Da estrada para a mesa de negociação: uma trajetória de sucesso
Entrevista: Carlos Roesel
Amante dos caminhões, ele seguiu o caminho de seu pai, dando início a uma história política sindical que já completa 16 anos. Hoje, Carlos Roesel, 39, é o presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais. Estreando o nosso Conversa Refinada, ele conta como conseguiu conquistar a confiança de 100% dos filiados e revela alguns projetos para o futuro.
Revista Mais - Conte um pouco de sua história. Carlos Roesel - Nasci em 29 de maio de 1973, em Curitiba. Sou filho de um professor e de uma médica veterinária. Vim para Betim no ano de 1986. Nessa época, meu pai já era cegonheiro. Recordo-me que, nessa data, o movimento sindical dos cegonheiros estava iniciando, por meio de uma associação, a qual meu pai presidiu por anos. Ele me emancipou aos 18 anos, abriu uma firma para mim e me passou um de seus caminhões. Em um ano, devido à minha imaturidade, quase pus tudo a perder. Como resultado, ele pegou de volta, e eu tive que me virar. Fui para São Paulo, onde comprei meu primeiro caminhão e, dois anos depois, já estava de volta a Betim, à frente dos negócios da família. Iniciei minha trajetória po- lítica sindical há 16 anos e hoje sou presidente do Sindicato dos Cegonheiros.
Como surgiu a paixão pelos caminhões?
Embora meu pai tenha sido professor, ele acabou indo para o ramo de transportes influenciado pelos irmãos da minha mãe, que, na época, já estavam no ramo. Em 1979, tinha vários caminhões próprios e uns 40 agregados. Eu sempre estive no meio dos caminhões e, aos 16 anos, tinha certeza do que eu queria ser: caminhoneiro.
Relate para os leitores a emoção sentida quando foi divulgado que você foi eleito o novo presidente do Sindicato dos Cegonheiros.
Na verdade, participei da contagem de cada voto, e, a cada voto, a emoção era mais forte. Mas estar de volta ao Sindicato dos Cegonheiros, para mim, é motivo de muito orgulho. Sinto-me em casa. São 16 anos nesse meio, e busquei o respeito de cada um dos nossos associados através de um trabalho claro e profissional.
Foi difícil conquistar os filiados, já que a diretoria anterior atuava no sindicato há várias gerações?
Os cegonheiros são uma categoria que está acostumada a respostas rápidas às suas de- mandas, e eu trabalho à frente do problema. Ou seja, normalmente quando o problema chega a mim, eu já tenho conhecimento dele, e, se não tenho uma solução, pelo menos sei do que se trata. Dessa forma e com o apoio de minha diretoria atual e também da anterior, estamos fazendo um bom trabalho e temos o reconhecimento de todos os cegonheiros.
Você acredita que sua equipe deu cara nova ao sindicato?
Sem dúvida, a forma que escolhi para gerir o sindicato é completamente inovadora no nosso sindicato. Durante décadas, esbarrávamos na ingerência, ou seja, éramos um grupo de caminhoneiros, e, tirando meu pai, os demais tinham pouco ou nenhum estudo, e isso dificultava muito a administração do sindicato. Hoje, tenho em minha diretoria, em cargos técnicos, cegonheiros que tiveram a oportunidade de se sentar em cadeiras de universidade e se formar. Por outro lado, tenho diretores que sabem tudo de operação, pois possuem longa experiência nas estradas. Unindo isso tudo, mudamos, sim, a cara do sindicato.
A que fator você atribui sua vitória?
Tivemos dois adversários nessa eleição. Um foi a chapa adversária, o outro foi a desconfiança em relação a esse novo modelo que propus. Porém, arrancamos de uma eleição perdida e chegamos à vitória devido ao fato de que a experiência falou mais alto para nossos eleitores.
Qual mensagem você deixa aqui para seus eleitores.
Gostaria de dizer não só aos que votaram em nossa chapa, mas a todos os leitores que sou muito feliz com o que faço. Dedico-me ao máximo, trabalho com pessoas maravilhosas e para pessoas maravilhosas. E, quando se faz algo com paixão, não tem como não fazer o melhor. Acredito no potencial transformador que cada pessoa tem. O meu dedico diariamente a essa categoria a que pertenço.
