Está nervoso? Vá colorir!

Novidade | Cor para adultos

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Criado em 22 de Junho de 2015 Novidades

Fotos: Augusto Martins

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Esqueça, por algumas horas, as redes sociais, as preocupações com o dia seguinte e o trabalho que você levou do escritório para casa. Sentese, respire calmamente e... colora! Não, não precisa pegar o livrinho dos filhos, dos sobrinhos ou do irmão mais novo. Você pode ter algo bem mais elaborado e interessante. E acredite: esse é um “detox” que pode ser mais importante do que aquele que promete enxugar as gordurinhas.
 
Julia Ruiz
 
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no fim de 2013, apontaram que mais de 700 milhões de pessoas no mundo são afetadas por transtornos mentais. No topo da lista dos distúrbios, estão a depressão e a ansiedade. Fruto de sensações como preocupação excessiva, tensão, frustração, nervosismo e medo, esta última, quase sempre acompanhada do estresse, é item que praticamente não falta em meio a uma infinidade de tarefas e interesses que cada indivíduo desempenha e manifesta diariamente.
Durante algum tempo, os livros de autoajuda, nos mais diversos segmentos, atuaram como uma espécie de alento para as dificuldades aguçadas pela modernidade. Mas uma nova categoria tem desbancado a procura incessante pela felicidade. Nova febre do mercado editorial, os livros de colorir para adultos – impulsionados pelo sucesso “Jardim Secreto” (Editora Sextante) –, depois de baterem recordes em outros países, vêm fazendo a cabeça de milhares de brasileiros.
 
A repercussão da nova moda na terra verde e amarela alcançou índices impressionantes. Em março, o livro da desenhista escocesa Johanna Basford foi o terceiro mais vendido no país – mais de 22 mil exemplares saíram das prateleiras, sendo que, desse total, 14 mil foram comprados só na última semana do mês. Até a segunda quinzena de abril, “Jardim Secreto” chegou à marca de 300 mil  exemplares vendidos. Nesse mesmo mês, nova obra de igual proposta – e lançada pela mesma autora –, “Floresta Encantada”, comercializou 220 mil exemplares. Registros ainda mais recentes dão conta de que, juntos, os livros já emplacaram a venda de mais
de 1 milhão de exemplares.
 
Essa febre segue os passos dos números atingidos em outros países. De acordo com dados da empresa norte-americana de comércio eletrônico Amazon, “Jardim Secreto” é líder de vendas na categoria de livros. Na sucursal do Canadá, a obra não está no topo, mas só perde para a publicação da mesma autora, “Floresta Encantada”. Na Europa e na Ásia, especialmente na Coreia do Sul, os livros também figuram na lista dos mais vendidos. Editoras europeias, inclusive, têm investido em publicações do mesmo gênero, pegando
carona em todo esse evento.
 
Quem ainda não folheou nenhum pode se perguntar por que pagar cerca de R$ 27 por uma obra dessas, sendo que há opções
muito mais baratas nas prateleiras infantis. A resposta está no conteúdo. Elaborado normalmente por desenhistas profissionais, o livro de colorir para adulto contém elementos complexos, como florestas com alto nível de detalhes, mandalas, paisagens diferenciadas, animais selvagens e até alguns desafios subliminares.
 

 
Bem-estar
Mas qual o motivo de tanto sucesso? Entre os adeptos, a resposta é unânime: relaxamento, alívio da ansiedade e do estresse, válvula de escape para a correria do dia a dia. É isso que a jovem Bárbara Lima, de 21 anos, encontra na atividade de colorir. Com uma rotina dividida entre a profissão de chef de cozinha, o curso de gastronomia e as encomendas de bolos, doces e afins, nos fins de semana, ela encontra nos livros um momento de “esvaziar” a mente. “Quanto estou colorindo, tiro do pensamento o barulho, o conflito ou a preocupação que ficou comigo mesmo depois de ter concluído minhas atividades e voltado para casa. É um momento só meu, em que
me concentro na escolha de cores e nas possibilidades de combinações. É muito gostoso, nem o celular me distrai”.
 
Bárbara, que conheceu o livro pela internet, não imaginava que iria gostar tanto de resgatar um pouco de sua infância. “Às vezes, chegava em casa tão estressada que mal tinha paciência para conversar com minha família. Então, o resultado para mim foi ótimo. Sem contar que, quando a gente acaba, ainda tem a recompensa de apreciar o próprio trabalho, com uma sensação incrível de calma e relaxamento. Só não posso viciar, pois, quando vejo, já é madrugada e perdi a noção da hora”, brinca a jovem chef. Para embelezar os desenhos, ela conta com um aparato profissional. “Nem precisei comprar materiais, pois meu irmão cursou artes plásticas e me emprestou seus lápis de cor e giz de cera”. Hoje, na casa de Bárbara, a irmã também é adepta da atividade, e a mãe quer se aventurar. “Meu pai ainda acha que é coisa de mulher, mas é porque nunca experimentou”.
 
