Faxina contra os peçonhentos

Verão também é tempo de redobrar cuidados em casa para evitar animais cujas picadas podem provocar problemas graves de saúde e mesmo levar à morte.

Criado em 21 de Fevereiro de 2019 Saúde e Vida
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UMA SIMPLES PICADA NO tornozelo levou a estudante Ingred Custódio, de 26 anos, a um atendimento de urgência no Hospital
de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, em dezembro do ano passado. O acidente com uma aranha marrom
na casa da avô, no bairro Jardim das Altersoas, em Betim, na região metropolitana da capital, provocou dor intensa, inchaço
e um princípio de necrose no local onde o animal picou. Ela é uma das 2.146 pessoas que tiveram de ser atendidas na
unidade em 2018 por contato com animais peçonhentos. Em todo o Estado, foram registrados 51.611 casos no ano passado,
dos quais 82 resultaram em óbitos.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), o verão é o período que exige mais cuidado das pessoas, já que o clima quente e úmido é favorável à reprodução desse tipo de bicho. A referência técnica do Programa de Vigilância e Controle dos Acidentes por Animais Peçonhentos da secretaria, Andreia Santos, explica que, além da característica climática, Minas Gerais tem uma vegetação diversificada, o que contribui para a aparição dos animais peçonhentos.
Os mais comuns são os escorpiões, que se multiplicam rapidamente nesta época do ano. “Principalmente, a espécie amarela, que não tem o macho. É só a fêmea, e ela se reproduz por partenogênese, que significa que, a cada vez que se divide, pode ter até 20 filhotes. Esses animais já são peçonhentos desde o nascimento”, detalha.
Menos comuns, porém mais perigosas, as cobras também representam um risco no período quente, especialmente no campo e nas zonas rurais. Segundo Andreia, as serpentes adaptam a temperatura corporal ao ambiente. Por isso, com o tempo quente, elas saem mais para outros locais a fim de se refrescarem.
As lagartas também costumam provocar muitas vítimas, em especial a lonômia, de cor verde com “espinhos” no corpo. São semelhantes a um pinheiro de Natal. “Elas andam sempre em grupo. No verão, crescem e, no outono, fazem a crisálida – popularmente chamada de casulo – para se transformarem em mariposas no inverno”, diz. Elas são encontradas próximo a árvores, gramas e jardins, e a maioria dos acidentes ocorre quando a pessoa encosta-se na lagarta.
 
Família segue orientações médicas, como manter o quintal sempre limpo, para evitar o retorno dos peçonhentos
 
LIMPEZA GERAL
A enfermeira Idelene Alves, de 40 anos, passou um sufoco quando se mudou com o marido e os filhos para a casa nova, há cerca de três anos, no bairro Novo Guarujá, em Betim. O local estava com entulho em excesso no quintal e infestado por escorpiões. Em menos de duas semanas, eles encontraram 22 desses animais espalhados pela casa. “Era uma coisa absurda. Nossa maior preocupação era com nossos três filhos pequenos”, conta. Na época, foi necessário um mutirão para a retirada dos entulhos e a limpeza total do quintal. Todo cuidado valeu a pena, segundo Idelene. “Acabamos com a fonte, mantemos o quintal sempre limpo e, desde então, não tivemos mais problemas”, relata.
 
Atendimento deve ser rápido
 
Independentemente do tipo de animal com o qual a pessoa se acidentou, ela deve buscar atendimento médico o quanto antes. Os sintomas provocados pelo veneno podem variar entre inchaço, dor, necroses e reações alérgicas graves ou ainda afetar sistemas importantes do corpo humano, como o nervoso central (em casos de acidentes com cobra cascavel, por exemplo), levando à morte.
De acordo com o médico e coordenador da Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII, Adebal de Andrade Filho, crianças menores de 7 anos e idosos devem ter cuidados redobrados, pois os efeitos nessas pessoas podem ser mais graves. “Recomendamos aos pacientes que procurem o pronto-atendimento mais próximo. Isso porque o veneno de alguns animais se instala rapidamente, e a pessoa tem tempo curto”, orienta. Em casos mais graves, a equipe médica pode pedir transferência para o João XXIII, que é referência nesse tipo de atendimento em Minas.
 
Foi lá que a estudante Ingred, citada no início da matéria, foi atendida. “No João XVIII, eles fizeram uma pequena cirurgia para limpar o local do ferimento. Tive sorte, pois, como causa necrose onde a aranha pica, o dano poderia ter sido mais grave”, lembra.
A Prefeitura de Betim orienta os moradores a procurarem uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) mais próxima, o Hospital Público Regional de Betim ou o Hospital Orestes Diniz (na Colônia Santa Isabel). “Betim está estudando e fazendo fluxos de assistência junto ao João XXIII para que, no futuro, tenhamos um centro de referência”, destacou o diretor de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Nilvan Baeta. Em 2018, foram registrados na cidade 315 acidentes com animais peçonhentos, sendo 139 com escorpiões.

 




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