Exemplo de pai e empreendedor

Entrevista - OCTACÍLIO PACHECO

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Criado em 13 de Agosto de 2014 Conversa Refinada

Fotos: Müller Mirandaa

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Homem de pulso firme, sério, modesto e que não gosta de aparecer. Octacílio Abner Miranda Pacheco, 52, o “Cabralzinho”, é um empresário bem-sucedido do setor de transportes e pai presente que sempre fez questão de reunir a família à mesa. Generoso, há três anos ele apoia a Associação Mineira de Desenvolvimento Humano (ADMH), projeto de futebol do qual o filho é o treinador

Renata Nunes

O senhor nasceu onde?

Em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Saí de lá aos 22 anos, para trabalhar com meu pai (Octacílio, conhecido como Cabral), que veio para Betim em 1977, para trabalhar com transporte de veículos em cegonheiras. Nes­sa época, fiquei em Petrópolis atuando em outra área, por causa da minha namorada. Quando tive condições, nós nos casamos e nos mudamos para Betim, 30 anos atrás.

Então, o senhor sempre atuou no ramo de transporte?

Meu pai sempre trabalhou com isso e eu sempre fui apaixonado pelo ramo. Mas, no início, dirigi caminhão por cerca de um ano. Foi um período de aprendizagem. De­pois, vi que realmente não queria o dia a dia da estrada. Decidi continuar na área, mas ficar longe de casa e dirigindo horas a fio é uma rotina muito pesada. Não queria isso para mim. Então fui trabalhando com meu pai até conseguir comprar o meu ca­minhão. Aí o negócio foi seguindo. Hoje, meu pai tem a empresa dele e eu tenho a minha. Prestamos serviços para a Sada Transporte e só dividimos o pátio onde os nossos caminhões ficam estacionados.

Antes disso, trabalhou em outra área?

Comecei a trabalhar aos 15 anos, em uma empresa de torrefação de café, em Petrópo­lis. Iniciei lá como ajudante de limpeza, de­pois, passei a gerenciar o depósito, quando eu tinha 17 anos, mais ou menos. Já bem jo­vem, eu gerenciava os vendedores. Quando faltava um, eu o substituía. Realizava várias atividades na empresa, inclusive, atuei na distribuição e na venda de café.

Como conheceu sua esposa?

A Luciana também é de Petrópolis e foi minha primeira namorada. Nós nos conhecemos na infância e somos casados há 30 anos.

Quantos filhos vocês têm?

Três. A Helena, 28, a Nathalia, 25, e o Frederico, 22. Todos fizeram faculdade. O analfabeto lá de casa sou eu. Não comple­tei o ensino médio. Estudei até o primeiro ano desse segmento, junto ao curso téc­nico de contabilidade. Conquistei a expe­riência e conhecimento da profissão, na prática do dia a dia.

Tem netos?

Sim, o Davi, que tem 1 ano e 4 meses. O primeiro netinho, né? É aquele orgulho.

Por ter iniciado a vida profissional muito novo, o senhor sempre incentivou seus filhos a buscar o próprio caminho, a con­quistar tudo com o próprio esforço?

Tento endurecer, não dar tudo à mão, mas pai acaba cedendo. Porém, sempre tento mostrar a eles o caminho certo, incentivando-os a trabalhar e a conquistar o espaço deles sozinhos.

O senhor foi presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais durante 11 anos. Como foi essa experiência?

Fiquei no sindicato por dois mandatos: um de quatro anos e outro de três. Nun­ca almejei ser presidente de lá. Na época, entrei porque precisavam de alguém e me indicaram para o cargo. A princípio, eu não queria de jeito nenhum. Quem mais me impulsionou e me incentivou foram o Carlos Roesel, que hoje é o presidente, e o Edson Gomes, que foi vice-presidente. Mas o sindicato realmente precisava de alguém para comandá-lo. A categoria esta­va um pouco abandonada, sem uma pes­soa para trilhar o caminho correto. Valeu a pena, não me arrependo. Amadureci muito, como pessoa e profissionalmente. Aprendi a ser um mediador, convivi com várias pessoas e opiniões divergentes. Isso me fez crescer muito. Ser presidente do sindicato me ensinou a ser mais pondera­do. Antes, eu era muito explosivo. No pri­meiro ano foi difícil, mas fui me moldando e depois de 11 anos mudei meu jeito. Foi uma época que me marcou muito. Qual­quer pessoa que esteja à frente de um sindicato, se tiver a seriedade de que está ali para fazer progresso, tem de ser respei­tada, porque não é fácil ser um mediador.

Acredita que, ao se envolver com um sin­dicato, a pessoa acaba se tornando um político?

Sim, porque se aprende muito. E se a pessoa tiver a veia política, com certeza, pode se candidatar a um cargo público. Eu nunca pensei e não penso nisso. Acho a política muito complicada.

Mesmo com tantas atividades à frente do sindicato, o senhor era um pai e um marido presente?