A que você atribui tanto carisma, já que, atualmente, é apoiado por 100% dos fi- liados do Sindicato dos Cegonheiros?
Realmente, nas assembleias, temos o apoio incondicional da categoria, que entende essa forma de trabalho. Com transparência, de portas abertas, em que todas as decisões são tomadas por todos, desde um carro que se vai comprar ao valor do reajuste do frete, tudo quem decide é a categoria. Não acredito na política do “tapinha nas costas”. Acredito no trabalho pautado na honestidade e na transparência.
Como você avalia a força do Sindicato dos Cegonheiros no estado?
Posso dizer com segurança que somos modelo de gestão sindical na área do trans- porte. Conseguimos, anos atrás, o que outras entidades lutam para conseguir até os dias de hoje. Temos abertura política em todos os segmentos e o respeito das autoridades. Tudo isso não seria possível se a entidade não fosse vista de uma maneira positiva. Fizemos também um grande trabalho de aproximação das autoridades e de nossa diretoria e do sindicato como um todo. Hoje, contamos com um senador e vários deputados federais e estaduais, também prefeitos e vereadores apoiando e defendendo nossos interesses.
Durante esses dois anos e meio de mandato, em sua opinião, qual foi o grande feito? E qual o maior desafio dos próximos anos?
Foram muitas conquistas nesses dois anos e meio. Porém, o que acho fundamental e que abrange todos foram os três reajustes de frete. O grande desafio para os próximos anos é a operação da nova fábrica da Fiat, em Pernambuco, que inicia suas atividades em 2014.
e os projetos para o futuro?
A melhoria é contínua. Seguiremos nesta linha de sempre levar a nossos associados o melhor. Eles são a razão de nosso trabalho. Queremos um setor totalmente organizado, cada vez mais competitivo. Apostamos, cada vez mais, na profissionalização. Que possamos compartilhar dessa organização na construção de um trânsito mais seguro.
Ainda há muito a ser feito?
O mundo moderno muda muito rápido, e temos que acompanhar as tendências. Portanto, precisamos avançar, ser flexíveis, competitivos e não esquecer o que já conquistamos, pois, sem a devida manutenção, tudo se deteriora ou cai no esquecimento.
Você se considera um líder nato?
Dizer que sou um líder nato é esquecer toda a minha trajetória, na qual galguei cada degrau até chegar ao topo. Participei de co- missões, de cargos intermediários por mais de dez anos até de fato assumir a presidência. Fui preparado para estar onde estou.
Qual o segredo para o sucesso?
Primeiro, todos os dias, temos que definir o que é sucesso para mim. Sucesso é humildade, perseverança, paz, saúde, família, pessoas boas à nossa volta e Deus. Com essa receita, não existe segredo. Temos que lembrar todos os dias que "o orgulho precede a queda". Dessa forma, o sucesso é termos boas ações, ajudarmos o próximo e sermos humildes.
Você tem interesse em seguir carreira política?
Carlos Roesel luta por um setor cada vez mais organizado e competitivo no Estado
Em 2000, fui convidado, mas achei que não estava maduro o suficiente para a empreitada. Neste ano, fui chamado para concorrer a deputado estadual nas próximas eleições. Acredito que hoje tenho condições, sim, de representar os transportadores. Porém, tenho muito trabalho ainda à frente do Sindicato dos Cegonheiros. Por isso, recusei. Quem sabe no futuro possa ver com outros olhos.
Deixe uma mensagem aos leitores da revista Mais.
Primeiramente, agradeço ao povo de Betim, que tão bem acolheu a mim e à minha família. Quero dizer que todos viram como nós, cegonheiros, unidos, transformamos nossa realidade. Saímos quase da marginalidade para compor a classe média alta desta cidade. Com seriedade e bons líderes, podemos mudar nossa realidade. Exerçam o seu direito de cidadão que vive em um Estado democrático de direito. Seja ativo na sua comunidade, na sua igreja, na sua associação de moradores, no seu condomínio ou na associação de pais. Quero deixar o recado de que, quando nos dedicamos a uma causa coletiva, com seriedade, estamos transformando o nosso mundo e dos nossos filhos em um lugar melhor.