Diga não ao namoro-chiclete

NAMORO-CHICLETE

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Criado em 15 de Maio de 2014 Relacionamento
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Quem disse que ficar grudado é prova de amor? Conheça casais que respeitam a individualidade do parceiro numa boa
 
Luna Normand
JÁ VIROU ROTINA: todos os fins de semana, o representante comercial Bruno Silva, 28, tira a manhã do sábado ou do domingo para pedalar com os amigos. A atividade, que ele começou a praticar há cerca de dois anos, é um de seus maiores prazeres atualmente. Além de se exercitar, é o momento em que ele encontra os amigos e fala sobre “assuntos masculinos”. Enquanto isso, a sua namorada, a farmacêutica Fabiana Lima, 27, aproveita esse tempo para cuidar de si, indo ao salão, fazendo compras, estudando, encontrando as amigas e praticando alguma atividade física. Tudo isso, garantem eles, numa boa.
 
Juntos há quase cinco anos, Fabiana e Bruno são exemplos de casais que aprenderam muito bem a conviver e a respeitar a individualidade do parceiro, permitindo, sem neuras ou crises, que cada um tome suas decisões e mantenha a sua privacidade. Uma das características dos relacionamentos, “ser presente demais”, pode, ao contrário do que muitos pensam, comprometer a convivência a dois.
 
Ligar para dar bom dia, boa tarde ou boa noite, mandar SMS a cada hora, ou “colar que nem chiclete” pode até ser bom no início da paixão, mas, segundo especialistas, com o tempo, a falta de liberdade sufoca e desgasta a relação. Por isso mesmo, ter o seu espaço, saber dosar os sentimentos e as atitudes, segundo eles, é o primeiro passo para a conquista de uma relação madura e saudável.
 
 
A boa convivência de Fabiana e Bruno é resultado do diálogo aberto que o casal mantém e da maturidade conquistada ao longo do tempo juntos. Hoje, eles lidam com bom humor com situações em que é preciso deixar o parceiro seguir o seu caminho. “No início do namoro, a quarta-feira era o dia da ‘pelada’ dele. Era sagrada e me incomodava um pouco. Mas quando vi que não teria jeito, que era o momento de ele encontrar os amigos e não era um ambiente para mulher, comecei a fazer as minhas coisas. Aprendi a gostar de ter um tempo só meu para fazer minhas coisas, como encontrar as amigas”, conta a farmacêutica. Em um desses encontros, ela lembra que pegou um congestionamento na BR-040 e, com o celular sem bateria, ficou sem comunicação com o namorado. “Ele ficou desesperado”, recorda, aos risos.
 
Em março, ela também passou férias na Europa só com os amigos e, pela primeira vez, o namorado ficou. “Foi tudo conversado e planejado entre nós. Ela me chamou para ir, mas não era o meu momento e, sim, o dela. Confesso que fiquei meio sem lugar no início, mas sempre na torcida e compartilhando esse momento feliz da vida dela”, garante o representante comercial.
 
Especialista em psicoterapia de casais, a psicóloga Cleuza Prata afirma que a felicidade de cada um não se encontra no outro. “Ninguém é de ninguém. Nós devemos ter a nossa própria vida e, para que ela tenha qualidade, deve ser independente da do parceiro. O outro deve ser uma somatória, e não uma dependência. Quando se está em um relacionamento porque ambos sentem desejo, sem aquela obsessão, constrói-se um convívio gostoso, com harmonia e respeito”, afirma.
 
E é justamente essa a palavra que define o namoro de Fabiana e Bruno: respeito. O fato de cada um ter os seus momentos sozinhos não incomoda o casal. “Eu não posso proibi-la de fazer nada. O respeito, acima de tudo, é sempre muito importante em um relacionamento. Temos de saber qual é o espaço do outro. Não adianta eu sufocá-la, impondo o que deve ou não ser feito. Ela tem as coisas dela e eu, as minhas. É fazer as coisas respeitando o próximo”, garante ele.
 