Sempre busquei estar próximo da mi­nha família. De manhã, eu sempre levava os meus filhos à escola e fazia questão de buscá-los e de almoçar com eles, todos os dias. Raramente, eu deixava de ficar com eles para almoçar no sindicato, por exem­plo. Quando não podia, minha mulher ia. Fazia isso com eles porque eu não tive essa convivência. Meu pai vivia na estrada, não era muito presente, e a minha mãe tinha de nos criar. Na minha cabeça, se eu pudesse fazer pelo menos isso, estaria sendo um pai mais presente. Desejei ser diferente daquele pai que, muito traba­lhador, sai cedo de casa e só volta à noite, e não pode acompanhar o desenrolar de questões da família durante o dia. Acho que foi muito bom ter feito isso .

A família é primordial para o senhor?

Minha família representa tudo para mim. Vivo por eles. Se não fosse minha mulher e meus filhos, eu não sei o que seria de mim, principalmente, nesses 11 anos de dificuldade que passei à frente do Sindicato dos Cegonheiros. Eles que me davam força. Minha mulher foi muito compreensiva nesses anos todos. Ela não queria que eu assumisse o sindicato, mas sempre me apoiou e entendia minha de­cisão. Nessa época, eu chegava em casa com a cabeça cheia, repleto de proble­mas. Querendo ou não, acabava passando alguma coisa para a família.

E como é o “Cabralzinho” empresário?

Sou muito comprometido com meu trabalho. Não me considero uma pessoa rica, mas que conseguiu alguma coisa com o fruto de muito esforço e trabalho. Desejo sempre preservar isso, pois sei o quanto foi difícil chegar até aqui.

O que gosta de fazer nas horas vagas?

No passado, gostava de jogar futebol, mas hoje não jogo mais por problemas no joelho. O único esporte que pratico é a cami­nhada. Também gosto de ficar em casa nos fins de semana, fazer meu churrasquinho com a família. Gosto muito de futebol. Sou cruzeirense doente, assisto a muitos jogos, acompanho programas esportivos. Isso para mim é um hobby. Ia muito ao estádio do Mi­neirão, mas tem muito tempo que não vou.

Como é seu envolvimento com a AMDH, associação que desenvolve um projeto de futebol?

Comecei a ajudar a associação por intermédio do meu filho, Frederico, que começou a trabalhar no projeto. Não vou ser demagogo, apoiei, primeiramente, porque meu filho trabalha com futebol, é treinador, e filho temos sempre de apoiar. Depois, comecei a acompanhar o proje­to e percebi que o trabalho desenvolvi­do lá é muito bacana. Estamos ajudando a alimentar os sonhos desses garotos. A AMDH ajuda meninos de Minas Gerais e de todos os lugares do Brasil, que vêm para cá tentar a sorte no futebol.

A associação recebe e forma esses atletas?

Sim. De lá, pode surgir até um jogador de seleção brasileira. O projeto começou em 2011, por iniciativa do coordenador, Fernando. Já temos três ou quatro atletas que saíram da associação e têm contra­tos profissionais com clubes de futebol, como Cruzeiro e Atlético. Procuro ajudar a associação no que posso. Não tenho é como me aprofundar muito sobre o as­sunto, porque não participo do dia a dia da AMDH.

O projeto tem o apoio da prefeitura?

Nenhum. No segundo ano de existên­cia, a AMDH fez uma parceria com o Be­tim Esporte Clube, mas o time foi embora da cidade e a parceria acabou. É uma luta para conseguir patrocinadores. Mesmo assim, a associação sempre disputa tor­neios em nível estadual e se classifica em boas posições. Eu tento ajudar a AMDH desde o início. Por exemplo, indico conta­tos que tenho para conseguirem patrocí­nio para o projeto não parar. Acho muito interessante e importante esse trabalho de formação de atletas para, no futuro, tentar encaixar esses meninos em um time profissional e oferecer a eles uma vida melhor, o que é muito difícil. Uma cidade como Betim precisa disso.

É religioso?

Para ser sincero, não sigo nenhuma re­ligião, mas tenho muita fé em Deus. Toda a família da minha mãe é evangélica e a do meu pai é católica. Até os 15 anos, acom­panhei a minha mãe nos cultos. Não sou daqueles que vai à igreja todos os domin­gos, mas, de vez em quando, vou à igreja católica onde me casei. Mas também fre­quento a Igreja Batista. Porém, indepen­dentemente da religião, me apego muito à fé em Deus.

Algum projeto que ainda não tenha re­alizado?

Estou tentando conseguir patrocínio para revitalizar o campo de futebol que era do Vera Cruz, aqui de Betim, para que os atletas da AMDH possam treinar e jogar. Os jogos da associação não são realizados na cidade porque não temos nenhum espaço no município para isso, nem apoio do go­verno municipal. O time tem de jogar em Florestal. Lá, o prefeito nos apoia. É uma cidade pequena, mas que tem feito de tudo para atender ao time. 




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