Espiritualidade franciscana
Marcha Franciscana é realizada há 18 anos com o objetivo de promover conscientização ambiental e estimular o amor ao próximo
Viajantes caminham entre 17 km e 25 km por dia durante marcha espiritual pelo interior de Minas
Um olhar de atenção e cuidado com o meio ambiente e uma forma de distribuir amor às pessoas. São esses alguns dos objetivos da Marcha Franciscana, que, desde 2001, reúne anualmente cem participantes para uma caminhada de uma semana pelo interior de Minas.
O evento é organizado pelos Frades Franciscanos da Província Santa Cruz (OFM) por meio do Centro Franciscano de Defesa de Direitos (Cefad), por franciscanos (as) da Ordem Franciscana Secular (OFS), entre outros admiradores de São Francisco.
Em 2018, a marcha vai ocorrer entre os dias 14 e 21 de julho, saindo do distrito de Olhos D’água da Canastra, em Delfinópolis, no Sudoeste do Estado, e encerrando no distrito de São José do Barreiro, na cidade de Vargem Bonita, em um trajeto total de 100 km.
De acordo com o coordenador do encontro e de projetos do Centro Franciscano, Laci dos Santos, o tema deste ano é Francisco e o Cântico das Criaturas: tecendo relações. “Queremos, ao longo desses dias, trabalhar as relações existentes nos dias atuais, sempre com um olhar franciscano de desapego e simplicidade”, explica.
No primeiro dia, o pároco local em Delfinópolis abençoa os peregrinos que seguem viagem durante cinco dias com rotina pré-determinada: o despertar é bem cedo, às 4h, quando os caminhantes se aquecem com a orientação de um fisioterapeuta e tomam café da manhã. Por volta das 5h, eles pegam a estrada e vão em silêncio até o sol nascer, momento que é saudado por eles.
A chegada é sempre por volta das 14h, a pousadas onde os caminhantes ficam hospedados e se alimentam até colocarem o pé na estrada novamente no dia seguinte. Por dia, eles caminham de 17 km a 25 km. “Durante a caminhada, nós nos dividimos em grupos de cinco e, a cada dia, temos uma reflexão para fazer dentro do tema”, diz.
Todo o trajeto é acompanhado por fisioterapeutas, enfermeiros e também carro de apoio para os participantes beberem água e fazerem lanches ao longo do percurso. A equipe de trabalho total é composta por 30 pessoas, incluindo, além dos profissionais citados, cozinheiros, psicólogos e outras pessoas para cuidarem da logística do evento.
À noite, sempre há uma celebração ecumênica juntamente com a comunidade local. “A marcha é inter-religiosa. Nossa preocupação é levar a espiritualidade, e não o credo”, destaca Santos.
Sustentabilidade
Um dos principais pontos levantados pela marcha é o cuidado com o meio ambiente, com os animais e com o rio São Francisco. Como os caminhantes passam por muitas comunidades rurais, uma das propostas é provocar o mínimo de impacto possível nos locais. Caso seja produzido algum resíduo no caminho, eles guardam para descartar corretamente no fim do dia.
“O objetivo maior é promover a conscientização ecológica e partilhar a espiritualidade franciscana, despertando o amor à vida e à natureza e deixando um legado de amor ao próximo por onde passamos”, salienta.
O frei Robério Antunes, da Ordem dos Frades Menores, de 37 anos, é um frequentador assíduo da marcha, tendo já participado do evento nove vezes. A experiência de fazer essa peregrinação, segundo ele, é enriquecedora e única, principalmente pelas questões abordadas a cada ano, pelo contato com a natureza e pela diversidade cultural presente nos participantes. De acordo com ele, houve ano em que estiveram na marcha hare krishnas, muçulmanos e ateus, bem como pessoas de outras vertentes religiosas ou ideológicas. “A busca pela paz e o diálogo inter-religioso são próprios do carisma franciscano. E isto é algo que vivenciamos plenamente na caminhada: a discussão sobre a criação de uma forma aberta e interativa”, finaliza.