Entre os 8 melhores no arremesso de dardos
Aos 27 anos, betinense que ficou paraplégica em 2013 se destaca no paratletismo em nível nacional, exibindo medalhas e a vitória da superação
Mostrar as duas medalhas de ouro obtidas no Circuito Caixa de Atletismo tem um gosto a mais para a paratleta Marcella Guimarães. Quem a vê hoje de bem com a vida e com um futuro promissor no esporte não imagina as barreiras que ela já enfrentou.
Em julho de 2013, quando tinha 22 anos, a jovem sofreu uma reviravolta. Antes estudante de design de interiores e completamente independente, a moça recebeu o diagnóstico de um hermangioma na medula. O tumor era benigno, mas, como ele se rompeu, ela teve que ser operada às pressas. Na cirurgia, quatro vértebras precisaram ser retiradas, o que a deixou paraplégica.
O choque inicial foi grande, conforme Marcella relata. Mas, aos poucos, ela foi reaprendendo a viver e a usar a cadeira de rodas. No começo, ficou três meses acamada. Depois, mais três meses de reabilitação no hospital Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte. Lá, a jovem ouviu pela primeira vez do médico que não voltaria a andar. “Foi o único momento em que desabei. Mas, em seguida, aprumei e tentei me manter cada vez mais firme”, lembra.
Foi no Sarah que Marcella teve contato com o esporte sobre cadeira de rodas, quando começou a jogar basquete. Depois, já mais recuperada, ela comprou uma handbike, bicicleta guiada pelas mãos, que usava como um hobby. O trabalho feito na fisioterapia e no pilates a ajudou a fortalecer os braços e o abdômen e a redescobrir o próprio corpo. Com isso, ela começou a praticar várias atividades, como natação e hidroginástica, até chegar ao atletismo.
O contato com esse esporte competitivo veio há sete meses, quando a fisioterapeuta que a acompanha a apresentou para a técnica do programa Viva o Esporte, da Prefeitura de Betim. Desde então, ela pratica arremesso de dardos e corrida em cadeira de rodas, duas modalidades do atletismo.
Marcella faz parte da equipe que representa a cidade e, em abril, participou da primeira competição que ranqueia atletas em todo o país, o Circuito Caixa, no qual ganhou duas medalhas de ouro: uma pelo arremesso de dardos, ficando entre os oito melhores do Brasil, e a outra na corrida de cadeira de rodas. A fase final do circuito vai ser realizada em setembro.
Apoio
Chegar até o pódio só foi possível com o apoio de muita gente. Marcella conta que a mãe, a irmã e os amigos estiveram com ela em todo o período da recuperação, incentivando-a a avançar. E cada pequena conquista era uma grande vitória, como voltar a sentir um dedo ou recuperar algum movimento. “Eu matava um leão por dia”, recorda-se.
Uma das amigas, a engenheira de produção Inahê Zaidan Drumond, de 28 anos, emociona-se ao lembrar as lutas enfrentadas por Marcella. Era ela quem passava o “boletim médico” para o restante da turma. Obstáculos vencidos, Inahê vibra com cada vitória da amiga. “Vi uma menina com 22 anos, independente, ficar 100% dependente e, aos poucos, redescobrindo-se. Fico muito orgulhosa de ver a diferença entre o primeiro episódio, há cinco anos, e agora”, diz.
Vitória
Atualmente, Marcella mora sozinha, dirige, sai com os amigos e consegue levar uma vida independente, inclusive para o treino, feito cinco vezes por semana no Horto Municipal. São sete horas por dia de treinamento intensivo.
Como atleta disciplinada que é, ela faz acompanhamento nutricional e se alimenta adequadamente para melhorar os resultados dos treinos. A moça também frequenta a academia de segunda a sexta-feira.
A jovem ressalta que dificuldades impostas pela sociedade, como falta de acessibilidade em locais públicos ou em estabelecimentos comerciais, não a impedem de lutar pela mudança de realidades nem por seus sonhos. O principal deles, salienta Marcella, é evoluir no esporte, melhorar suas marcas e chegar às próximas Paraolimpíadas, em 2020. Para quem já venceu tantas barreiras, nada é impossível.