CONFIANÇA
A auxiliar de gabinete Thais Weirich, 24, ainda não fez planos para o próximo Dia dos Namorados, mas espera que ele seja diferente do anterior. Namorando há quatro anos o piloto de avião Gustavo Almeida, 26, no ano passado, eles passaram a data separados. Ela em casa e ele no Rio de Janeiro. A situação, que poderia ter sido motivo de crise entre o casal, no entanto, foi tirada de letra por eles.
 
“Já tínhamos reservado restaurante e comprado presentes um para o outro, mas na véspera do dia 12 o Gustavo teve de fazer um voo de emergência para o Rio. O plano inicial era retornar no dia seguinte, mas ele me ligou de lá dizendo que não conseguiria voltar. Fiquei um pouco triste, mas sem me desesperar, chorar ou ter neuras, como ciúme doentio. Não era o fim do mundo e sabia que podíamos comemorar da mesma forma quando ele chegasse”, conta Thais.
 
Situações do tipo são comuns no relacionamento do casal. Piloto há dois anos, frequentemente Gustavo precisa abrir mão de ver a namorada para voar. “É difícil ter de deixá-la, porque, na maioria das vezes, é inesperado, mas conseguimos lidar bem com isso. É até bom, porque dá mais saudade e o namoro não cai na rotina”, garante.
 
 
E Thais é uma das maiores incentivadoras do amado. “Fico feliz por ele ter a oportunidade de fazer o que gosta, mas, se eu fosse aquelas mulheres loucas, iria ficar pensando onde ele poderia realmente estar, iria querer ligar no hotel sempre. Se é para fazer alguma coisa errada, acho que acontece em qualquer lugar”, afirma.
 
A psicóloga Cleuza Prata revela que um dos segredos desses tipos de relacionamentos é a confiança no parceiro. “São casais com amor maduro. ‘Eu sei que ele vai, mas voltará, e que está exercendo suas atividades com respeito e sabendo que tem alguém esperando por ele’. Geralmente, quando há insegurança, ela gera a desconfiança e também o desconforto. ‘Por que eu estou só? Por que eu não tenho essa pessoa comigo?’”, indaga, acrescentando que pessoas inseguras podem ter até sintomas físicos, como náuseas e perda do sono ou de apetite. “Elas precisam que o outro esteja próximo para ficar bem. Quando isso ocorre, é necessário buscar ajuda”, afirma.
 
Avessa a cobranças e a sentimentos ruins, Thais aprendeu a aproveitar muito os letraperíodos sem o namorado. “É quando faço as coisas de que gosto. Saio com minhas amigas, vou ao shopping, estudo. Além de namorados, somos muitos amigos, e acho isso muito importante”, revela.
 
Fotos: Muller Miranda
 
A NECESSIDADE DE EQUILÍBRIO
Casais que abrem mão da liberdade acabam confundindo amor com posse, e o outro passa a ser um “bem” que lhes pertence, gerando o desequilíbrio da relação. “Ninguém tem de ser a nossa metade. Nós temos de ser inteiros”, afirma a psicóloga Cleuza Prata, especialista em psicoterapia de casais. Para ela, nesse tipo de relação, a pessoa abdica de si, o que é um erro. “Nós não temos de apostar em ninguém ou nos isolar em função de outra pessoa”, afirma.
 
Por isso mesmo, qualquer tipo de relacionamento deve sempre ser considerado uma via de mão dupla. “As pessoas têm de somar, trocando afeto de forma consciente e madura. Ninguém aguenta só dar ou receber”, garante Cleuza, acrescentando que quando juntos o tempo todo, não há novidade e o relacionamento tende a se tornar monótono e entediante.
 
Nesse sentido, a individualidade e a solidão, até certo ponto, seriam benéficas. “Precisamos aprender a gostar da nossa própria companhia. A solidão nos ajuda a sermos pessoas produtivas. Claro que a convivência com o outro é muito importante, mas, primeiramente, nós temos de gostar de nós mesmos”, finaliza.

 




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