A bancária aposentada Rachel Zaidan, de 52 anos, adora mostrar suas criações para a família. Com “Jardim Secreto” – presente que ganhou da filha no Dias das Mães – já quase completo, ela se diverte produzindo efeitos e combinações de cores para dar vida às paisagens do livro. “Como há muitas folhas e árvores para colorir, seria natural utilizar muito o verde, mas, para não ficar repetitivo, fui
experimentando tons como o lilás, por exemplo. O resultado ficou muito bonito e interessante. Todos gostaram”, garante. Tão bonito – e relaxante – que os filhos e o companheiro resolveram experimentar também. Folheando o livro e conversando com a reportagem, ela faz suas observações: “é muito bacana perceber a forma como cada um da casa colore, os desenhos e as cores que escolhe, e se eles vão
até o fim ou não. Acredito que isso revela muito da personalidade deles e do que estão sentindo no momento”.
 
Rachel, que administra o lar, é mãe de dois filhos já adultos, tem dois cachorros e um “namorido”, não vive mais com a pressão das metas dos bancos, mas, nem por isso, deixou de ter seus momentos de ansiedade ou estresse. E foi pensando nisso que a engenheira de produção Inahê Zaidan, de 24 anos, a presenteou. “Li sobre o livro na internet e achei interessante. Minha mãe, apesar de estar aposentada, tem muitos afazeres de casa e preocupações, o que pode deixar uma pessoa nervosa. Por outro lado, não é aquela rotina
puxada de quando ela trabalhava fora e ainda tinha que cuidar da família. Então, hoje sobra mais tempo livre. Por isso, resolvi comprar um livro de colorir, tanto para que ela pudesse relaxar, quanto para que preenchesse o tempo livre com uma distração saudável”.
 
A ciência explica
A ciência pode explicar o que está por trás da atividade. Para isso, a Mais convidou a psicóloga Fabrícia Silveira de Abreu e a neurologista Rosamaria Peixoto Guimarães, ambas conveniadas da Unimed-BH, para discorrerem sobre os efeitos do ato de colorir nos campos orgânico e emocional de quem pratica. De acordo com Fabrícia, a atividade cumpre o que promete. “Há um direcionamento
da mente para um foco específico. Dessa maneira, muitas pessoas tendem a se acalmar ao se concentrarem em uma única
ação e, com isso, distanciam a mente de outras ideias e da correria do dia a dia. É estar somente no presente, vivenciando apenas aquele ato”. Rosamaria acrescenta que “esse envolvimento pessoal na tarefa traz a expectativa de um resultado positivo, que ativa as áreas cerebrais da recompensa, liberando dopamina, um neurotransmissor do bem-estar”.
 
Além de ajudarem a promover relaxamento, os livros de colorir podem proporcionar outros benefícios. “Profissionais devem indicar essa atividade para pessoas com transtorno de déficit de atenção ou para, por exemplo, incitar a produção e a criatividade. Além disso, é muito positivo por resgatar o lúdico, a brincadeira, o lado infantil do indivíduo”, explica Fabrícia Silveira.
 
Assim como a aposentada Rachel Zaidan observou, a neurologista Rosamaria Peixoto chama a atenção para a escolha do uso e da combinação de cores. “Com isso, podemos remontar a associações feitas há anos, nas quais se correlaciona, por exemplo, calor com a cor vermelha ou frio com a cor azul, o que pode trazer maior ou menor recompensa”, enaltece. “Essas escolhas podem, de fato, revelar
algo sobre o indivíduo naquele momento”, ratifica Fabrícia Silveira.
 
Mas colorir não seria como qualquer outra arte-terapia ou técnica de relaxamento? As duas especialistas entendem que sim. “Os adultos podem conseguir o mesmo grau de efeito antiestresse fazendo jardinagem, montando um quebra-cabeças de 5.000 peças ou construindo um protótipo de avião”, esclarece Rosamaria. “Não existe uma regra para o colorir. Alguns sentirão prazer nisso, outros não. Há pessoas que não gostam ou não querem. Um daltônico ou alguém com problemas na coordenação motora fina, por exemplo, poderia vivenciar uma situação de dificuldade. O importante é que cada um busque sua forma de relaxamento e seu momento de descansar a mente”, ressalta Fabrícia.
 
Que fique claro: livros não substituem um tratamento em consultório. “Quando a ansiedade e o estresse começam a prejudicar as atividades diárias, quando o sono é afetado, quando a memória começa a falhar pelo acúmulo de funções e preocupações, é hora de buscar a ajuda de um profissional”, aconselha a psicóloga.
 
Aquecendo a economia
A busca desenfreada pelos livros de colorir, além de esgotar as prateleiras das livrarias, alavancou, por consequência, um outro segmento do mercado: o de fabricação de lápis de cor. Basta saber que a maior fabricante do mundo, a Faber-Castell, vendeu no país, em abril, cinco vezes mais em comparação com o mesmo período do ano passado. E não são os kits mais simples que estão fazendo a cabeça dos adeptos da arte-terapia. Segundo o departamento de marketing da empresa, os itens semiprofissionais, que contam com estojos de 60 a 120 cores, e, portanto, mais caros, são os mais procurados pelos adultos.

 




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