Esperança de cura na polpa do dente de leite

Clínicas brasileiras já coletam e armazenam as células-tronco da polpa da primeira dentição para o tratamento de doenças no futuro.

Criado em 12 de Outubro de 2016 Saúde e Vida
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Patrícia Giudice

Clínicas brasileiras já coletam e armazenam as células-tronco da polpa da primeira dentição para o tratamento de doenças no futuro.

Diz a lenda que, quando o dente de leite cai, a criança deve colocá-lo debaixo do travesseiro na hora de dormir. A “fada do dente”, tão imaginada pelos pequenos, deixa uma moeda e leva a pequena estrutura. A história, frequentemente contada para os pequenos quando começam a trocar a dentição, a partir dos 5 anos, não vai se perder com a notícia mais recente da ciência: é possível retirar células-tronco dos dentes de leite e armazená-las por anos.

A polpa do dente de leite e também do dente siso é uma das fontes de células-tronco mesenquimais multipotentes e imunocompatíveis, ou seja, podem servir não só para o doador, mas também para a família. Essas células são usadas tanto para a regeneração quanto para a reparação de tecidos dentais, como no caso do tratamento do lábio leporino.

Atualmente, existem várias fontes de células-tronco: o cordão umbilical, a medula óssea, o tecido adiposo e a polpa do dente de leite. Por causa dessas fontes, a esperança de tratamento e de transplante ressurgiu para mais de 300 doenças graves, como cirrose, hepatite C, insuficiência renal, enfisema pulmonar, traumas da coluna, lesões de córnea, além de Parkinson e Alzheimer. Mas a utilização das células-tronco para esses casos ainda está em estudo. Poucas clínicas de criogenia fazem o armazenamento no Brasil. O valor gira em torno de R$ 2.000 mais taxas de anuidade.

Pais e mães mais prevenidos já estão coletando as células dos filhos. Quem perdeu a oportunidade de guardar as do cordão umbilical agora pode optar pelas do dente de leite. Segundo o médico Carlos Alexandre Ayoub, do Centro de Criogenia Brasil (CCB), a obtenção da polpa do dente de leite é um processo não invasivo e que pode ser feito, naturalmente, durante o período de troca dos dentes da criança, entre os 5 e os 12 anos. “Essas células-tronco são jovens e de excelente qualidade e quantidade. Portanto, são indicadas para um futuro tratamento de doenças degenerativas”, informa.

Carlos Alexandre explica que a retirada da polpa acontece quando o dente começa a amolecer. “O paciente vai ao dentista, retira o dente e o coloca num tubo específico, de onde se retira o material para ser levado ao laboratório, que irá processá-lo. Uma única polpa, por menor que seja, já é suficiente para que se consiga expandir células-tronco e dar ao paciente a quantidade necessária de células para tratamentos no futuro”, detalha.

Segundo o especialista do Centro de Criogenia Brasil, caso não haja mais o dente de leite, ainda é possível extrair a polpa do dente siso, que, normalmente, começa a crescer quando a pessoa faz 18 anos.

Nelson Foresto Lizier, diretor científico do CCB, diz ainda que as células-tronco da polpa do dente podem ser armazenadas por tempo indeterminado. Isso porque elas são congeladas a 196 graus negativos, o que garante sua preservação por décadas. “Elas podem ser isoladas e expandidas em laboratório. As células-tronco encontradas no dente de leite são semelhantes às obtidas no tecido do cordão umbilical. Ambas são células menzequimais jovens de excelente quantidade e qualidade”, destaca Foresto.

 


 

A polpa do dente

A polpa do dente é uma massa de tecido vivo, composta por vasos sanguíneos, células-tronco e nervos. Essas células chamadas de mesenquimais multipotentes porque têm capacidade de se transformar em uma ampla variedade de tipos de células. Entre eles estão os miócitos, que promovem a reparação do tecido muscular; os cardiomiócitos, que reparam o tecido cardíaco; os neurônios e as células da glia, que servem para a reparação do tecido nervoso; os osteócitos, responsáveis por reparar os ossos; os condoblastos, capazes de reparar a cartilagem; e as células episteliais, que propiciam a reparação da pele e da superfície ocular.

Os pais interessados em congelar as células dos filhos devem ficar atentos a dois pontos. O primeiro é entrar em contato com um centro de tecnologia autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os locais de armazenamento têm padrões rigorosos a seguir e devem passar por inspeções regularmente. O segundo é saber a hora certa da esterilização. O ideal, segundo os especialistas, é que essas células sejam extraídas por um profissional dentista e que este siga todas as recomendações do laboratório contratado.

O dente pode ser retirado em casa, mas os pais também precisam estar orientados quanto à esterilização do local. A estrutura deve ser colocada em um tubo e permanecer em refrigeração até chegar ao laboratório, onde irá para conservação em nitrogênio líquido.

O restante do dente pode ser doado para estudos. A Universidade de São Paulo (USP) tem o Banco de Dentes Humanos, que recebe doações de dentes de leite para treinar seus estudantes de odontologia e promover diversos tipos de pesquisas. São aceitos dentes de adultos e até com cáries.

Cordão umbilical

As células-tronco do cordão umbilical são coletadas logo após o parto. É nesse momento que se obtêm o sangue e o tecido do cordão. Elas são transferidas para uma bolsa coletora sem qualquer risco ou prejuízo para a mãe ou para o bebê. Também não há interferência nos procedimentos obstétricos, ou seja, a coleta pode ocorrer em qualquer espécie de parto. Em Minas Gerais, a criopreservação por meio do sangue do cordão umbilical é mais difundida, e vários laboratórios realizam a coleta e o armazenamento.

O material biológico é mantido também a temperaturas baixas para que a composição dele seja preservada. Geralmente, os laboratórios oferecem os serviços de coleta, transporte, processamento e armazenamento. Hoje, a preservação do sangue do cordão umbilical custa em torno de R$ 3.500 mais taxas de manutenção anuais.




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