Encontro marcado com Deus
Catolicismo
Muller Miranda
Terço dos homens se consolida como o momento de fé entre os homens; grupo surgiu há cinco anos e cresce a cada dia
Luna Normand
SEGUNDA-FEIRA, 19H30. A Matriz de Nossa Senhora do Carmo, uma das mais tradicionais de Betim, está cheia de fiéis, que fazem suas preces e contemplam Jesus. Mas, diferentemente de outras celebrações, essa, em especial, tem um público bem definido e um objetivo bastante específico: homens de todas as idades que rezam o terço.
Praticado tradicionalmente pelas mulheres, o hábito de rezar o Rosário, popularmente conhecido como terço, tem se multiplicado no decorrer dos anos. E, ao longo da sua história, essa forma de contemplar Deus sofreu várias modificações. O papa João Paulo, por exemplo, acrescentou no início do seu pontificado mais um mistério, o da “Vida de Jesus”, aos já existentes naquela época, segundo explica o pároco da igreja Nossa Senhora do Carmo, Willamy Feijó. “Depois do Vaticano II, a igreja ajustou muitas coisas, o que aproximou muito as pessoas e, principalmente, os homens. Ela começou a entrar com mais força na realidade e a falar do trabalho, da vida social, ficando mais atrativa para as pessoas do sexo masculino”, revela.
O cirurgião-dentista Stephano Zerlottini, 36, é um dos fiéis que reserva, há quatro anos, um tempo na agenda para rezar o terço, que ele aprendeu com a avó materna, Mariana. “Meus pais viajaram por alguns meses por força do trabalho de meu pai, e meus avós ficaram cuidando de mim e de meus irmãos durante essa época. Todo o dia a vó rezava um terço. Curioso, perguntei como era. Achava que devia ser ‘difícil’ e demorado. Coisa de adulto ficar com aquelas contas na mão. Mas acontece que era fácil e bonito. Minha avó, então, ganhou um companheiro”, recorda.
Religioso e frequentador da missa dominical, ele conta que foi apresentado ao terço dos homens por meio de um aviso ao final de uma celebração. “Sempre achei que faltavam eventos religiosos que congregassem exclusivamente homens e a eles fossem direcionados. Achei uma oportunidade no mínimo diferente de participar de algo na comunidade. Gostei da ideia e fiquei impressionado de ver a igreja cheia de homens que, certamente, compartilhavam do mesmo desejo de meditação e oração através das contas do Rosário. Foi uma sensação confortante e motivadora, daquelas que reforçam nossa fé”, diz.
CRESCIMENTO DOS ADEPTOS
Várias comunidades católicas têm se rendido ao terço dos homens, que, segundo estimativas, já conta com cerca de 10 milhões de participantes em todo o país. Só para se ter uma ideia da força do movimento, o Encontro Nacional do Terço dos Homens, que ocorre todos os anos em Aparecida do Norte e está em sua sexta edição, é o segundo maior evento religioso da cidade, só perdendo para o Dia de Nossa Senhora Aparecida, comemorado em 12 de outubro. Por aqui, o hábito surgiu há cerca de cinco anos, na igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro de Betim, e logo se disseminou para outras paróquias, como as de São Francisco de Assis, no Angola, e de Nossa Senhora Aparecida, no Filadélfia.
Responsável pelo primeiro terço dos homens em Betim, o engenheiro civil José do Carmo Dias, 59, afirma que a participação tem aumentado. “O primeiro encontro ocorreu em agosto de 2008, com a presença de 35 homens. Na época, ele ocorria uma vez por mês e assim perdurou pelos primeiros cinco anos. Agora, ele é realizado todas as segundas-feiras, com média de público de 250 pessoas”, afirma.
O perfil dos frequentadores é bem eclético. Em geral, varia de meninos de 10 anos a homens de 80, com a média de idade entre 35 e 50 anos. A maioria já inicia a participação sabendo a oração do Rosário, mas José do Carmo explica que, mesmo aqueles que nunca rezaram, aprendem rápido, por se tratar de uma oração muito simples. “É basicamente a repetição das orações de Ave-Maria e Pai-Nosso, que são universais em nossa igreja católica. Projetamos tudo em um telão e os devotos acompanham, lendo e saldando Maria com as canções dedicadas a ela”, revela.
Popularmente conhecido como terço, a tradição de rezar 50 Ave-Marias surgiu paralelamente à oração do Santo Rosário, que reúne 200 Ave-Marias divididas em 20 mistérios. Trata-se da quarta parte do Rosário, dividida em quatro mistérios – Gozosos, Luminosos, Dolorosos e Gloriosos –, precedidos por um Pai-Nosso e concluído com um Glória. Segundo consta, a Igreja Católica recebeu o Rosário em sua forma atual em 1206, quando a Virgem Maria apareceu a São Domingos Gusmão e o entregou como uma arma poderosa para a conversão dos hereges e outros pecadores daquele tempo. Desde então, sua devoção se propagou rapidamente em todo o mundo.