Gostoso, de baixa caloria e lucrativa
Negócios: Tapioca
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Criado em 19 de Maio de 2015
Negócios
Fotos: Samuel Gê
Herança dos povos indígenas, a tapioca atravessou as fronteiras culturais do Nordeste e ganhou espaço na mesa dos brasileiros
Amanda Aleixo e Daniele Marzano
RECOMENDADA POR VÁRIOS NUTRICIONISTAS por não conter glúten e apresentar baixa caloria, a tapioca já é sucesso entre os mineiros. Feita da goma da mandioca, o trigo sertanejo – conhecido como beiju–, é a melhor opção para substituir o pão na hora do café da manhã. No bairro Floresta, por exemplo, quando o dia começa a raiar, já se encontra grande movimento na Casa da Tapioca. A pequena lanchonete, localizada na rua Porto Alegre, número 1.106, é de Marlene América, que veio de Bandeira, Vale do Jequitinhonha, para conquistar o paladar dos belo-horizontinos com sua tapioca. Ela conta que, dos 150 recheios presentes no cardápio, os que fazem mais sucesso são os de carne de sol com manteiga de garrafa e de frango desfiado, além, é claro, dos bolos e biscoitos de tapioca, receita de sua terra natal, de onde traz a matéria-prima do negócio.
Marlene conta que estabelecer a pequena lanchonete antes da “febre da tapioca” não foi tarefa fácil. “Até as pessoas descobrirem que o beiju não engordava, eu vendia 3 ou 4 unidades por dia. Hoje, eu até perco a conta”, diz, satisfeita. Pioneira na cidade, Marlene relembra quando decidiu abrir a Casa. “Eu procurei goma de tapioca nesta cidade inteira e não achei. Pensei que seria uma boa ideia trazer um pouco do Nordeste para cá, e deu muito certo. Já estou planejando mudar para uma loja maior”, adianta.
A verdade é que esse cenário mudou radicalmente de uns tempos para cá. Quando não encontra lanchonetes como a de Marlene em BH, o mineiro pode correr até o supermercado e comprar a goma hidratada da tapioca. Em casa, é só colocar a farinha para aquecer na frigideira e soltar a imaginação com os recheios.
E foi unindo criatividade com tradição que o bifê Célia Soutto Mayor deixou o prato requintado. A diretora, Patrícia Soutto, revela que resolveu colocar a tapioca no cardápio porque ela faz parte de uma culinária muito voltada para a valorização do que é da própria terra, e isso sempre tem grande aceitação entre os clientes. “Eles gostam de que o cardápio seja gourmet e agrade a seus convidados, mas isso não significa que os ingredientes tenham que ser de outra cozinha”, pontua. Prova disso são as escolhas feitas, desde sabores que lembram as férias nordestinas – leite condensado e coco –, até aqueles que se aproximam das opções gourmet mesmo, como camarão à putanesca e pernil com cheddar. Nos casamentos e em eventos empresariais, o beiju faz o maior sucesso. “Deixamos um profissional por conta dos pedidos dos convidados. Ele os anota e faz a tapioca na hora, ao vivo”, explica a empresária.
Toda essa “febre da tapioca” vai muito além da procura do produto por pessoas que se preocupam com uma boa alimentação. Segundo o estudo do Sistema Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as tapiocarias fazem parte do chamado mercado de alimentação fora do lar – Food Service. O levantamento de Gouvêa de Souza mostra que, no Brasil, esse segmento cresce a taxas acima de 10% ao ano, confirmando uma tendência de mudança no comportamento das famílias. Na última década, por exemplo, a alimentação fora do lar subiu de 17% para 31,1% nas despesas familiares com alimentação, número mais alto que em muitos países da União Europeia. Trocando em miúdos, além de oferecer vantagens nutricionais, a tapioca também é um bom negócio para quem quer investir. A matéria-prima tem baixo custo, e a margem de lucro é satisfatória.
