É hora de falar sobre sexo

SEXUALIDADE INFANTIL

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Criado em 11 de Junho de 2014 Saúde e Vida

Foto: Muller Miranda

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A orientação adequada deve começar com a primeira pergunta, ainda na infância; eliminar tabus e manter o diálogo claro e aberto ajudam os pais a não parecerem caretas ou repressivos
 
Luna Normand
 
“MÃE, COMO MEU IRMÃOZINHO foi parar na sua barriga?” A pergunta direta e objetiva foi feita por Lucas Bravim, 4, à mãe, a fisioterapeuta Júlia Bravim, 35. O pequeno Lucas espera, ansioso, a chegada do irmão, Gabriel, previsto para nascer em setembro. E assim como outras crianças da sua idade, ele já começa a ter sua curiosidade despertada para assuntos que envolvem o parto, o nascimento e a diferença entre os sexos.
 
A sexualidade do ser humano está presente em qualquer forma de manifestação da nossa afetividade e se desenvolve desde o nascimento. Por isso mesmo, a sua descoberta faz parte do crescimento saudável da criança. Porém, para muitos pais, identificar e lidar com esses momentos são um dos principais dilemas vividos na sociedade atual, que oferece uma grande demanda de estímulos para gerar curiosidade sobre sexo. É preciso se desdobrar para dar conta de responder adequadamente a todas as perguntas da criançada.
 
Júlia e o marido, o também fisioterapeuta Sérgio Rezende Magalhães, 36, começaram a lidar com os questionamentos do filho há pouco tempo. “Ele já perguntou por que menina faz xixi sentada e ele, em pé. Questionou também como o irmãozinho foi parar na minha barriga. Eu disse que foi uma sementinha que brotou e que é igual planta: vai crescendo devagar e, quando fica grande, não cabe mais, por isso, nasce”, conta a mãe.
 
De acordo com a sexóloga e educadora sexual Cida Lopes, que atua há 15 anos com crianças e adolescentes, agir com naturalidade e usar palavras adequadas para a idade é fundamental no diálogo com as crianças. Para ela, os pais devem responder aos questionamentos dos filhos da forma mais clara, simples e sucinta possível. “Não é preciso elaborar uma explicação científica. Uma ideia é usar como exemplo a relação sexual de outras espécies. Se a família tem um animal de estimação, use esse exemplo e diga que eles tiveram de namorar para ter seus filhotes. Ou ainda que ‘o papai namora a mamãe, e, por isso, nascem os filhos’. Assim, a criança aprenderá que o sexo faz parte da vida como algo natural”, explica.
 
A HORA CERTA
Dúvida recorrente entre os pais, o momento certo de falar sobre sexo com os filhos não existe, segundo especialistas. O ideal é conversar sobre o assunto à medida que surgir a curiosidade e de acordo com a idade. Situações como hora do banho, por exemplo, podem ser boas para iniciar um diálogo sobre as partes do corpo. Já uma gravidez ou o nascimento de um bebê dão a oportunidade de falar sobre como ocorre o nascimento de uma criança. “Aos 2 ou 3 anos, a criança percebe a diferença entre os sexos e o seu interesse estará voltado para essas diferenças. Também nessa faixa etária, ela desperta curiosidade sobre o parto e o nascimento”, revela a sexóloga.
 
Já aos 6 anos, a especialista explica que a criança se interessa mais pela função do par e consegue diferenciar uma relação afetiva de uma relação amorosa. E aí começam as perguntas sobre namoro, por exemplo. “Conforme pesquisas feitas sobre o assunto, uma criança de aproximadamente 9 anos tem capacidade de ter suas curiosidades sexuais esclarecidas (sobre qualquer tema)”, afirma.
 
Lucas, por exemplo, apesar dos 4 anos, já entendeu que é preciso namorar/casar para ter filhos. “Meus pais (avós de Lucas) fizeram aniversário de casamento recentemente e ele perguntou se, então, eles teriam um filho. Já relacionou uma coisa à outra”, conta Sérgio Magalhães. “Ele também falou comigo há alguns dias que namora a Isabella, colega de sala dele, e que quer casar e ter filhos com ela. Eu fiquei de boca aberta, mas vemos que é uma coisa muito natural e superficial”, destaca Júlia.
 
