Em nome da Ordem

Entrevista - GILBERTO MARQUES

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Criado em 15 de Julho de 2014 Conversa Refinada
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Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Betim pelo segundo mandato consecutivo, Gilberto Marques de Sá, 55, escolheu o município para construir sua vida. Natural de Corinto, em Minas Gerais, o advogado dispensa até uma partida de futebol para estar sempre pronto para atender a sua profissão e contribuir para uma sociedade mais justa

Da Redação

REVISTA MAIS – O senhor nasceu onde?

Gilberto de Sá – Nasci em Corinto, Minas Gerais, mas, bem novinho, fui para a ca­pital mineira. Meu pai era metalúrgico e minha mãe, professora. Eles decidiram mudar-se para Belo Horizonte em busca de melhor qualidade de vida.

É filho único?

Sou o primeiro de dez filhos. Desses, quatro já faleceram.

E como foi sua juventude?

Tranquila. Eu morei com meus pais até a adolescência, depois, fui morar com uma tia, na área central de Belo Horizon­te, para facilitar os estudos. Aos 15, já comecei a trabalhar. Fui office boy na em­presa em que meu pai trabalhava. Ainda jovem e morando na capital, atuei como almoxarife aqui em Betim.

Logo depois disso, iniciou os estudos em direito?

Não. Há muita trajetória antes disto. Fui fotomecânico no jornal Diário do Co­mércio. Antes de reproduzir a foto para o jornal, preparávamos as imagens. Depois, em 1986, prestei concurso no Estado para a Policial Civil. Brumadinho foi minha pri­meira cidade em que atuei. Logo depois que cheguei a esse município, fui chefe de trânsito.

Há algo dessa época que o marcou mais?

Gosto de me lembrar que, enquanto chefe de trânsito, eu tinha uma coluna po­licial em um jornal da cidade. Pensei em um modo de tornar as informações veicu­ladas nele mais úteis para a população e tive a ideia de publicar as multas de infra­tores do município. Depois de um tempo, esse mecanismo de divulgação de multas passou a ser obrigatório pelo Estado.

E quando surgiu o interesse pelo direito?

Por influência da minha tia, com a qual fui morar na adolescência. Ela fazia direito em Divinópolis. Foi um grande exemplo para mim, porque se tornou procuradora da República. Além disso, como passei no concurso da Polícia Ci­vil, isso despertou ainda mais o meu in­teresse pela graduação. Em 1988, iniciei os estudos em Itaúna.

Como conseguiu conciliar o estudo e o trabalho em cidades diferentes?

Essa época foi muito difícil. Mas é preciso determinação. Eu morava em Belo Horizonte e ia bem cedo para Bru­madinho trabalhar. Lá não havia trans­porte para a Universidade de Itaúna, então, vinha para Betim para conseguir ir estudar. Depois, voltava para Belo Horizonte. E foi essa correria até eu me formar, em 1993.

Após se formar, o senhor começou a exercer sua profissão em Belo Hori­zonte?

Não, iniciei advocacia aqui mesmo, em Betim. Eu esperei sair minha carteira da OAB e, para isso, tive de pedir a exoneração do Estado. Naquela época, isso de­morava muito. Em maio de 1996, iniciei a minha carreira profissional aqui neste mesmo prédio, na avenida Rio de Janeiro, onde tenho o meu escritório até hoje. Eu ainda morava em Belo Horizonte nessa época. Na verdade, vivi lá até 2006. Ia e voltava todos os dias para trabalhar. De­pois, resolvi vir para Betim em busca de qualidade de vida.

Nesses anos, há algum caso criminal especial pelo qual o senhor tenha se responsabilizado?

Uma vez fui nomeado para um caso que saiu no programa Fantástico, da Rede Globo, de uma menina foi morta onde, hoje, funciona a empresa Teksid. Esse caso ficou um ano na mídia e havia delegados brigando por ele. Eu tinha in­formações e minha experiência na Polícia Civil também ajudou. Com isso, o pessoal da Homicídios, em Belo Horizonte, descobriu que o noivo da garota é que havia cometido o assassinato, e não as pessoas que estavam sendo quase condenadas. A emissora Globo de Minas Gerais fez uma matéria sobre o caso, que acabou desper­tando o interesse do Fantástico. Isso foi muito bom para minha profissão. O advo­gado vive de seu nome.

