Encontro marcado com Deus

Catolicismo

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Criado em 13 de Agosto de 2014 Religião

Muller Miranda

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Terço dos homens se consolida como o momento de fé entre os homens; grupo surgiu há cinco anos e cresce a cada dia

Luna Normand

SEGUNDA-FEIRA, 19H30. A Matriz de Nossa Senhora do Carmo, uma das mais tradi­cionais de Betim, está cheia de fiéis, que fazem suas preces e contemplam Jesus. Mas, diferentemente de outras celebra­ções, essa, em especial, tem um público bem definido e um objetivo bastante es­pecífico: homens de todas as idades que rezam o terço.

Praticado tradicionalmente pelas mu­lheres, o hábito de rezar o Rosário, po­pularmente conhecido como terço, tem se multiplicado no decorrer dos anos. E, ao longo da sua história, essa forma de contemplar Deus sofreu várias modifica­ções. O papa João Paulo, por exemplo, acrescentou no início do seu pontificado mais um mistério, o da “Vida de Jesus”, aos já existentes naquela época, segundo explica o pároco da igreja Nossa Senhora do Carmo, Willamy Feijó. “Depois do Va­ticano II, a igreja ajustou muitas coisas, o que aproximou muito as pessoas e, principalmente, os homens. Ela começou a entrar com mais força na realidade e a falar do trabalho, da vida social, ficando mais atrativa para as pessoas do sexo masculino”, revela.

O cirurgião-dentista Stephano Zerlotti­ni, 36, é um dos fiéis que reserva, há quatro anos, um tempo na agenda para rezar o ter­ço, que ele aprendeu com a avó materna, Mariana. “Meus pais viajaram por alguns meses por força do trabalho de meu pai, e meus avós ficaram cuidando de mim e de meus irmãos durante essa época. Todo o dia a vó rezava um terço. Curioso, pergun­tei como era. Achava que devia ser ‘difícil’ e demorado. Coisa de adulto ficar com aque­las contas na mão. Mas acontece que era fácil e bonito. Minha avó, então, ganhou um companheiro”, recorda.

Religioso e frequentador da missa do­minical, ele conta que foi apresentado ao terço dos homens por meio de um aviso ao final de uma celebração. “Sempre achei que faltavam eventos religiosos que con­gregassem exclusivamente homens e a eles fossem direcionados. Achei uma oportuni­dade no mínimo diferente de participar de algo na comunidade. Gostei da ideia e fi­quei impressionado de ver a igreja cheia de homens que, certamente, compartilhavam do mesmo desejo de meditação e oração através das contas do Rosário. Foi uma sen­sação confortante e motivadora, daquelas que reforçam nossa fé”, diz.

Frequentador assíduo do terço dos homens, Laurimar Mattar diz que a prática fortalece sua fé

CRESCIMENTO DOS ADEPTOS

Várias comunidades católicas têm se rendido ao terço dos homens, que, se­gundo estimativas, já conta com cerca de 10 milhões de participantes em todo o país. Só para se ter uma ideia da força do movimento, o Encontro Nacional do Ter­ço dos Homens, que ocorre todos os anos em Aparecida do Norte e está em sua sex­ta edição, é o segundo maior evento reli­gioso da cidade, só perdendo para o Dia de Nossa Senhora Aparecida, comemora­do em 12 de outubro. Por aqui, o hábito surgiu há cerca de cinco anos, na igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro de Betim, e logo se disseminou para outras paróquias, como as de São Francisco de Assis, no Angola, e de Nossa Senhora Apa­recida, no Filadélfia.

Responsável pelo primeiro terço dos homens em Betim, o engenheiro civil José do Carmo Dias, 59, afirma que a participa­ção tem aumentado. “O primeiro encontro ocorreu em agosto de 2008, com a presen­ça de 35 homens. Na época, ele ocorria uma vez por mês e assim perdurou pelos primeiros cinco anos. Agora, ele é realiza­do todas as segundas-feiras, com média de público de 250 pessoas”, afirma.

O perfil dos frequentadores é bem ecléti­co. Em geral, varia de meninos de 10 anos a homens de 80, com a média de idade entre 35 e 50 anos. A maioria já inicia a participação sabendo a oração do Rosário, mas José do Carmo explica que, mesmo aqueles que nunca rezaram, aprendem rápido, por se tratar de uma oração muito simples. “É basicamente a repetição das orações de Ave-Maria e Pai-Nosso, que são universais em nossa igreja católica. Projetamos tudo em um telão e os devotos acompanham, lendo e saldando Maria com as canções dedicadas a ela”, revela.

Encontros, com duração média de uma hora, são frequentados por meninos de 10 até homens de 80 anos
 
COMO FUNCIONA
O encontro costuma ser bem objetivo, com duração média de uma hora. O terço contempla sempre quatro mistérios – Gozosos, Luminosos, Dolorosos e Gloriosos – e cinco passagens da vida de Cristo, desde o seu nascimento até a morte e ressurreição, sempre invocando a vida de Cristo em família, retratando sua concepção, nascimento, vida, morte e ressurreição. Assim, a cada dezena rezada, Maria é saudada com uma canção dedicada a ela.
 
Para José Dias, a capacidade de acreditar na proteção de Deus é o que atrai os homens. “Posso dizer que o ato de rezar o terço em comunidade nos traz um conforto espiritual e uma vibração única. Quem experimenta e sente as vibrações maravilhosas de nossa mãe Maria em nossa vida quer continuar toda semana, orando e pedindo proteção para nossa família, nossa cidade e nosso Brasil”, afirma.
 
O comerciante e transportador Laurimar Mattar Pereira, 48, também frequentador assíduo do terços dos homens, diz que a prática fortalece não só sua fé, mas de todos os participantes. “É muito gratificante ver quase 450 homens unidos em prol da fé. Eu diria a todos que ainda não frequentaram que experimentem. Ele revigora a nossa vida de uma forma incrível”, garante.
 
Para disseminar ainda mais o hábito em Betim, o terço dos homens realizado na igreja Nossa Senhora do Carmo planeja criar um site em breve. Os interessados poderão acessar as orações, as canções, ver a agenda de encontros, eventos e outros informativos referentes ao movimento. Além disso, no dia 30 de agosto, o grupo participará do 1º Encontro Estadual do Terço dos Homens, na Serra da Piedade.
 
A HISTÓRIA DO TERÇO

Popularmente conhecido como terço, a tradição de rezar 50 Ave­-Marias surgiu paralelamente à oração do Santo Rosário, que reú­ne 200 Ave-Marias divididas em 20 mistérios. Trata-se da quarta parte do Rosário, dividida em quatro mis­térios – Gozosos, Luminosos, Do­lorosos e Gloriosos –, precedidos por um Pai-Nosso e concluído com um Glória. Segundo consta, a Igre­ja Católica recebeu o Rosário em sua forma atual em 1206, quando a Virgem Maria apareceu a São Do­mingos Gusmão e o entregou como uma arma poderosa para a conver­são dos hereges e outros pecadores daquele tempo. Desde então, sua devoção se propagou rapidamente em todo o mundo. 

 




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