Francisco, o papa dos pobres
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Criado em 14 de Maio de 2013
Comportamento
Por Lucas Fortunato Carneiro*
Assim, atos, gestos e ações muitos simples, mas significativos, apresentam quem é o novo papa, um homem que veio dos “confins do mundo” – como ele mesmo diz –, que saiu da periferia política e social do planeta, mais especificamente, da América Latina
A sociedade assistiu, após a morte do papa João Paulo II, à eleição do papa Bento XVI. Recentemente, também presenciou a renúncia de Bento XVI, uma atitude que apresenta ao mundo, além de um gesto de humildade e reconhecimento das fraquezas vindas de um líder, uma lição para a humanidade que acredita e segue somente os mais fortes e mais ricos. Agora, assistimos à eleição de Jorge Mario Bergoglio, o 266º papa da Igreja Católica.
Francisco é um papa simples, que visita os presidiários, lava e beija os pés de homens e mulheres sem distinção. Busca uma Igreja seguidora do Cristo pobre e crucificado, e não uma organização não governamental (ONG) piedosa. Ele quer dar valor aos pobres, independentemente da religião e, até mesmo, aos que são ateus, porque são todos filhos de Deus. Ele é um papa surpreendente em cada ação, que não dá valor ao dinheiro, às riquezas, às ostentações e valoriza as pessoas e a criação.
Em sua eleição, o cardeal Bergoglio escutou um pedido do cardeal brasileiro Cláudio Humes: “Não se esqueça dos pobres”. Dessa forma, surge no coração do novo papa a inspiração, um sopro do Espírito Santo, ou, podemos dizer, uma tomada de consciência da verdadeira realidade do mundo. Vem, então, em sua mente: São Francisco de Assis, o santo dos pobres.
São Francisco de Assis é mais que uma simples devoção católica, significa um modo de vida, um jeito diferente de relacionar-se com a natureza e com as pessoas. Ele muda o seu centro existencial, sai da riqueza para viver com “a pobreza”. O santo de Assis usa de um termo que hoje faz falta em nossas relações: “a compaixão”.
Fernando Pessoa (1888-1938) afirmou: “A única atitude intelectual digna de uma criatura superior é a de uma calma e fria compaixão por tudo quanto não é ele próprio. Não que essa atitude tenha o mínimo cunho de justa e verdadeira; mas é tão invejável que é preciso tê-la”. O papa Francisco usa da palavra compaixão várias vezes. Isso é de suma importância para o início de um programa de vida e do governo de uma instituição como a Igreja Católica.
Assim, atos, gestos e ações muitos simples, mas significativos, apresentam quem é o novo papa, um homem que veio dos “confins do mundo” – como ele mesmo diz –, que saiu da periferia política e social do planeta, mais especificamente, da América Latina, para ensinar a todos que a compaixão, o estar com o outro em seus sofrimentos e realidades, é uma das poucas possibilidades que temos para nos convertermos em seres humanos melhores, com mais qualidade de relação e de compreensão da realidade.
Francisco é um papa sem luxos, que preza o contato e o olhar nos olhos. É um papa capaz de perceber o outro, que é treinado nas sofridas vilas argentinas e refinado na experiente e surpreende escola jesuíta. Ele nutre em seu coração a mesma ternura e vigor de São Francisco de Assis. É um homem que testemunha “que o amor tem razões que a própria razão desconhece”, Pascal (1623-1662).
*Educador, graduado em filosofia pela PUC Minas, graduando em teologia e pós-graduando em psicopedagogia pela Fumec - [email protected]