Estudantes criam bicicleta inteligente
Jovens foram selecionados para apresentarem o projeto na Europa, no fim de julho, mas precisam de auxílio para pagarem a viagem. Revista Mais apoiou custeando a emissão dos passaportes. Saiba como você também pode ajudar!
Os jovens inventores da bicicleta inteligente, Gabriela, Laressa e Pedro, acompanhados do professor de física e padrinho do projeto, Giezi; eles estudam na Escola Estadual João Rodrigues, em Prudente de Morais (MG)
Daniele Marzano
Os estudantes Pedro Henrique Romualdo Goulart, 16 anos, Laressa da Silva Oliveira, 17, e Gabriela Santana de Abreu, 17, vivem em Prudente de Morais (MG), cidade localizada a 60 km de Belo Horizonte, mas, muito em breve, esperam atravessar as fronteiras do país rumo a Portugal, onde pretendem apresentar ao mundo o projeto que conceberam no ano passado: a Nossa Amiga, uma bicicleta inteligente. Sob a orientação do professor de física Giezi Américo Reginaldo, 46, da Escola Estadual João Rodrigues, onde os garotos estudam, eles criaram o equipamento, que tem como principal intuito melhorar o atual quadro da mobilidade urbana para os ciclistas.
Segundo o professor, depois de perceber que grande parte dos estudantes da escola utilizava a bicicleta como meio de transporte, ele sugeriu aos alunos do ensino médio fazerem uma pesquisa com esse público. “Elaboramos um questionário, que foi aplicado em todas as turmas da manhã, abrangendo quase 300 pessoas. E um dado obtido com os resultados dessa pesquisa nos chamou a atenção: o número alto de jovens que já haviam sofrido acidente com bicicleta”, relata Giezi. Conforme ele diz, a principal queixa desses ciclistas é a falta de investimento no trânsito das grandes e pequenas cidades, onde se arriscam enfrentando diversas situações, como colisão em cruzamentos, invasão de veículos nas ciclovias e desrespeito dos automóveis maiores nas estradas.
Os garotos expuseram o projeto, nomeado Faraday Dínamo, na feira UFMG Jovem do ano passado, de onde saíram credenciados para apresentarem a bike, apelidada por eles de Nossa Amiga, em duas feiras internacionais, a serem realizadas em julho próximo.
“Considerando isso e relacionando esse fato ao tema da eletricidade, que estudaríamos naquele período, e ao da feira Jovem UFMG 2015, que trataria da geração de energia, decidi sugerir aos alunos que elaborássemos um projeto nessa área para atender aos usuários de bike. A partir daí, começamos a pensar de que forma poderíamos contribuir no sentido de evitar os problemas citados por esse público no questionário. Testamos, então, o uso de alguns dispositivos de segurança numa bicicleta, como o dínamo, que transforma a energia cinética em elétrica. Inicialmente, ele serviria para acender lâmpadas do colete de proteção do ciclista, mas, depois, o dispositivo passou a desempenhar outras funções, como, por exemplo, alimentar outros componentes eletrônicos”, explica o professor. As múltiplas funções do dínamo justificam o nome dado ao projeto: Faraday Dínamo.
Assim, esses componentes eletrônicos aliados a linguagens de programação viabilizaram a instalação de setas, sensor de impacto, trava especial, acionamento de chamada e localização de emergência no meio de transporte, carinhosamente apelidada de Nossa Amiga pelos autores do projeto, que afirmam que o sistema criado tornou a bicicleta eficiente e de baixo custo. “Criamos um equipamento diferente, que atende à segurança do ciclista. É o único sistema do tipo existente na América Latina e pode ser acoplado a qualquer bicicleta. Com isso, podemos incentivar a construção de ciclovias e propiciar mais segurança ao trânsito”, pontua Laressa.
AUXÍLIO PARA VIAGEM
A ideia do orientador do projeto, o professor Giezi, de levar a invenção de Pedro, Laressa e Gabriela para ser exposta na UFMG Jovem do ano passado deu certo, pois os estudantes se destacaram a ponto de serem selecionados, pelo programa Olímpiadas do Conhecimento, para representarem o Brasil na 9ª Internacional Research Scholl, promovida pela Milset Vostok e pela Universidade Pedagógica de Moscou, na Rússia, e também na 34ª Youth Science Meeting, realizada pela Associação Juvenil de Ciências de Portugal. O primeiro evento ocorrerá entre 25 de julho e 5 de julho, mas dele os jovens não irão participar em função do alto custo que a viagem demandaria. Já ao segundo encontro, que acontecerá dos dias 24 a 31 de julho, em Portugal, os estudantes esperam ir. Mas, para isso, ele precisam arrecadar cerca de R$ 20 mil. “Temos de pagar a taxa de inscrição e as passagens, além de melhorar nosso equipamento para a apresentação”, diz Gabriela. Para obterem o dinheiro, os estudantes estão vendendo rifas por R$ 10 reais cada – o prêmio é um Pálio 0 KM, a ser sorteado, pela loteria federal, no dia 30 de julho de 2016. Os jovens estão também organizando um bazar de roupas que receberam dos moradores de Prudente de Morais e promovendo bingos, os vão sortear uma televisão e um salário mínimo.
