De repente, a Itália
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Criado em 24 de Julho de 2012
Pé na Trilha
Desde pequena, Telma Bettega alimentava o sonho de viajar para fora do país. Anos depois, embarcou, durante três meses, nessa aventura. O destino era Londres, mas as circunstâncias a levaram à Itália, o país das massas.
Desde os meus 13 anos de idade, alimentei o sonho de morar fora do Brasil. Um dia, relatei meu desejo à minha então chefe, que, imediatamente, incentivou-me a realizá-lo.
Parece ironia, mas a primeira ajuda que ela me deu foi minha dispensa do trabalho, com o pagamento de todos os direitos trabalhistas. Pronto, já tinha o dinheiro para comprar as passagens.
Com receio da reação da família, decidi contar a eles quando faltavam apenas dez dias para o embarque. Minha mãe, julgando-me louca, também quase enlouqueceu. Apoio maior veio de minha avó, que me contou ter realizado a mesma loucura quando jovem, partindo de Portugal, sua terra natal, para a França.
Meu destino era Londres, capital inglesa, de onde eu pretendia conhecer toda a Europa, além de aprender inglês. Outros dois amigos viajaram comigo. Deveríamos ficar na casa da Andreia, irmã de um deles.
A viagem, apesar do meu pavor de avião, foi tranquila. Chegando a Londres, mais precisamente ao aeroporto de Hearthrow, onde enfrentei meu primeiro problema. Ao ser interrogada pela imigração, eu não podia informar o local onde ficaria, uma vez que a Andréia residia de forma irregular na Inglaterra. Diante de minha negativa em responder, os ingleses não permitiram minha entrada no país e me deportaram de volta ao Brasil. Porém, o voo de volta, assim como o de ida, faria uma escala em Milão, na Itália, onde, seguindo orientações da Andréia, deveríamos ficar para, em outra oportunidade, tentarmos entrar na terra da rainha.
Segui o conselho, e, mesmo sem visto, a imigração italiana permitiu que eu entrasse no país da bota. Porém, sem a mínima ideia de para onde ir, passei a primeira noite no aeroporto, e a primeira semana, em um hotel. Durante essa semana, fiquei totalmente perdida, não saí para lugar algum, a não ser para a praça em frente ao hotel. Até que, num dia, conheci uma professora universitária brasileira, que me convenceu de que eu deveria aproveitar a oportunidade e conhecer o maravilhoso país que é a Itália.
Iniciei minha aventura pela própria Milão, capital mundial da moda. O Duomo, principal igreja da cidade, é o terceiro maior templo católico do mundo. A igreja é tão bela que cheguei a me imaginar casando ali, logo eu, que jamais pensei em colocar um vestido de noiva. Achei Milão muito parecida com São Paulo, a não ser pelo Duomo, pela galeria Vittorio Emanuele e pela beleza dos homens. De Milão parti para Verona. Ali fiz amigos e me apaixonei pela Itália. Cheguei a pensar que jamais voltaria ao Brasil. Nunca havia ouvido falar em Verona, muito menos que lá fora cenário do clássico “Romeu e Julieta”. Não sei se esse é o motivo de a cidade transbordar romantismo. Conheci um casal de brasileiros que, vendo minhas dificuldades em arranjar emprego, acabou me adotando como “filha”. Depois de muito tentar, consegui um trabalho de cuidadora de uma senhora de 90 anos, a dona Amélia. Mas, em vez de eu cuidar dela, a filha, senhora Marisa, por quem fui contratada, simpatizou-se comigo e ficava me ensinando a falar italiano durante meu horário de trabalho, e ainda me pagava por isso.
Destaco em Verona a casa de Julieta como a atração principal da cidade. Logo ao se passar pelo portão, vê-se uma estátua da Julieta, com os seios à mostra. Reza a lenda que passar a mão no seio direito dela traz sorte no amor. Nesse lugar, merece destaque também a Arena, um anfiteatro romano famoso por sua acústica e onde são realizados vários shows. De Verona parti em direção a Veneza. É uma cidade incrivelmente interessante. Toda formada por ilhas, e, no lugar de carros, as pessoas têm barcos parados em suas portas.
Com uma amiga mexicana, fui parar em Florença, a cidade da arte. Lá você esbarra em expressões artísticas a cada esquina. Amei estar ali! Sinto saudades! O monumento-símbolo de Florença é a famosa ponte Vecchio, construída em 1345.
Tem ainda o palácio Pitti, que é o maior palácio fiorentino, com 205 metros de extensão. Dentro dele, encontram-se muitas obras de arte e um jardim paradisíaco, lindo, fantástico, que mais parece uma pintura.
Deixando Florença, fui para Pisa, da famosa torre inclinada. Fiquei muito decepcionada com essa torre, construída em 1173. Sinceramente, achei que ela era enorme.
Fui ainda a Pádova, uma antiga cidade universitária com ilustre história acadêmica. Rica em arte e arquitetura, possui a basílica de Santo Antônio, onde estão guardados os restos mortais do santo. Lembra-se da língua do Santo Antônio que foi trazida para o Brasil anos atrás? Pois é, tiraram dali para fazer a viagem.
Estava já para retornar ao Brasil e ainda não havia conseguido trabalho. Mas, antes disso, queria conhecer ao menos uma montanha, uma estação de esqui. Então, peguei um trem para Bolzano. A paisagem de lá é fenomenal, indescritível. Só fazendo essa viagem e vendo com os próprios olhos, pois é uma coisa espetacular. Que inveja eu tenho dos italianos por morarem em um país tão lindo e maravilhoso.
No meu último dia na Itália, ainda fui conhecer o lago de Como que é o maior da Itália, banhando as regiões de Toscana, Lombardia e Veneto.
Enfim, minha viagem para Londres tomou outro caminho. Meu destino, que eu esperava ser a terra da rainha, acabou sendo a terra do papa. Conheci incontáveis igrejas. Tomei sorvetes de tantos sabores que nem sei dizer quais foram. Acostumei-me com a massa, com o delicioso leite italiano, que eu tomava puro. Sinto saudades do cheiro da Itália e de tudo que faz parte dela.
A lição que guardo dessa aventura é que devemos estar abertos às situações imprevisíveis que ocorrem em nosso caminho. Mesmo de momentos que nos parecem desfavoráveis, podemos tirar algum proveito. Em vez de voltar para o Brasil, eu simples -mente quis fazer uma história na Itália. Não tinha o que perder. O que vivi e aprendi nos três meses de viagem guardarei por toda minha vida.