INFLUÊNCIA
O fácil acesso a mídias como televisão e internet colabora, e muito, com a precocidade do despertar das crianças para a sua sexualidade. Por isso mesmo, hoje é comum as perguntas serem muito mais diretas e virem cada vez mais cedo. “Elas têm muito mais acesso às mídias, com isso, acabam participando de uma roda de piadas entre adultos, brincadeiras, entre outras situações, o que gera mais curiosidade sobre sexualidade”, afirma Cida.
 
A assessora de imprensa Waleska Chaban, 39, procura controlar o que o filho assiste, limitando o seu acesso à televisão e à internet. “É tudo muito fácil e sem restrição. A naturalidade com que cenas de sexo são transmitidas chega a constranger. À noite, meu horário de assistir à televisão com ele é até as 23h. Nessa hora, eu o coloco para dormir. Sobre internet, o interesse dele, por enquanto, é apenas por sites de jogos, principalmente, os que ele aprende a navegar nas aulas de informática na escola”, conta.
 
Mãe de Pedro Martinelli Chaban, 8, ela diz que não é tão aberta para falar sobre sexo com o filho, sobretudo, por ter sido criada com muita rigidez. “Mas tento ser o mais natural e esclarecedora que posso. Ele já apresenta alguma curiosidade, mas ainda é física. No início deste ano, ele estava com mania de ficar sem blusa e, quando ele me pedia, eu percebia que era com um olhar diferente, não só pelo calor. Um dia, ele pediu para tirar a blusa e, logo depois, a prima dele, de 4 anos, também pediu. Dei um tempo e fui ver o que eles estavam fazendo. Quando cheguei, eles estavam brincando em cima da cama, abraçados. Falei para eles brincarem na sala e coloquei blusa nos dois”, conta ela.
 
A sexóloga Cida Lopes diz que Waleska agiu certo. “Quando o pai vê um filho manipulando seu órgão sexual ou em situações relacionadas, indico que não repreenda nem elogie. É algo natural, mas é preciso orientar o filho para que ele faça dentro da sua privacidade. É preciso preparar a criança para a convivência em sociedade e explicar que isso não pode ser feito na frente das pessoas”, afirma.
 
Para ela, a grande dificuldade está, geralmente, nos adultos, que se embolam ao responder e lidar com situações simples. “Se a criança toca no assunto em casa, é porque existe curiosidade. Nesse caso, o indicado é ouvir, tirar as dúvidas e orientá-la de forma clara. Se os pais, que são, normalmente, as primeiras pessoas que os filhos buscam como referência, não criarem um ambiente de confiança, eles vão procurar outras fontes de informação, por exemplo, os amiguinhos, a internet, os tios e, talvez, até pessoas estranhas”, garante.
 
FONTE DE INFORMAÇÃO
Buscar fontes alternativas de informação ajuda a ampliar o conceito sobre sexualidade e construir uma visão positiva sobre ela. “Dificilmente uma pessoa que vê o sexo como algo sujo e proibido consegue falar sobre o assunto de forma natural com seu filho. Por isso mesmo, buscar livros, orientação de um profissional ou conversar com pessoas para conhecer outros pontos de vista também podem ajudar”, afirma a sexóloga Cida Lopes.
 
É na leitura que a fisioterapeuta Júlia Bravim busca respostas para as perguntas do primogênito. “Tem uma autora que gosto muito: Tania Zagury. Ela tem uns livros muito bons sobre sexualidade infantil. As revistas direcionadas, como a ‘Crescer’, também têm reportagens muito bacanas. Estou sempre lendo e me informando para me preparar não só para isso, mas também para outras questões que surgirão ao longo do crescimento dele”, diz.
 
Já Waleska afirma que não descarta nenhuma fonte de informação, mas, por enquanto, apenas a experiência de vida dela tem ajudado nas questões que são levantadas pelo filho. “À medida que as dúvidas vão surgindo, nós explicamos e conversamos. Assim, o assunto fica mais natural e mais fácil de ser conversado”, acredita.
 



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