A revista Mais fez sua parte e apoiou os jovens colaborando com a retirada dos passaportes na Polícia Federal. Qualquer pessoa pode ajudar também. Quem se interessar em comprar as rifas ou quiser contribuir com algum valor pode fazer contato pelos telefones (31) 97528-2462, 99773-2429, 9972-1478, 99606-6983 ou 99617-8607.
Participando dessas feiras, Pedro almeja obter novas ideias e perspectivas para contribuir não só com o desenvolvimento da bicicleta inteligente, mas também com a futura criação de outros projetos. “Não importa o quanto uma ideia é inovadora ou o quanto ela pode mudar a vida das pessoas; se ela não sair do papel para realmente fazer a diferença no mundo, de nada irá adiantar”, declara o garoto.
OUTROS CREDENCIAMENTOS
Além dessas feiras internacionais, o projeto Faraday Dínamo foi credenciado para participar da Feira Brasileira de Ciências e Tecnologia (Febrace), que ocorre, anualmente, na Universidade de São Paulo (USP). De acordo com Giezi, trabalhos expostos na UFMG Jovem de maior relevância no sentido inventivo e que podem se transformar num produto para atender à comunidade, geralmente, são indicados para serem expostos nessa feira”, informa.
Outra “premiação” que os três jovens ganharam depois que estiveram na UFMG Jovem foi uma bolsa de iniciação científica. Eles recebem, desde janeiro deste ano, um valor simbólico que os mantêm vinculados à instituição federal de ensino. Em Prudente de Morais, os garotos e professor também foram homenageados pela Câmara Municipal.
Estudantes e professor trabalhando na construção da bicicleta inteligente, que apresenta vários dispositivos de segurança para o ciclista e para o próprio equipamento, cuja produção, garantem os inventores, é viável financeiramente; na foto ao lado, estudante exibe um projeto da Nossa Amiga
Giezi, que participa há quase dez anos da UFMG Jovem e já teve outros projetos destacados no evento, conta que o reconhecimento do Faraday Dínamo motivou a realização, a partir deste ano, da Mostra de Pesquisa Científica (Mopec) na Escola Estadual João Rodrigues, a qual, para Eduardo Teixeira Neves, gestor da instituição e um dos idealizadores, pode vir a ser uma grande ferramenta de estímulo aos estudos. “Além disso, ações como essa criam um clima de conhecimento, ciência, informação, sabedoria e até de competição, o que é extremamente saudável para os estudantes”, reforça.
“Esse tipo de iniciativa é de suma relevância, pois insere os alunos na seara científica, permitindo que eles descubram caminhos para além da escola”, ressalta o professor de física, que faz questão de agradecer o apoio oferecido para a concretização da bicicleta inteligente pelos gestores da escola, Eduardo Teixeira Neves e Rosélia da Silva Carvalho, pelo superintendente regional de ensino, Arquimedes Pereira de Souza, e pela analista educacional Raquel de Campos. “É importante salientar ainda a participação de toda equipe João Rodrigues que é muito boa e dos profissionais que já foram professores da Gabriela, da Laressa e do Pedro; sem dúvida, eles contribuíram para que os garotos acumulassem o conhecimento e a conduta que possuem hoje”, destaca, que ainda ressalta a colaboração de alguns parceiros, como a loja de bicicleta Sete Trilhas, de Sete Laoas, que forneceu alguns materiais, e o curso preparatório Cootep, localizado em Pedro Leopoldo, que tem ofertado aulas solidárias do professor Natanael Lourenço. Cada aluno colabora com o valor de R$ 10 para ajudar a equipe autora da Nossa Amiga a pagar a viagem.
O próximo passo dos inventores, segundo Giezi e Pedro, é tentar patentear a bicicleta e buscar parceiros para, quem sabe, produzir a Nossa Amiga em larga escala. “Sabemos que é um processo demorado e trabalhoso, mas vamos batalhar para conseguir alcançar nosso objetivo”, diz o professor. “Vamos fazer com que nossa ideia possa melhorar a vida das pessoas”, complementa Pedro.
SAIBA MAIS
O sistema da bicicleta inteligente, a Nossa Amiga, inclui:
-Setas para a sinalização de cones e cruzamentos;
-Sensores ultrassônicos com detector de aproximação de veículos;
-Sensores de impacto espalhados em pontos estratégicos da bicicleta com chamada de emergência e localização;
-Sensor de batimento cardíaco com dados coletados durante o trajeto;
- Trava especial antifurto no cubo e na coroa da bicicleta e travamento em cercas ou postes na falta de bicicletários;
-Sistema de GPS integrado;
-Lanterna frontal;
-Sensor de tempo, distância e velocidade;
-Gerador de energia acoplado;
-Iluminação por leds nas rodas.
SERVIÇO:
Para contribuir com os estudantes, você pode acessar a página do Facebook “Nossa Bike” ou ligar para os seguintes números:
(31) 97528-2462, 99773-2429, 9972-1478, 99606-6983 ou 99617-8607