Depois de muito refletir e estudar sobre o food service no Brasil, o jovem Luciano Neri decidiu abandonar o emprego em uma multinacional para se dedicar ao ramo alimentício. Com o apoio da família, ele abriu a Crepioca – food truck que passa por várias regiões oferecendo crepes e tapiocas – e esbanja satisfação quando fala sobre o negócio. “O ramo alimentício tem uma margem de lucro muito boa. Quem sabe planejar as finanças vai longe”, destaca. A bordo de sua caminhonete adaptada para atender aos clientes, Luciano fatura mais do que quando trabalhava como gestor comercial. O segredo de tudo é inovar e apresentar produtos de ótima qualidade. No Crepioca, segundo ele, as produtos utilizados refletem excelência. Os queijos são trazidos da fazenda de um amigo em São Roque de Minas, a carne é fresca, e a farinha da tapioca vem de um fornecedor mineiro. “Eu compro a farinha, faço a goma e peneiro”, detalha. Outro diferencial de que Luciano não abre mão são os cardápios flutuantes, que ele cria de acordo com a sugestão do cliente. “Percebi que meu público se preocupa muito com a qualidade do que come e se aquilo faz bem ou não para o corpo. Por isso, criei recheios vegetarianos e veganos”. Tamanho cuidado só podia resultar na venda de 400 unidades de tapioca por dia, cujos preços variam entre R$ 5 e R$ 9. Com os sabores de carne seca com cebola confitada, queijo canastra curado com goiabada cascão, chocolate belga com frutas da época e molho picante com carne moída, Luciano garante que faz diferença em relação às tapiocarias da cidade. “Eu quero democratizar o produto com um preço justo e um sabor inigualável”, afirma.
Diferentemente de Luciano, foi por acaso que as tapiocas chegaram à vida do casal Wellington e Cleide, transformando totalmente sua rotina. Proprietários de uma papelaria em Betim, na região metropolitana, num passeio com a família a Aracaju-SE, eles tiveram a ideia de trazer para Minas os sabores típicos do Nordeste. Um ano depois, abriram o Dona Fulô Culinária Nordestina, na rua do Rosário, local que tem ficado conhecido como o “point” de restaurantes da cidade.
Na época, o negócio era algo inovador, diferente de tudo o que o município oferecia na gastronomia. O que Cleide e Wellington não poderiam imaginar é que a prosperidade de seu negócio iria coincidir com a “febre das tapiocas” algum tempo depois. Funcionando de segunda a sábado, o restaurante nordestino fica cheio todos os dias. E um dos pratos que mais fazem sucesso entre os clientes são mesmo as tapiocas. Prova disso é que, a partir de maio, elas ganham versões diet, atendendo a pedidos. De acordo com a proprietária, a razão de existir de um restaurante deve ser proporcionar prazer ao cliente pelo sabor e pela qualidade dos pratos, o que ela garante em seu cardápio. “Eu vou para a cozinha, a todo momento, confeccionar e experimentar a comida. Com isso, a qualidade se mantém. Sou a maior crítica de meu negócio. Além disso, sempre vou às mesas para ouvir a opinião dos clientes, pois a consultoria que precisamos vem deles", ressalta Cleide, que se diz realizada com a casa e adianta que, em breve, formatará a marca em sistema de franquias. Portanto, quem tiver interesse em se tornar um empresário de sucesso, assim como Cleide e Wellington, já pode ir se preparando. Já para quem gosta apenas de apreciar e conhecer delícias da culinária é só ficar atento para os novos endereços que virão.
ONDE COMER
Em Betim
Dona Fulô Culinária Nordestina
(rua do Rosário, 525, Centro)
Em BH
Pedaço da Bahia
(rua Ilha de Malta, 432, São Gabriel)
Rei da Tapioca (rua Sergipe,
1.437, Savassi)
Casa da Tapioca
(rua Pouso Alegre, 1.106, Floresta)
Tapioca Irmãos/Carrinho da Tapioca
(avenida Augusto de Lima, próximo ao Fórum Lafayete,
Barro Preto; Feira Hippie (rua Alagoas, esquina com Afonso Pena)
Café Gonçalves
(rua Gonçalves Dias, 154, Funcionários)
Bifê Célia Soutto Mayor
(rua Marabá, 99, Santo Antônio)
Crepioca
(food truck - itinerante - http://www.crepioca.com)