário: “Nosso salário pode ser dividido em três partes. A primeira é composta pelos impostos, que vão para as três esferas de governo (Executivo, Legislativo e Judiciário); a segunda são nossas despesas com consumo, e a terceira é nossa poupança, aquilo que conseguimos guardar”. Para o especialista, “é pena que a renda média dos assalariados seja pequena, fazendo com que a poupança seja pequena em relação ao consumo. As pessoas, tradicionalmente, guardam pouco e gastam a maior parte do salário com o consumo de bens e serviços”.
Conforme ressalta o economista, à medida que nos sentimos mais seguros no emprego, começamos a realizar alguns planos. “São sonhos de consumo de coisas que nos dão conforto, status e praticidade para o bem viver. O desejo de acessar bens mais sofisticados, que não cabem no salário das pessoas em curto prazo, fica ali, martelando a cabeça delas. Esse desejo de melhorar, de consumir e de ter acesso a coisas de melhor tecnologia nos é estimulado pela mídia, pelas conversas com amigos, pela vontade de viver melhor, com mais conforto, e pelo desejo da ascensão social”, afirma Neto.
Ele lembra que, nessa onda de ter acesso a bens materiais, pouco ou nada é discutido sobre as implicações de antecipar esse acesso sem planejar ou sem saber efetivamente seus custos. “Aí é que mora o perigo para o consumidor. Se casarmos esse desejo aguçado com a facilidade de acesso ao crédito, seja por meio do cheque pré-datado, do cartão de crédito ou do crediário, com tanta propaganda e coisas belas e inovadoras nas vitrines, teremos as pessoas rumo ao consumo e às compras de tudo como ato essencialmente natural do mundo moderno, sem a noção do limite”.
O especialista revela que boa parte das empresas que vendem a crédito divulga na mídia as pequenas parcelas, mas não esclarece que, quanto maior o prazo, maior a possibilidade de inadimplência do cidadão e que, portanto, maior o risco de ele não pagar tudo e, consequentemente, maiores serão os juros daquele negócio. “Nós, brasileiros, agora, estamos tendo acesso a taxas de juros menores, mas, mesmo assim, elas continuam sendo uma das mais altas do mundo. O governo federal tem feito a sua parte, mas os encargos ainda representam muito nos financiamentos”. Um exemplo dado por ele é quando se financia um veículo. Somando-se todas as prestações, percebe-se que, em cinco anos, terão sido pagos dois carros. “Melhorou bastante, mas ainda está longe do ideal”, conclui.
Como saber se está na hora certa de comprar o carro zero ou um apartamento?
1) Primeiramente, avalie se está estável no emprego, observe se a empresa e a situação do país estão bem, dando a segurança necessária para assumir compromissos a serem pagos por mais de um ou dois anos; Como saber se está na hora certa de comprar o carro zero ou um apartamento?
2) Classifique suas prioridades pela ordem de necessidade. Verifique impacto na renda x custo (juros) x tempo para pagar. A melhor escolha será a que envolver a maior necessidade, o menor custo e o menor tempo para pagar, isso significando uma baixa participação da prestação em sua renda;
3) Não se devem pegar empréstimos cuja soma ultrapasse 30% do salário, pois, com as despesas fixas do dia a dia, o aperto pode aparecer caso aconteça algum imprevisto em casa;
4) Os cartões de crédito no bolso são um convite aos gastos extraordinários e aos juros estratosféricos. Portanto, eles devem ser deixados em casa e só usados para pagamentos parcelados sem juros ou na data de vencimento;
5) Automóveis, eletrodomésticos e residências devem ser prioritariamente comprados com uma entrada de mais de 40%, pois os juros são mais baixos. Evite financiamentos muito longos. Se não consegue pagar em menos tempo, poupe um pouco e compre depois;
6) No dia em que for levar a família, amigos ou namorada (o) para ver o carro que está comprando, não feche o negócio. Pegue as condições, leve-as a um economista amigo seu, consulte-o sobre os juros embutidos e retorne para fechar o negócio;
7) Para fazer um financiamento, procure várias financeiras e consulte sobre os juros e os encargos que incidem sobre as prestações. Muitas vezes, as instituições aumentam muito o prazo, abaixando a prestação, o que fará você ficar preso àquele empréstimo durante anos;
8) Se o futuro é incerto, procure comprar à vista. Poupe e compre depois;
9) “Não passe o carro na frente dos bois”. “Cada um sabe a perna que tem”. São ditados populares muito sábios. Se deseja realmente uma coisa, prepare-se para conquistá-la. Planeje sua compra e dê a mesma atenção ao empréstimo que fez para decidir o modelo, a cor e os detalhes do produto que comprou.
Maior fatia
Além do Banco do Brasil e das instituições privadas, a Caixa Econômica Federal (CEF) também promoveu cortes acentuados em sua taxa de juros desde abril deste ano, que culminou com a ampliação de sua participação no mercado. Através do programa Caixa Melhor Crédito, a estatal aumentou o volume de recursos disponíveis.
Com o programa, de março a agosto deste ano, a carteira de crédito da CEF subiu de R$ 268,8 bilhões para R$ 316,0 bilhões, um crescimento de 17,5%. A participação no mercado de crédito foi de 13,0% para 14,3%, sem interferência negativa na inadimplência, que tem se mantido estável nos últimos 12 meses.
Segundo o vice-presidente, Márcio Percival, “esses resultados demonstram a responsabilidade da empresa na concessão do crédito, uma vez que não houve qualquer flexibilização nas avaliações de risco dos clientes”.
Desde o mês de abril, a CEF promoveu reduções de até 88% em suas taxas de juros. O volume de recursos colocados no mercado em crédito após a implantação do programa foi de R$ 103,7 bilhões, 35,2% superior ao volume colocado em igual período de 2011. Em todo o ano de 2012, a Caixa tem como meta contratar mais de R$ 185 bilhões em crédito comercial para pessoas físicas e jurídicas.
Dicas para o consumidor
Economês
Taxa de juros – Representa o custo de utilização do dinheiro. É, portanto, o preço pago por alguém pela quantia que lhe foi cedida por outra pessoa.
Empréstimo bancário – É um contrato entre o cliente e a instituição financeira pelo qual se recebe um valor, que deverá ser devolvido em prazo determinado, acrescido dos juros acertados. Os recursos obtidos no empréstimo não têm destinação específica.
Financiamento – É também um contrato entre o cliente e a instituição financeira, mas com destinação específica, como, por exemplo, para a aquisição de um veículo ou de um bem imóvel;
Taxa linear – É utilizada somente uma taxa efetiva, independentemente do prazo escolhido pelo cliente;
Simulado – Cálculo impresso a ser fornecido pelas instituições financeiras para ser analisado pela taxa efetiva, que é relativa ao valor líquido a ser creditado em conta corrente, ou pelo Custo Efetivo Total (CET);
CET – É composto pela taxa efetiva – a.m + IOF – e aplicado ao contrato para gerar o valor bruto ou financiado.