Qual a sua história com a Ordem dos Ad­vogados do Brasil (OAB)?

Entrei na Ordem há 15 anos. Fui dire­tor de direitos humanos, secretário geral­-adjunto, até ser presidente, hoje, já no segundo mandato consecutivo. No ano que vem, teremos outra eleição e devo continuar na Ordem, mas atuando de ou­tra forma.

Nesses dois anos de mandato, o que acredita ter sido sua maior contribuição para a OAB?

Estreitar a relação entre a Ordem e po­pulação foi a minha maior contribuição, com certeza. Além de defender seus ins­critos (advogado), temos o direito de de­fender a Constituição Federal, e isso im­plica o dever de defender a população em geral. Então, hoje, temos várias comissões que participam de discussões, como a se­gurança pública do município, o combate às drogas, entre outras coisas. 

O senhor se casou?

Fui casado durante sete anos e me se­parei. Tenho uma filha de 17 anos, que mora comigo. Eu me casei novamente, com a Luciene (Cristina Teixeira), minha sócia no escritório.

E como é trabalhar com sua mulher?

É muito tranquilo, sabemos separar as relações. Aqui dentro somos sócios, de­pois que saímos é que podemos namorar um pouco (risos).

Nas horas vagas, o que gosta de fazer?

É difícil ter horas vagas, mas gosto de ficar em casa com a minha família.

Pratica algum esporte?

Gosto de futebol, sou atleticano, mas prefiro não jogar, que é para evitar me ma­chucar e ficar sem poder trabalhar. Tenho vários colegas com problemas no joelho, no pé. Eu não arrisco. Mal, mal, faço uma caminhada.

E o senhor é religioso?

Sou católico, mas não praticante.Te­nho uma ótima relação com o padre da igreja Nossa Senhora do Carmo, em Be­tim, que ajudo como posso.

É comum vê-lo com traje social. Terno e gravata são as peças favoritas do seu guarda-roupa?

Olha, posso afirmar que é difícil me ver sem elas, mas é que eu trabalho muito. É difícil me ver, digamos, com traje esportivo.

O senhor trabalha com direito criminal. Acredita que alguns infratores podem ser considerados vítimas da estrutura da atual sociedade?

Acho que esse é um assunto comple­xo. Tudo começa na família, que, às vezes, não consegue dar uma educação primá­ria. Depois, a escola, que não consegue suprir essa falha e que também possui deficiências. Isso tudo se torna um ciclo vicioso e o jovem, muitas vezes, acaba en­trando para o mundo do crime.

O senhor acredita que a redução da maioridade penal resolveria isso?

Não. Os jovens estão entrando no cri­me muito cedo e precisam ser ressocia­lizados. Aqui em Betim, estamos traba­lhando concomitantemente à prefeitura e outras entidades para conseguirmos concretizar um centro de recuperação para menores.

O senhor acha que a sociedade é justa?

De forma alguma. Se fosse, não precisa­ríamos de juízes, nem de leis. E acho que seja impossível, um dia, alcançarmos uma justiça plena. Se olharmos para a história, a sociedade nunca foi justa. Haverá sempre uma classe dominante, pequena, mas que detém o poder. Do outro lado, há a massa dominada que tenta chegar ao poder. Para vivermos melhor, o que podemos fazer é tentar diminuir as diferenças entre esses dois grupos. Uma das formas de contri­buirmos para isso é cada um exercer mais seus deveres, afinal, as pessoas gostam de afirmar que têm direitos, mas os deveres estão passando despercebidos.

Há algo no seu projeto de vida que não foi concretizado?

Sim, quero ter mais um filho. No mais, continuar vivendo em paz. 




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